A chegada de 12 prefeitos em pleno exercício do mandato ao PT, nesta quinta-feira (13), reconfigura o equilíbrio de forças no cenário político estadual. Mesmo a nove meses das eleições, e atraindo apenas mandatários de partidos aliados, o movimento representa a primeira demonstração de força da sigla para as eleições deste ano, avaliam analistas políticos e dirigentes do próprio partido.
Em um evento restrito a poucos convidados, a sigla anunciou a chegada de quatro nomes até então do PDT, além de três nomes do PL. Completam a lista prefeitos do PSB, do PCdoB, do Psol e do Republicanos. As filiações alçam a sigla, que atualmente comanda o Governo do Ceará, à segunda maior legenda do Estado em número de municípios.
“Acredito que esse interesse seja porque estamos liderando uma frente antifacista no Brasil, então os prefeitos são os que mais veem a necessidade disso, porque eles estão na ponta, sofrendo com os desmandos desse Governo, sofrendo com a pandemia e com o desmonte das instituições no Brasil”, aponta o presidente estadual da sigla, Antônio Filho, o Conin.
Veja onde estavam os novos filiados do PT
PDT
Campos Sales - João Luiz
General Sampaio - Chico Cordeiro
Ibicuitinga - Franzé Carneiro
Saboeiro - Marcondes Ferraz
PL
Cariús - Wilamar Palacio
Choró - Marcondes Jucá
Santana do Acaraú - Francisco das Chagas Mendes (Meu Deus)
PCdoB
Jaguaruana - Elias do Sargento
PSB
Jardim - Dr. Aniziário Costa
MDB
Penaforte - Dr. Rafael Ferreira
Psol
Potengi - Edson Veriato
Republicanos
Aratuba - Joerly Vitor
Ao todo, petistas passam a dominar 29 prefeituras no Ceará. Apenas o PDT tem uma força maior, com 64 municípios. Os pedetistas, no entando, foram os principais afetados com a articulação, já que quatro nomes deixaram a sigla em direção ao PT.
Outras legendas fortemente afetadas foram o Psol, que perdeu o comando de Potengi, único município onde elegeu prefeito, e o PCdoB, que perdeu a prefeitura de Jaguaruana, uma das três da sigla no Estado.
Redesenho de forças
Para Raulino Pessoa Júnior, doutor em ciência política e professor da pós-graduação de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), as mudanças não necessariamente representam uma “derrota” para os partidos que perderam seus quadros.
“No caso do PDT, por exemplo, é difícil chamar de ‘perda’ de nomes, porque são políticos que permanecem dentro da aliança com o PT. Ainda que nacionalmente Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT) estejam em lados opostos, no Ceará, isso não acontece, é um casamento complicado, mas é um casamento”, avalia.
“O PSB, o PCdoB e o Psol também são partidos em que mantêm uma relação histórica no Ceará com o PT”, acrescenta o pesquisador que estudou as articulações partidárias cearenses para a tese de doutorado.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Guimarães reforça a ideia de manter a aliança entre as duas siglas. “Toda essa movimentação que estamos fazendo está sendo informada à presidente nacional (Gleisi Hoffmann), ao presidente Lula, ao Camilo e está em sintonia com a nossa aliança estratégica com o PDT”, destaca.
Instabilidade no PL
No caso do PL, partido que viu três prefeituras irem para as mãos do PT, a conjuntura é turbulenta. O partido enfrenta um momento de instabilidade desde a chegada do presidente Jair Bolsonaro (PL) à sigla.
No Ceará, a legenda tem em seus quadros nomes de diversos espectros políticos. O vice-presidente do diretório estadual, por exemplo, o deputado federal Júnior Mano, é aliado do governador Camilo Santana (PT), mas mantém diálogo com a base bolsonarista. Já nomes como o deputado federal Dr. Jaziel e a deputada estadual Dra. Silvana são aliados de primeira ordem de Bolsonaro e fazem oposição ao PT.
Atualmente, a presidência da sigla no Estado está nas mãos de Acilon Gonçalves, prefeito do Eusébio e aliado do governador. No entanto, a ala bolsonarista da sigla pressiona para a saída do político.
Essa pressão aumentou ainda mais com a filiação do deputado estadual André Fernandes. O parlamentar é um dos aliados mais próximos ao presidente no Ceará e planeja liderar o partido nas próximas eleições.
Diante deste cenário, três dos 13 prefeitos do PL deixaram a sigla. Conforme o analista político, um eventual mergulho do partido no bolsonarismo pode provocar a saída de mais mandatários da sigla.
Variáveis eleitorais
Para Raulino, é preciso também levar em conta a avaliação de cada prefeito integrado aos quadros do PT. “O peso de cada prefeito varia. Por exemplo, ter em seu partido o prefeito de uma capital não equivale a ter o de uma cidade pequena, por conta da quantidade de eleitores, da magnitude eleitoral”, avalia.
“O que conta também é a avaliação do prefeito. Um prefeito mal avaliado não agrega porque é detestado pela população”, ressalta.
prefeituras são lideradas por petistas no Ceará
Para o pesquisador, o reforço que chega ao partido representa uma demonstração de força da ala liderada pelo deputado federal José Guimarães. O parlamentar é um dos defensores da manutenção da aliança entre PT e PDT no Ceará.
Avaliação semelhante é feita pelo cientista político Josênio Parente, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “O grupo de Ciro e do PT só não está totalmente alinhado no mesmo barco por causa da briga com a ex-prefeita Luizianne Lins. Foi ali que a história teve um desvio”, afirma.
Ele acrescenta que o movimento em direção ao PT é o retrato de um novo momento para o partido, que viu o antipetismo atingir o ápice em 2018 diante da eleição do presidente Jair Bolsonaro.
“A força que o PT perdeu começa a ser recuperada quando a Lava Jato passa por uma desmoralização, na época que conversas entre o juiz Sergio Moro e procuradores foram divulgadas, aquilo desgastou demais. Agora, Lula volta à mentalidade das pessoas trazendo uma recuperação histórica do PT”, conclui.