Agricultor se reinventa diante das dificuldades e vira artesão

Autodidata, José Matias previu as dificuldades na lavoura com a seca e migrou do roçado para a zona urbana, onde aprendeu a esculpir peças em madeiras. As obras já foram comercializadas para os Estados Unidos

Na década de 80, o então agricultor José Matias, de 52 anos, acordava cedo para ganhar a vida na lavoura. O trabalho pesado, na roça, começava antes mesmo de o sol aparecer. "Era duro", relembra. Naquela época, o Ceará ainda não tinha experimentado os seguidos anos de estiagem como os vivenciados desde de 2011 até os dias atuais. No entanto, Matias já notava dificuldade em "sustentar a família" com recursos oriundos exclusivamente da colheita. "Tinha alguns anos que não chovia. Aí, nessas épocas, era difícil manter o sustento de casa", conta. José Matias decidiu então sair da zona rural de Ubajara, na região Norte do Estado, para "tentar outro ofício na cidade". Mas trabalhar com o quê? Era a pergunta recorrente que não saía da cabeça do então agricultor de 29 anos.

Matias conta que, na falta de oportunidade no mercado de trabalho, decidiu se aventurar no ramo do artesanato. "No começo, ninguém me apoiou. Nem mesmo minha família ou amigos confiavam em mim. Diziam que eu estava ficando louco", detalha. Com tocos de madeira, José começou a esculpir suas primeiras peças. "Saíram horríveis", reconhece.

Dificuldade

A falta de sucesso com as primeiras peças não tirou o foco do agora artesão José Matias. "Eu sabia que poderia conseguir". Sem curso ou ensinamento de outros artesãos mais experientes da região, Matias diz ter gastado, no início do aprendizado, "entre 8 e 9 horas por dia". "Ninguém me ensinou, fui esculpindo sozinho, e tentando colocar forma na madeira. Era difícil, mas eu sabia que dali surgiria meu sustento". Depois de finalizar as primeiras peças, chegava o momento de colocá-las à venda. "Demorei três anos para vender a primeira", lembra José Matias.

Superação

Durante este hiato, Matias teve dupla dedicação. Se viu obrigado a retornar para o plantio enquanto a venda no artesanato deslanchava. "Não perdi as esperanças". A persistência valeu a pena. Após a primeira venda, as outras vieram com mais celeridade e as produções do artesão começaram a ser reconhecidas.

Algumas delas, inclusive, já atravessaram as fronteiras do país. "Já vendi para os Estado Unidos. Um amigo apresentou meu trabalho para um gringo e ele gostou bastante", conta orgulhoso. A peça, "única", conforme ressalta José, foi vendida, à época, por R$ 3 mil. "Naquele tempo, era muito dinheiro", orgulha-se. A produção do "ciclone do sertão", como fora batizado o artesanato, durou 30 dias.

As peças de Matias estão expostas em seu ateliê, em Ubajara. Atualmente, são mais de 40 unidades, que variam entre R$ 75 e R$ 2.500. "Hoje vivo bem, muito melhor que os tempos de roça", finaliza.