Qual a estratégia em 2022 dos deputados federais do Ceará campeões de votos em 2018

Parlamentares se organizam para mais uma disputa eleitoral, entre novos desafios e a tentativa de reeleição

Mal terminou o ano de 2021 e a classe política cearense já está de olho na eleição de outubro. A disputa deste ano tem tudo para ser uma das mais acirradas e surpreendentes. De um lado, a promessa de polarização no embate presidencial. De outro, novas regras podem fazer da eleição proporcional uma surpresa para candidatos e eleitores. 

Em meio às incertezas, as ações práticas já ganham corpo nos bastidores e nas redes sociais. Sem tempo a perder, parlamentares tentam antecipar e concretizar projetos para ganhar terreno e manter a relevância eleitoral. 

Para algumas lideranças que se elegeram em 2018 para cumprir mandatos na Câmara dos Deputados, os projetos a partir de agora são outros.  

Mais votado do Ceará para o posto de deputado federal em 2018, Capitão Wagner (Pros) agora quer concentrar os esforços na pré-candidatura para o Governo do Estado.  

Principal nome de oposição (à direita) ao grupo que governa o Estado, Wagner quase se elegeu prefeito de Fortaleza em 2020, conquistando mais de 48% dos votos válidos. Diante da força na Capital, ele tem viajado pelo interior em busca de apoio de lideranças regionais e de prefeitos insatisfeitos com o governador Camilo Santana (PT). 

Além das viagens, o pré-candidato diz que tem se cercado de pessoas qualificadas no âmbito da gestão pública e privada para ajudá-lo em um eventual governo. 

"Minha passagem pelo cargo de vereador, deputado estadual e federal me dão uma excelente experiência de Legislativo. Somada à experiência de Executivo na gestão pública e privada, faz com que a gente tenha como foco o planejamento, para que a gente possa tirar o Estado do cenário que se encontra a pobreza, a violência e a saúde", diz o deputado federal. 

Para a cientista social e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Maria Clara Ribeiro Martins, Wagner tem dois grandes desafios pela frente no pleito que se aproxima. 

O primeiro deles é fazer oposição ao atual governo evitando um "ataque mais direto" ao governador Camilo Santana, que "tem 78% de aprovação" no Estado. "Talvez esse desafio gira em torno de conseguir apontar os problemas que ainda existem no Estado de alguma forma evitando o ataque mais direto ao governador", pontua.  

Ainda de acordo com Maria Clara, outro aspecto a ser observado na candidatura do deputado federal é a aliança com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que não tem avaliação expressiva entre os cearenses. "E essa dobradinha (candidatura ao governo e à presidência) é muito importante para as eleições", diz. 

Entre Executivo e Legislativo 

Eleito pela primeira vez deputado federal na eleição anterior, Mauro Filho (PDT) é um dos nomes do governismo que pode disputar a sucessão de Camilo Santana (PT). Em meio à indefinição por parte dos dirigentes do PDT, o parlamentar tem participado de eventos do partido em diversos municípios do Estado. 

O PDT tem feito uma série de reuniões com lideranças e prefeitos(as) de todas as regiões do Estado para avaliar a temperatura e a aceitação dos nomes dos quatro pré-candidatos da legenda para a disputa de outubro. 

É bom lembrar que em 2020 o filho do deputado, David Benevides, se elegeu prefeito de Redenção. Tradicionais na política cearense, os Benevides, portanto, ganham ainda mais força para outubro com o comando de uma prefeitura.  

Pós campanha municipal

Quem também trabalha nos bastidores para se lançar ao Palácio da Abolição é a deputada federal Luizianne Lins (PT), terceira mais votada em 2018. 

Embora tenha sido votada em todos os municípios do Ceará na última eleição, a parlamentar tem o desafio de azeitar as relações com prefeitos para garantir palanque forte nas mais diversas regiões, como reforça a cientista social Maria Clara. Antes de tudo, precisa convencer o partido de lançar candidatura, já que a expectativa é a manutenção da aliança estadual com o PDT.

A pesquisadora aponta que Luizianne e Wagner vêm "aquecidos" de uma campanha municipal e que, embora tenham sido bem votados em 2018, os votos estão concentrados em Fortaleza e na Região Metropolitana. O desafio é interiorizar os apoios.

Por meio da assessoria de imprensa, a deputada informou que continua defendendo um palanque forte no Ceará para garantir a eleição de Lula. A petista disse ainda que aguarda finalizar as conversas com o partido e lideranças para, nas próximas semanas, se manifestar sobre a atuação nas eleições de 2022. 

A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres, lembra que a deputada disputou mais uma vez a Prefeitura de Fortaleza, em 2020, apesar de o cenário não ser o mais favorável para a candidatura. 

Os quase 18% dos votos válidos conquistados pela petista, segundo Monalisa, são usados internamente para mostrar que ela segue relevante eleitoralmente na sua base, que é Fortaleza, e que deve continuar sendo ouvida pelos dirigentes nas tomadas de decisões da legenda – assim como ocorre atualmente na corrida pelo Abolição. 

Base eleitoral temática 

Segundo mais votado em 2018 com a pauta de proteção aos animais, Célio Studart (PV), que deve disputar a reeleição, diversificou a agenda legislativa nos últimos anos. Além de manter como carro-chefe a defesa dos animais, o parlamentar abraçou a agenda da saúde, em defesa dos profissionais da enfermagem e também legislando em favor das pessoas com autismo. 

Ex-secretário de educação, o deputado Idilvan Alencar (PDT) ganhou engajamento estadual com a pauta educacional. Assim como Célio, o deputado tem diversificado as pautas no mandato. 

O pedetista diz que a prioridade para eventual novo mandato continuará sendo a educação, mas que reunirá atenções para a defesa dos servidores públicos e também da saúde pública. 

O deputado admite que um dos desafios será conseguir o apoio de prefeitos para a conquista da reeleição. "Sempre fui próximo aos prefeitos. Gostam muito de mim, mas não me apoiam (risos)", confessa.  

Como estratégia de comunicação, o mandato divulgou um vídeo de prestação de contas ao eleitor. 

Força das prefeituras

Ao contrário das candidaturas temáticas, que não possuem a matemática geográfica para a contagem dos votos, há realidades mais pragmáticas, que têm as prefeituras como peças fundamentais para o sucesso nas urnas. 

Uma prefeitura a mais ou a menos pode fazer a diferença no resultado de uma eleição para a disputa proporcional, explica a professora Monalisa Torres. É pensando nisso que algumas disputas municipais ocorrem como uma verdadeira guerra, inclusive em família. 

O deputado federal AJ Albuquerque (PP) agora terá uma prefeitura a mais para ajudar na reeleição. O município de Massapê elegeu a irmã dele, Aline Albuquerque, como prefeita em 2020. 

Com essa mesma receita na busca pela reeleição, quem deve ir com mais força para a eleição de outubro é o deputado federal Robério Monteiro (PDT). O parlamentar conseguiu vitórias com a eleição da esposa, Ana Flávia Monteiro, para o comando da prefeitura de Acaraú, e do irmão, Elizeu Monteiro, para a prefeitura de Itarema. 

Em contrapartida, o deputado Pedro Bezerra (PTB), que se elegeu em 2018 com a força da prefeitura de Juazeiro do Norte, agora vai precisar buscar em outras regiões do Estado o apoio necessário para a reeleição.

O pai, Arnon Bezerra, então prefeito de Juazeiro, não conseguiu a reeleição e não poderá dar o mesmo apoio da última disputa.

De acordo com a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Maria Clara, essas candidaturas que vêm em busca da reeleição precisam se atentar a alguns pontos em 2022.

Primeiro é consolidar essa rede de apoio nos interiores, apostando inclusive no laço emocional que é criado entre a liderança política e parte da população. 

A cientista social aponta que o uso das redes sociais se manterá forte para o próximo pleito e que o aproveitamento da polarização política vai servir de força eleitoral para algumas lideranças que se lançarem às urnas em outubro próximo.

Mudança de regras no Legislativo 

Além, claro, das dificuldades da reeleição, com os desafios impostos pela conquista do eleitor, novas regras eleitorais irão valer para 2022, como o fim das coligações para a disputas proporcionais e o surgimento de uma nova "aliança" para essa modalidade. 

Ainda em 2018, era possível um acordo partidário durante as eleições para auxiliar nas estratégias de voto de cada partido. A chamada coligação agora só é permitida para a disputas majoritárias. Ou seja, para candidaturas para gerir prefeituras, governo do estado e Presidência da República. 

Na eleição municipal de 2020, cada partido precisou trabalhar os seus nomes para ocupar as vagas no legislativo sem depender de puxadores de votos de outros partidos como estratégia. Agora, uma nova regra concede um acordo partidário, mas com duração de quatro anos, que é a chamada federação partidária. 

O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-CE, Fernandes Neto, explica que a nova permissão, já prevista pela Justiça Eleitoral, vai ajudar os partidos a se manterem financeiramente, além de trabalharem por mais tempo ao lado de outras agremiações com a mesma linha ideológica. 

A coligação é um namoro breve que só se dá durante a eleição e a federação é uma união estável que se dá até o fim do mandato. Já foi regulamentado em resolução do TSE. Eles ficam unidos e convivem unidos até o fim do mandato de quatro anos
Fernandes Neto
Presidente da comissão de direito eleitoral da OAB-CE

Pensando nessa possibilidade, a professora Monalisa Torres aponta que é uma nova realidade e que pode imprimir um novo ritmo nesse pleito que se aproxima. 

"Havia muito pragmatismo, não tinha debate em relação a uma agenda. A federação é diferente. O fato de você se unir implica o mínimo de convergência identitária, de agenda. Você está pensando em uma espécie de bancada em um prazo muto maior, de eleição, mas também de ações dentro do parlamento", argumenta a professora.