Iminente colapso de leitos de UTI no Sul do Ceará preocupa autoridades

Neste fim de semana, Juazeiro do Norte, Iguatu e Icó chegaram a esgotar suas vagas nas Unidades de Terapia Intensiva. Porém, diante do fluxo dinâmico, há vagas atualmente, embora poucas, frente ao número de infectados pela Covid

O crescimento dos casos da Covid-19 no Sul do Estado fez o sistema de atendimento intensivo atingir sua ocupação máxima no último fim de semana na região Centro-Sul, responsável pela assistência médica de mais de 20 municípios cuja população estimada é superior a 500 mil pessoas. Para este contingente, a região dispõe de 30 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS). Vinte em dois hospitais de Iguatu - Hospital Regional e São Vicente, com dez leitos cada - e outras 10 no Hospital Regional de Icó.

Entre sábado (20) e domingo (21), o sistema de saúde colapsou. Não havia vagas disponíveis. No entanto, como o fluxo de pacientes internados é dinâmico, existindo alta médica e óbitos, este cenário pode variar, como aconteceu ontem, com a disponibilidade de três vagas em Iguatu. Icó segue com ocupação máxima. "O que ocorreu no fim de semana é um alerta", adverte o secretário da Saúde de Iguatu, Georgy Xavier.

O presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, relata que no último sábado, ele, que é prefeito de Cedro, tentou encontrar uma vaga de UTI para um paciente grave de seu Município e quase não obteve sucesso. "Foi um desespero. Busquei vaga em Iguatu, Icó e em Juazeiro do Norte e só consegui em Brejo Santo, distante 160 quilômetros", relatou. "Um paciente grave não suporta longas transferências, para Fortaleza, que agora tem leitos de UTI desocupados".

Macrorregião

Essa busca, igualmente frustrante, em Juazeiro do Norte, reflete um problema ainda mais grave. A taxa de ocupação dos leitos da macrorregião do Cariri, que aglutina Iguatu, Icó e demais cidades do Sul, como Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, também está elevada. No Hospital Regional do Cariri (HRC), as 60 vagas de UTI estavam todas ocupadas neste fim de semana - agora seis estão disponíveis. Ou seja, as unidades de saúde que poderiam atender pacientes de cidades que não contam com UTIs ou que os leitos estejam ocupadas, estão comprometidas.

Há cerca de um mês, o número de vagas no Sul do Estado era considerado "confortável". A taxa de ocupação não ultrapassava a marca dos 70%. Essa realidade, entretanto, mudou neste mês de junho. Somente em Juazeiro do Norte, maior Município do interior, o crescimento dos casos do novo coronavírus foi de 358% nos primeiros 22 dias deste mês, chegando a 1.785, conforme a Secretaria da Saúde do Município. O salto, replicado também em outras cidades do Sul, como em Iguatu (199%), impacta diretamente na ocupação dos leitos e causa preocupação.

A taxa de transmissão na macrorregião do Cariri é, segundo o IntegraSUS, plataforma de dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), a maior do Ceará. Considerada de "alta transmissão", a média chega a 1,02, o que aponta para uma maior circulação do vírus. Já a taxa de letalidade (4,02) só fica atrás para a taxa de Fortaleza (7,74).

Para Nilson Diniz, essa curva ascendente, a qual a Aprece "já vinha chamando a atenção", era prevista, mas somente para o fim do mês. "Houve uma antecipação em pelo menos dez dias e infelizmente a tendência é de continuação no aumento dos casos". A preocupação, ainda segundo o representante da Aprece, é acentuada devido "a estrutura limitada de saúde do interior", evidenciada neste fim de semana com o colapso dos principais hospitais.

Investimento

A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Sayonara Moura Cidade, também externa preocupação com a onda de crescimento nos casos do novo coronavírus e o consequente estrangulamento do sistema de saúde. Ela antecipou que o Cosems vai pleitear "reforço e ampliação da estrutura de atendimento nas cidades do interior à Secretaria da Saúde do Estado". Segundo sua avaliação, "os municípios precisam de mais apoio do Estado". Nilson Diniz ressaltou que a Aprece também entrará com solicitação, junto ao governo do Estado, "para reforço nos leitos".

O prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio, disse que, mesmo diante da estabilização nos casos na Capital cearense e tendência de queda, o Hospital de Campanha do Estádio Presidente Vargas ficará montado para ampliar a oferta de vagas. "Podemos receber pacientes do interior", disse.