A ministra da Cultura, Margareth Menezes, revelou, nessa terça-feira (10), que pode não ser possível restaurar a tela "As Mulatas", do pintor Di Cavalcanti, e o relógio de Balthazar Martinot, do século XVII, danificados por vândalos durante o ato terrorista contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
"O relógio que foi quebrado parece que não sabemos se vai ter condição de restaurar. [Era] uma peça única. O quadro de Di Cavalcanti também pela mesma forma", declarou a titular, conforme o g1.
Avaliado em, pelo menos, R$ 8 milhões, o mural é considerado um dos mais importantes da carreira do artista modernista brasileiro e era a principal obra do Salão Nobre do Palácio do Planalto. Segundo a Secretaria de Comunicação Social do Governo (Secom), nele foram encontrados sete rasgos, de diferentes tamanhos.
Já o relógio possui um valor "fora do padrão", devido à raridade, segundo o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, e está "muito danificado", detalhou a ministra.
"O relógio talvez é a obra mais sensível ainda. Existem outros daquele tipo, mas de tamanhos menores. Está muito danificado, muito danificado. A gente não tem essa resposta ainda", disse a titular.
Produzido pelo relojoeiro do rei francês Luís XIV, Balthazar Martinot, a peça de mais de 300 anos foi um presente da Corte Francesa para o monarca português Dom João VI, na época que o Brasil era colônia de Portugal. Existem somente dois relógios feitos pelo artista — o outro está exposto no Palácio de Versalhes e possui somente metade do tamanho do exemplar que estava no Palácio do Planalto.
"É indescritível. É realmente a negação do respeito pelo Brasil, pela democracia e pelo Poder Judiciário. Não tenho palavras para traduzir tamanha bestialidade."
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deve finalizar, na quinta-feira (12), o levantamento das obras danificadas e possível custo de reparo, segundo a titular da Pasta. As informações são dos portais g1 e Uol.
Memorial sobre ato terrorista
Ainda conforme Margareth Menezes, o projeto de criar um memorial sobre o ataque criminoso contra os Três Poderes ganhou força durante uma reunião com a primeira-dama, Janja Silva.
“A ideia de criar um memorial sobre essa violência que sofremos. Esse é um tesouro artístico, do povo brasileiro. Isso é um pertencimento do Estado. Uma violência muito desrespeitosa e profunda. Esse memorial é para deixar marcado isso para que nunca mais possa acontecer outra violência desse nível, com a memória intocável que é a nossa democracia”, disse.
Saiba as obras vandalizadas
Obra 'As Mulatas', de Di Cavalcanti
É considerada a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto. Foi achada com sete rasgos, de diferentes tamanhos.
Valor estimado: R$ 8 milhões.
Obra 'O Flautista', de Bruno Jorge
A escultura em bronze foi encontrada totalmente destruída, com pedaços espalhados pelo chão.
Valor estimado: R$ 250 mil.
Escultura de parede em madeira, de Frans Krajcberg
A obra se utiliza de galhos de madeira e foi quebrada em diversos pontos. Seus pedaços foram atirados longe.
Valor estimado: R$ 300 mil.
Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck
A mobília foi utilizada como barricada pelos invasores do prédio. Ainda será feita uma avaliação para calcular os danos.
Valor estimado: não informado.
Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues
O móvel guarda as informações do presidente em exercício e teve o vidro quebrado.
Valor estimado: não informado.
Relógio de Balthazar Martinot
O relógio de pêndulo data do século XVII e foi um presente da Corte Francesa para Dom João 6º. Martinot era o relojoeiro de Luís 14º. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas tem metade do tamanho da peça que estava guardada no Brasil.
Valor estimado: considerado fora de padrão.