Petistas que defendem uma candidatura própria à sucessão do governador Camilo Santana acreditam que uma interferência do ex-presidente Lula e da Executiva nacional do PT no Ceará possa romper a aliança construída com o grupo dos irmãos Cid e Ciro Gomes, ainda em 2006, e garantir o "protagonismo" estadual da legenda para outubro.
Os deputados federais José Airton e Luzianne Lins, além do deputado estadual Elmano de Freitas, se reuniram com mais de 300 filiados, na segunda plenária "PT lá e cá", nesta quinta-feira (27), para pautar a candidatura própria da legenda ao Palácio da Abolição.
Em contato direto com o ex-presidente Lula, a deputada Luizianne Lins disse aos colegas de partido que o assunto da aliança local ainda não está definido, apesar da movimentação do governador para a continuidade do acordo político.
De acordo com a ex-prefeita, a instância nacional vai interferir no processo interno dos estados. A afirmação teria sido do próprio Lula no último encontro que tiveram.
"Ele me falou que não tem nada definido em relação ao Ceará. Ele puxou pra si e pra Executiva nacional do partido essas alianças que estão sendo construídas em todo o Brasil. (Está) Muito incomodado com o tipo de tratamento que vem recebendo do Ciro e dos irmãos Ferreira Gomes", declarou a parlamentar.
Ainda de acordo com Luizianne, "ele (Lula) mesmo na hora certa vai chamar as pessoas que estão puxando esse movimento PT lá e cá" para as definições locais.
Críticas
O deputado José Airton subiu o tom na plenária. Defendendo a candidatura própria do PT em outubro, o parlamentar chegou a questionar a representatividade de petistas no governo Camilo Santana.
Segundo ele, uma parte dos militantes não se sente representada mesmo em um governo do PT por estar fora dos espaços institucionais do governo estadual. Em um eventual governo do PDT, os espaços ficariam ainda mais limitados, segundo o deputado.
José Airton chegou a pressionar o governador pedindo "clareza" e "lado" na eleição presidencial. A posição de neutralidade de Camilo na eleição de 2018 foi ponto de debate. "Não sabemos qual foi o papel do Camilo na eleição de 2018. Precisamos ter clareza, queremos lado", cobrou Airton.
Com bom relacionamento com o governador, o deputado estadual Elmano de Freitas também cobrou do chefe do Executivo estadual postura de apoio a Lula para a eleição presidencial. "Nós queremos uma candidatura ao governo e uma candidatura ao Senado que defenda o nosso projeto".
Aliança
O grupo que trabalha pela candidatura própria tem apostado todas as fichas em uma intervenção nacional na relação PT e PDT. Com o deputado federal José Guimarães e o governador Camilo Santana trabalhando pela continuidade da aliança, é pouco provável que a fatia de petistas que defende a candidatura própria tenha voto suficiente para aprovar a tese internamente.
A mesma discussão foi feita em 2014, e a tese de candidatura própria acabou sendo derrotada. O petista Camilo acabou sendo escolhido mais por uma conclusão do grupo ligado a Cid Gomes do que por força da legenda.
O diretório estadual do partido se reúne neste sábado (29) para aprofundar os debates com todas as correntes.