A pandemia da Covid-19, no Ceará, tem apresentado linear queda dos indicadores nos últimos meses, tanto nos óbitos, quanto nas novas infecções.
No entanto, apesar do atual cenário de aparente controle - em que pese a preocupação advinda da nova variante Ômicron no fim de novembro - o período de janeiro a novembro de 2021 registrou mais casos e mortes se comparado a todo o ano de 2020 na maioria das cidades cearenses.
Levantamento realizado com exclusividade pelo Diário do Nordeste mostra que 82% dos municípios tiveram mais óbitos por decorrência da Covid-19 ao longo deste ano. No entanto, a maior parte das mortes ocorreu no início do ano, quando havia pequeno percentual de vacinados contra a doença.
Quando se observa o comparativo das infecções, o percentual sobe ainda mais: 93,47% das cidades do Estado tiveram mais casos em 2021 se comparado aos doze meses do ano passado.
Os dados foram extraídos da plataforma IntegraSus, da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado. Os números deste ano referem-se até o dia 1º de dezembro.
O médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, explica que esse cenário deve-se à força da segunda onda, com pico registrado entre os meses de abril e maio.
Mortes por Covid-19
Dentre as 151 cidades com mais óbitos por decorrência do novo coronavírus, algumas se destacam negativamente com aumentos expressivos.
Em termos percentuais, o maior crescimento no número de óbitos de um ano para outro foi em Antonina do Norte. Em 2020, foram duas mortes por decorrência do vírus SARS-Cov-2 e, ao longo dos 11 meses deste ano, já são 24.
No município de Fortim, o aumento registrado foi de 733%, saindo de três óbitos em 2020 para 25 pessoas que perderam a vida neste ano. Já em números absolutos, o aumento mais significante foi na cidade de Fortaleza - também a mais populosa do Estado - , passando de 4.731 mortes em 2020 para 5.156 neste ano.
No lado oposto, estão 29 cidades (15%) em que o número de mortes por Covid-19 neste ano não supera o ano de 2020. O município de Graça possui a maior queda percentual neste ínterim. No ano passado, foram 15 óbitos e, neste, apenas 4, uma redução de 73%.
Outras quatro cidades (Umari, Juazeiro do Norte, Ipu, Granjeiro) tiveram igual número de mortes por Covid-19 em ambos os anos.
Infecções
Já no universo dos 172 municípios com mais casos nesses 11 meses em comparação a todo o ano de 2020, os destaques negativos ficam novamente com Fortim, cujo crescimento de um ano para o outro foi de 925%; Penaforte, que teve aumento de 777%; e Arneiroz (747%). Fortim é, inclusive, o único município que aparece na parte superior de ambos os comparativos.
A reportagem tentou contato com a Secretaria da Saúde do Município, mas as ligações não foram atendidas.
Em cenário oposto, está Itarema, com queda de 30% dos casos de infecção, seguido por Juazeiro do Norte (15%). No ano passado, a cidade Caririense chegou a ser o epicentro da doença. Confira a lista das cidades que tiveram redução nas infecções neste ano de 2021:
- Marangupe, Juazeiro do Norte, Ipu, Itarema, Frecheirinha, Ereré, Crateús, Coreaú, Caririaçu, Chaval, Acaraú e Acarape
Consequência da segunda onda
O especialista Ivo Castelo Branco detalha que uma combinação de fatores potencializou o crescimento dos indicadores. Primeiro, as festas de fim de ano somadas ao pleito eleitoral ocorrido em outubro de 2020. Essa onda de aglomeração, junto à indisponibilidade da vacinação para a maioria das pessoas no começo do ano, resultou em uma nova onda da pandemia.
"Quando se relaxa, sem existir vacinação em massa, os casos naturalmente crescem. E, como mais casos, a tendência é que exista mais mortes", detalhou o médico infectologista. A medida em que o processo de imunização foi avançando no Ceará, o especialista lembra que os casos de mortes começaram a desacelerar.
“Se dividirmos o ano em dois, veremos que a segunda parte, a que estamos agora, tem consideravelmente menos óbitos. Mas, não quer dizer que a pandemia esteja controlada. Precisamos avançar ainda mais na vacinação e manter os cuidados para que em 2022 não tenhamos um replay do que foi no início deste ano”, destacou.
Alerta constante
O alerta do infectologista se faz ainda mais evidente frente a nova variante Ômicron. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa variante representa um “risco muito alto” para o mundo, embora não se tenha ainda nenhuma morte vinculada a esta cepa.
Ivo pontua que as "novas variantes surgem com capacidade maior de transmissibilidade" o que aumenta a necessidade de "intensificar o processo de imunização e manter os cuidados". O médico reforça a necessidade da manutenção do "uso de máscara e distanciamento sempre que possível".
"Não é possível que a gente não aprenda com o nosso passado recente. O começo deste ano é um grande exemplo, não podemos descuidar, a pandemia ainda está viva", conclui o docente e médico, Castelo Branco.