"Movimento político conservador, fundamentado nos valores cristãos, guiado por entendimentos/valores como a família como alicerce da sociedade, a soberania nacional, a livre iniciativa e a liberdade econômica": essas são as características atribuídas pelo Republicanos ao seu projeto partidário.
Fundada em 2005 como Partido Municipalista Renovador (PMR), a legenda mudou a nomenclatura para Partido Republicano Brasileiro (PRB) no ano seguinte. Foi em 2019 que a agremiação adquiriu a denominação atual, para ajustar o título de forma mais sucinta aos ideais.
Com raiz conservadora e evangélica, a legenda seguiu o caminho da oposição em alguns momentos, mas também esteve na base em Brasília e no Ceará. Hoje, ao nível de Estado e sob direção do empresário Chiquinho Feitosa, o Republicanos integra o bloco governista.
Para entender o novo momento do partido no Ceará e também sobre as estratégias da sigla para as eleições deste ano, o presidente da legenda, Chiquinho, é o convidado desta quinta-feira (8), da Live do PontoPoder.
A entrevista faz parte do projeto "Influências Partidárias", que esmiúça como os partidos cearenses estão se preparando para o processo eleitoral de 2024. Nesta reportagem, que também faz parte da série, o Diário do Nordeste conta a história do Republicanos no Ceará.
Republicanos nacional
Na figura do então vice-presidente da República, José Alencar, o Republicanos compôs a base do primeiro e do segundo Governo Lula (2003-2010), do PT, à época com outra denominação. O posicionamento seguiu com a Gestão Dilma Rousseff (2011-2016), mas se dissolveu no ano do impeachment da presidente. Em 2016, inclusive, a legenda ajudou a derrubá-la no Congresso.
Com o rompimento, passou a integrar a base de Michel Temer (MDB), no mandato-tampão, e do presidente seguinte, Jair Bolsonaro (PL), tendo participado da coligação pela sua reeleição em 2022. Diferentemente do início do século, neste terceiro mandato de Lula no Planalto, o Republicanos afirma que a sua posição é independente, apesar de a sigla chefiar um ministério atualmente.
O deputado federal Sílvio Costa Filho (PE) foi nomeado ministro dos Portos e Aeroportos no lugar de Márcio França (PSB-SP), que foi remanejado para a pasta de Micro e Pequenas Empresas em reforma administrativa. Para isso, o parlamentar teve que se licenciar não só da Câmara Federal, mas também das funções partidárias que ocupava como presidente do diretório estadual em Pernambuco e como primeiro-tesoureiro na Executiva Nacional.
A posição do Republicanos em relação ao Governo Lula III é complexa, já que elegeu uma bancada considerável no Congresso em 2022 pelas bases do bolsonarismo majoritariamente, com mais de 40 parlamentares. Até alcançar a posição que ocupa hoje no quadro político brasileiro, o partido passou por um crescimento gradual a cada eleição. Confira a trajetória da sigla nos pleitos gerais e municipais desde 2006:
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2006: um deputado federal, três deputados estaduais e o vice-presidente da República, José Alencar;
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2008: 54 prefeitos e 780 vereadores;
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2010: 18 deputados estaduais/distritais e oito deputados federais;
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2012: 80 prefeitos e 1208 vereadores;
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2014: 21 deputados federais, 32 deputados estaduais;
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2016: 106 prefeitos, 1.621 vereadores e 143 vice-prefeitos;
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2018: 30 deputados federais e um senador;
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2020: 215 prefeitos, 230 vice-prefeitos e 2.589 vereadores;
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2022: 40 deputados federais, 76 deputados estaduais/distrital, dois governadores e dois vice-governadores.
O Republicanos Ceará
No Ceará, em parte considerável de sua história, o Republicanos foi da base governista. Essa trajetória de aliança foi interrompida há cerca de quatro anos, quando a legenda migrou para a oposição para marchar lado a lado com nomes como Capitão Wagner, à época presidente estadual do Pros.
Foi nesse ritmo que uma liderança antiga da legenda, o vereador Ronaldo Martins, foi líder em votos para a Câmara Municipal de Fortaleza em 2020, recebendo 31.840 sufrágios. Já Wagner buscou, naquele ano, ocupar a Prefeitura da Capital, mas foi derrotado por José Sarto (PDT) em segundo turno e por uma diferença pequena de votos.
Dando seguimento à caminhada na oposição, o Republicanos chegou a filiar Dayanny do Capitão – hoje, deputada federal pelo União Brasil – e André Fernandes (PL).
“Compartilhamos das mesmas ideologias, defendemos o conservadorismo, a família tradicional, a liberdade econômica, os valores cristãos, por isso temos a certeza que fomos presenteados, em meio ao aniversário de 15 anos do nosso partido, a sua chegada só tem a nos agregar crescimento e valores”, disse Martins na ocasião da filiação de Fernandes, em 2020, evidenciando a aproximação conservadora.
Em 2022, a relação no bloco foi balançada com diálogos realizados com a base governista. Não só por isso, nesse mesmo ano, o partido perdeu os dois nomes mencionados anteriormente, que também aproveitaram a onda bolsonarista no PL e a estruturação do recém-criado União Brasil para executar a migração.
As conversas, contudo, declinaram e o Republicanos seguiu na oposição em 2022, chegando a compor coligação pela empreitada de Wagner ao Governo do Estado. Com a derrota ao Executivo, a rota foi recalculada.
Nova presidência
O partido iniciou o ano de 2023 com a mesma posição do diretório nacional: manter uma postura de independência em relação ao governo petista em Brasília e no Ceará. Com dois deputados na Assembleia Legislativa (Alece), apesar do bom relacionamento de ambos com o Governo, a posição foi mantida.
Contudo, o rumo foi alterado com as negociações pela filiação de Chiquinho Feitosa que, mais tarde, tornar-se-ia presidente da legenda no Ceará. Com isso, Ronaldo Martins deixou o posto e assumiu o diretório municipal em Fortaleza. As alterações levaram novamente o Republicanos à base do governo petista no Estado.
Essa foi uma estratégia coordenada ao nível nacional – já que houve mudanças também nos diretórios de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Maranhão, Rio Grande do Norte e Goiás – e abonada pelo presidente da cúpula do partido, Marcos Pereira, e por Ronaldo Martins.
Os impactos podem ser observados a médio prazo, tendo em vista que o planejamento para as eleições municipais de outubro também conta com o apoio do governador do Ceará. Elmano de Freitas (PT), e do ministro da Educação e ex-governador, Camilo Santana (PT), para aumentar o alcance nas prefeituras.
Quanto a Fortaleza, o vereador Ronaldo Martins anunciou, nesta quarta-feira (7), o planejamento para o Legislativo. Após encontro com Marcos Pereira em Brasília, ele informou que a sigla espera eleger pelo menos cinco vereadores na Capital, com o mínimo de duas mulheres.
Novo momento
Até agora, o Republicanos governa ao menos sete cidades do Ceará, quatro a mais que as alcançadas no pleito de 2020, Aratuba e Paraipaba. Atualmente, a legenda já tirou quadros do MDB, PSB e PP para aumentar a representatividade da sigla nos municípios cearenses. As articulações seguem pela filiação de mais gestores pelo Estado.
Foi o que indicou Chiquinho Feitosa no evento de posse como presidente do Republicanos Ceará, em maio do ano passado. Ele chegou ao partido após ser destituído do PSDB por desgastes relacionados à posição no pleito geral de 2022. O ex-senador chegou a ser ventilado no União Brasil como uma opção para a base, mas as negociações não avançaram.
Desde quando firmamos o compromisso que assumiria a presidência do Republicanos no Ceará, não paramos de trabalhar. Com o apoio do Camilo e do Elmano, estamos aqui hoje no primeiro momento de filiação, filiando (em articulação) mais de 20 prefeitos no Republicanos, lideranças e vice-prefeitos, tudo alinhado com Camilo e com o Elmano, porque nós fazemos parte desse Governo, desse projeto
Os acenos do Governo do Estado são claros em relação a isso. No mesmo evento, ele lembrou a saída do PSDB e o caminho traçado até o Republicanos.
Primeiro, eu tenho muita alegria de ter o Chiquinho na presidência do Republicanos. É um homem de muita palavra, muito compromisso, demonstrou isso no processo eleitoral de 2022, mais uma vez. Eu não tenho dúvidas que o Republicanos vai crescer no Estado do Ceará. Acho que nós temos que fazer uma frente que não só o partido do governador cresce, mas os aliados também crescem
Prefeituras do Ceará sob comando do Republicanos:
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Ipueiras, Júnior do Titico
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Mombaça, Orlando Filho;
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Paraipaba, Ariana Aquino;
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Acopiara, Ana Patrícia (interina);
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Limoeiro do Norte, Dilmara Amaral (interina);
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Canindé, Rozário Ximenes;
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Santana do Cariri, Dr. Samuel Werton.