Maior unidade de conservação de caatinga do Nordeste, em Aiuaba, ainda é pouco aproveitada

O decreto de reconhecimento da Estação Ecológica completou 20 anos em fevereiro. Apesar de rica biodiversidade, até mesmo as escolas do município visitam pouco a área

Com mais de 11 mil hectares, a Estação Ecológica (Esec) de Aiuaba, no município homônimo, é a maior unidade de conservação do bioma caatinga no Nordeste. Apesar de sua desapropriação ter ocorrido em 1978, seu decreto de criação aconteceu em fevereiro de 2001. Mantendo uma diversidade de espécies de animais e de plantas preservados, o espaço ainda é pouco conhecido pela comunidade local como um importante instrumento de educação ambiental para o Sertão dos Inhamuns.

Como Unidade de Proteção Integral, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) classifica as estações ecológicas com áreas de preservação da natureza e de pesquisas científicas. Nelas, não são permitidas a apropriação particular de qualquer área e a visitação pública só é permitida para fins educacionais, seguindo um regulamento específico.  

A pesquisa científica na área depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade, neste caso, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Alterações no ecossistema só são permitidas se visarem a restaurar ambientes modificados, manejar espécies com o fim de preservar a diversidade biológica ou para coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas. 

Chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio no Araripe, Carlos Augusto Pinheiro, explica que, no caso da Estação Ecológica de Aiuaba, as visitas são feitas por agendamento, atendendo atividades escolares e pesquisadores. Contudo, apesar de rica biodiversidade, o local recebe um número reduzido de pessoas, mesmo antes da chegada da pandemia da Covid-19. 

Baixa procura 

Em 2019, o ICMBio estima ter acolhido 30 visitantes, entre pesquisadores e estudantes de escolas do Município. Já no ano passado, este número caiu para cinco pessoas. Por um período de aproximadamente quatro meses, o ingresso ao local esteve suspenso. “Tivemos que restringir a pequenos grupos pelas condições da pandemia”, admite Carlos.  

Apesar de os números de 2021 ainda não terem sido contabilizados, não tem sido diferente do ano anterior. Porém, os agendamentos estão abertos pelo ICMBio através de e-mail.

Nossa reportagem tentou contato com a Secretaria de Educação de Aiuaba para saber se há projetos e ações nas escolas que estimulam a ida até a Unidade de Conservação, mas não tivemos retorno até a publicação desta matéria. 

Importância

Com um total de 11.525 hectares, a área é mantida protegida desde o dia 16 de janeiro de 1978, quando foi declarada utilidade pública pela antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente, que integrava o extinto Ministério do Interior.

Porém, foi sua efetivação como estação ecológica, em 2001, que o tornou instrumento para reduzir a caça a animais selvagens. Inclusive, em seus laboratórios mantém, para fins de pesquisa, armadilhas e peles de animais apreendidas há alguns anos, quando eram comercializados. Outra importante atividade é manutenção de um viveiro de mudas de espécies nativas. 

A partir deste trabalho de mais de quatro décadas, Carlos Augusto acredita a maior relevância desta unidade é sua amostragem significativa do bioma da Caatinga. “Uma riqueza arbórea e sub-arbórea densa, entre elas a braúna, aroeira, angico, e uma diversidade de animais, como répteis em geral”, descreve.  

Professor de Zoologia da Universidade Regional do Cariri (Urca), doutorando em Sistemática, o biólogo Charles de Sousa observa que a caatinga tem sido constantemente afetada por diversas ações humanas. Ainda assim, ressalta que o Ceará mantém 52 unidades de conservação, entre proteção integral e uso sustentável deste bioma.

No objetivo de manutenção dos ecossistemas livres de impactos humanos, a Esec de Aiuaba assume esse papel importante para preservação da biodiversidade e realização de diversas pesquisas científicas"
Charles de Sousa
Biólogo

Somando dois anos de pesquisa naquela área, Charles enumera uma “lista extensa” de animais que podem ser encontradas ali. Para vertebrados, contabiliza 15 espécies de peixes, 20 de anfíbios, 33 de répteis (lagartos, serpentes anfisbenas e quelônios), 126 de aves e 48 de mamíferos.

Em relação aos grupos de invertebrados, somam cerca de 92 espécies. “Com o incentivo de mais pesquisas científicas esses números aumentariam facilmente”, acredita o biólogo.  

Sensibilizando a comunidade

O pesquisador também crê que a Esec de Aiuaba oferece um ambiente favorável para trabalhar a educação ambiental e a sensibilização da comunidade sobre a importância de preservar tais ambientes.

“Permite que as pessoas tenham conhecimento dos diversos serviços ecossistêmicos prestados por essa unidade de conservação e benefícios que é capaz de nos trazer”, completa.  

Na avaliação do biólogo, os estigmas que apontam a caatinga como um local pobre e de baixa diversidade têm ficado, cada vez mais, no passado por conta das pesquisas realizadas em diferentes locais do Semiárido.

“As pessoas, primeiro, precisam compreender aquilo que as cercam. É muito difícil falar de conservação sem que elas entendam o porquê e a importância disso para suas vidas. Acredito que devemos começar do básico: educação ambiental nas escolas, visitas guiadas por esses ambientes. Sempre demonstrando a importância e a diversidade do local. Para conservar, é preciso conhecer e para conhecer precisamos conservar”, finaliza Charles.