Qual o cenário da liderança política de Acilon Gonçalves fora da presidência do PL Ceará

O Diário do Nordeste ouviu especialistas para entender como o gestor deve agir nas próximas semanas e meses para reorganizar seu grupo político

Líder do PL Ceará desde 2019, Acilon Gonçalves se deparou, neste ano, com um cenário inflexível. Na última semana, quando decidiu renunciar à presidência do partido, o prefeito de Eusébio iniciou um novo momento para o seu grupo político, com rumos a calcular.

O gestor segue com o objetivo de ampliar o seu raio de influência pela Região Metropolitana e por outros municípios cearenses, mas sem o comando da legenda a estratégia muda. A extensão das ações de Acilon no âmbito partidário fica limitada, ainda que seja reconhecidamente um líder de peso no Estado. 

O momento, agora, é de incerteza e de diálogo com forças que podem auxiliá-lo nesse processo de reacomodação no cenário político. Mesmo que existam especulações sobre a sondagem de outros partidos, pelo menos por ora, ele garante que permanece no PL. 

“Recentemente deixei o comando do PL Ceará, mas continuo no partido, sempre discutindo as ações com o atual presidente, deputado Carmelo Neto, e buscando focar todo o meu esforço de trabalho principalmente nas cidades nas quais mantenho laços políticos, construídos através de forte e firme articulação confiança, ao longo de muitos anos”, comentou por meio de nota. 

“Essas cidades receberão todo o meu apoio pessoal e presencial, e agora, mais do que nunca, poderei me dedicar ainda mais, já que não estou mais na presidência partidária”, completou. 

Soma-se a isso a nota que Acilon divulgou ainda em novembro sobre sua renúncia, afirmando que não pretende dirigir nenhuma sigla no momento.

“Reitero que até as eleições municipais de 2024, não pretendo exercer nenhum cargo de direção a nível de Estado, e sim, reforçar o trabalho municipal para que as boas práticas administrativas as quais defendo sejam vitoriosas”, declarou.

Desafio

Para Luiz Barbosa, consultor político que trabalhou diretamente com Acilon entre 1999 e 2002 e que vem acompanhando a sua trajetória desde então, o prefeito deve lançar mão, mais do que nunca, de discrição e resiliência para as tratativas daqui para frente.

Apesar dos desafios que a perda da presidência acarreta, há bônus que não devem ser ignorados. Na sua avaliação, por exemplo, a escolha de Carmelo para o comando do PL Ceará – e não André Fernandes, como se disputava em 2022 – foi positiva para Acilon nesse momento.

Isso porque, mesmo representando a ala bolsonarista, o deputado estadual é adepto a mais pragmatismo que o colega da Câmara dos Deputados, o que possibilita um ambiente menos hostil para Acilon no momento. 

Destino e eleições de 2024

Ainda que decida permanecer no PL no momento, a avaliação dominante é que Acilon embarque com seus aliados em outro partido nos próximos meses, a fim de ter mais gerência sobre suas negociações políticas. 

Isso porque não há “confiabilidade” com os colegas mais ligados ao ex-presidente Bolsonaro, ainda que mantivesse essa relação com o presidente nacional da agremiação, Valdemar Costa Neto. Foi o que o manteve no comando da sigla na primeira disputa de 2022, mas não foi suficiente para sustentá-lo nas crises seguintes.

Após a cassação da chapa de deputados estaduais do PL por fraude à cota de gênero pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o clima complicou de vez, sobretudo porque Acilon, como dirigente, não foi responsabilizado. Com isso, a pena recaiu apenas sobre os parlamentares, que correm o risco de perder o mandato, mesmo sem participação direta no ilícito em análise. O assunto, agora, está a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“A partir daí, o Valdemar faz um processo de isolamento do Acilon e entrega o diretório estadual aos bolsonaristas. Ali, o Acilon é mutilado politicamente (no PL)”, observa Luiz Barbosa.

A nota de renúncia enviada por Acilon à imprensa expõe as nuances dessa dinâmica, afirmando que a decisão foi tomada, “principalmente, devido às divergências de entendimento com outros membros da sigla” e “considerando as dificuldades de relacionamento com pessoas do partido que não pertencem oficialmente à Executiva Nacional, tampouco à Executiva” do PL Ceará.

Mas a possível migração pode apresentar desafios para Acilon e seu grupo, o que demanda cautela e tempo para negociações a nível estadual e nacional. É que o observa Monalisa Torres, professora do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Educação de Itapipoca (Facedi-Uece).

“Dada a mudança repentina, há todo um cálculo político a partir do qual eles vão tentar ver qual partido vai oferecer espaço para eles atuarem e recursos partidários (capilaridade, recurso financeiro etc.) para que consigam mobilizar candidatos, fortalecer a lista partidária pras eleições. Tudo isso conta”, afirma Monalisa.

Nas últimas semanas, surgiram especulações de que Acilon estaria estudando o ingresso no recém-fundido PRD e no Solidariedade, que ganharam novos dirigentes recentemente. No PL ou não, Acilon diz que vai se dedicar a comportar partidos no seu entorno para o próximo ano.

“As eleições municipais de 2024 trazem um novo cenário político, em que os grupos políticos de cada município precisam ter três a quatro partidos para acomodar os candidatos a vereador (geralmente são na média de 3 a 4 vezes o número de vagas na Câmara Municipal. Conforme a nova legislação, eles não podem ser acomodados em um único partido. A legislação diz que o que vale é o número de vagas. Portanto, o foco principal é trabalhar tendo esses outros partidos como apoiadores, partidos satélites da legenda principal”, afirma.

É uma estrutura firme que viabiliza a expansão da sua influência e a construção de chapas nos municípios. Foi em busca disso que Acilon mudou de partido em 2019. É o que pode acontecer, também, até abril de 2024, prazo de filiação para aqueles que desejam disputar algum cargo eletivo em outubro próximo. 

Somente na Região Metropolitana de Fortaleza, a influência de Acilon abrange ao menos cinco prefeituras, que se somam ao grupo de 13 gestores do PL eleitos em 2020, ainda que alguns tenham deixado o partido nos últimos anos.

Em Eusébio e em Aquiraz, por exemplo, a meta é eleger um sucessor e reconduzir o filho Bruno Gonçalves à Prefeitura, respectivamente. Ao Diário do Nordeste, o deputado federal Júnior Mano confirmou que é pré-candidato em Maracanaú, onde conseguiu emplacar um aliado no comando do diretório municipal. Já em Maranguape, o nome acertado até o momento é o da Secretária de Desenvolvimento Social de Eusébio, Samara Cordeiro.

Considerando todos esses fatores, Monalisa considera que o possível destino de Acilon deve acomodar bem seu grupo político e acolhê-lo no topo da Executiva Estadual. 

“Uma liderança como o Acilon não vai para nenhum partido em que ele não tenha minimamente um espaço em que possa articular e fazer essa movimentação que ele já faz. Não é de hoje que ele monta um grupo político propriamente dele nessa região ali do Litoral mais próximo de Fortaleza, municípios vizinhos. Então eu acredito que ele tente um partido em que ele possa ter esse lugar, em que ele possa manter posição de comando”, avalia.