O Ceará irá contar, a partir de 2023, com a maior bancada feminina na Câmara dos Deputados desde a redemocratização. Apesar de representarem apenas 9% dos parlamentares cearenses da próxima legislatura, as três deputadas eleitas estarão na Casa que tem, nos últimos governos, concentrado parte das principais decisões do País.
Dayany Bittencourt (União), Fernanda Pessoa (União) e Luizianne Lins (PT) – única entre as três que foi reeleita para o cargo – possuem posicionamentos bem distintos quanto ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva(PT), entretanto.
Apesar do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar ter anunciado que quer o partido na base aliada de Lula, Dayany Bittencourt apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) para a reeleição e, desde a derrota do atual presidente, tem feito críticas a Lula.
Por outro lado, a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, é correligionária do presidente eleito e irá integrar a base de apoio ao governo que inicia no dia 1º de janeiro de 2023. Ela, inclusive, integra a equipe de transição no grupo técnico de Cidades. Durante a campanha eleitoral do 2º turno, apenas Fernanda Pessoa não se posicionou.
O Diário do Nordeste conversou com as parlamentares cearenses eleitas para saber quais as expectativas para o Governo Lula e as cobranças para o próximo governo. Elas apontam, por exemplo, a necessidade de maior participação de mulheres na gestão, inclusive em áreas não diretamente relacionadas à defesa dos direitos desta população, como meio ambiente e relações exteriores.
Outras políticas públicas apontadas pelas deputadas federais eleitas como importantes a serem discutidas a partir de 2023, quando iniciam o mandato, são o combate à fome, à segurança pública no País e o desenvolvimento sustentável.
Combate a desigualdade de gênero
Para Fernanda Pessoa, é necessário que a igualdade entre homens e mulheres seja uma prioridade para o futuro governo. Inclusive, tendo o combate como compromisso não apenas interno no País como também levar essa defesa para as relações internacionais do Brasil.
"O governo assumir de fato um compromisso internamente e internacionalmente por meio de sua diplomacia. Seria o quê? Em defesa em fóruns internacionais, o Brasil estar empenhado em garantir que esse objetivo seja integrado em todas as áreas".
Ela cita, por exemplo, a necessidade de mulheres estarem representadas em diferentes áreas e participando de discussões importantes para o governo, como na "redução da desigualdade, desenvolvimento sustentável, paz e segurança, defesa e promoção dos direitos fundamentais".
A agora deputada federal eleita afirma que é necessário que haja essa ocupação de cargos, "que hoje a gente não vê", como forma de promover uma maior igualdade de gênero no País.
Uma maior paridade na ocupação de cargos na gestão federal foi, inclusive, tema de debates entre os candidatos durante a campanha eleitoral. O então candidato Lula não garantiu uma igualdade entre homens e mulheres na ocupação dos cargos de ministro de Estado.
Na atual gestão, sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, o número de mulheres também foi pequeno: entre os 50 indicados para comandar uma pasta no governo federal, apenas quatro eram mulheres.
Prioridades nas pautas
Reeleita para a Câmara dos Deputados, Luizianne Lins será base de Lula no legislativo federal. Ela é, inclusive, uma das deputadas cearenses a integrar a equipe de transição de forma voluntária – ela está no grupo técnico de Cidades. A petista cita algumas das pautas que considera que devem ser prioritárias para os próximos quatro anos.
"Por exemplo, eliminar a fome no Brasil, o combate ao desmatamento da Amazônia, o fortalecimento dos programas sociais que foram destruídos duramente durante o governo Bolsonaro".
Luizianne cita a participação de Lula na COP 27, no Egito, como um indicativo da importância das questões ambientais e climáticas para o próximo governo. Além disso, já aponta para uma "recomposição da política externa".
A deputada argumenta ainda sobre a necessidade da defesa de direitos das mulheres, tanto do ponto de vista econômico, com a política para "gerar emprego e renda com igualdade salarial", como também um fortalecimento dos investimentos no combate à violência contra a mulher.
Críticas ao presidente eleito
Após uma semana de tentativa de contatos, Dayany Bittencourt foi a única deputada federal cearense eleita que não respondeu aos questionamentos feitos pelo Diário do Nordeste.
Apoiadora do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, ela criticou algumas falas de Lula após a eleição do petista para o Palácio do Planalto nas redes sociais.
A parlamentar eleita reclamou, por exemplo, de quando Lula disse que o "mercado fica nervoso a toa", logo após reunião entre o presidente eleito e parlamentares aliados. Em publicação, Bittencourt afirmou que "é necessário que haja responsabilidade fiscal para que o Brasil continue avançando".
Ela também citou, em uma outra postagem, que terá como uma das prioridades do mandato "trabalhar para apresentar e aprovar projetos para endurecer as leis contra os criminosos".