O deputado estadual licenciado e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), Elmano de Freitas, disse que o partido interpreta que o PDT "decidiu romper a aliança" de 16 anos ao escolher, em eleição nesta segunda (18), o ex-prefeito Roberto Cláudio para concorrer ao Governo do Estado, evitando a tentativa de reeleição da governadora Izolda Cela (PDT).
Uma reunião do diretório na tarde desta terça-feira (19) deve ser o primeiro passo formal para definições sobre um eventual racha com o PDT, deixando aliados históricos em lados opostos nas Eleições 2022.
De acordo com parlamentares do PT, o ex-governador Camilo Santana está no centro da decisão, inclusive para indicar quem estará na composição de chapa.Camilo havia declarado apoio ao nome da Chefe do Executivo para a sucessão.
A perspectiva interna, segundo interlocutores, é de que o PT não vai realizar prévias para indicação de um candidato, mas que "aliados de outros partidos poderão fazer sugestões", explica Elmano.
Nesta segunda-feira, após confirmação do nome de Roberto Cláudio, o vice-líder nacional do PT, deputado José Guimarães, já adiantou que a decisão será em conjunto com MDB, PP, PCdoB e PV.
Tanto o PT como o MDB e o PP defendiam o nome da governadora Izolda Cela para a sucessão Estadual, dando acenos de que o racha no grupo governista poderia ser concretizado caso ela não fosse a escolhida.
PDT ainda tenta aliança
Apesar da perspectiva de rompimento, o presidente do PDT no Ceará, deputado federal André Figueiredo, em postagem nesta terça-feira, indicou que ainda há um esforço para manutenção da aliança.
"Foi um processo democrático do partido (a escolha de Roberto Cláudio), e agora vamos sentar para conversar com todos nossos aliados, e estabelecer a melhor estratégia de vitória", escreveu o parlamentar.
Após a decisão por maioria do PDT, o próprio Roberto Cláudio afirmou que vai procurar lideranças.
"A primeira tarefa nossa agora é celebrar e construir nossa unidade interna, depois disso procurar também, humildemente, todos os nossos aliados que compõem a nossa aliança hoje, procurar o ex-governador Camilo Santana, procurar todo mundo para conversar e manter a aliança o mais ampla possível"
O que pensam os petistas
O indicativo de que o Partido dos Trabalhadores lançará uma candidatura própria, se confirmado, deverá colocar Camilo Santana no lado oposto de parceiros históricos na política cearense.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) chegou a tratar o petista como "ex-aliado" durante entrevista ao Avesso Podcast há duas semanas.
"Nossa interpretação é que o PDT rompeu a aliança, e agora cabe nós discurtirmos a construção de uma candidatura que respeite a aliança e que garanta a defesa do legado", disse Elmano Freitas.
O vice-presidente da AL-CE, deputado Fernando Santana, criticou a forma como o PDT conduziu o processo de indicação do candidato.
"Lamento muito que o PDT tenha feito essa escolha assim de forma atropelada, ao meu ver, porque a Izolda tinha o direito a sua de reeleição", disse o parlamentar.
Ex-presidente estadual do PT e pré-candidato a deputado estadual, De Assis Diniz, destacou que houve gente dentro do PDT que buscou a continuidade da aliança. "Mas parte da cúpula do PDT não quis a aliança", completou.
"Quem não quer construir unidade demonstrou isso ao longo desses dias com provocações, com reuniões inadequadas, com posturas que não constroem esse sentimento", afirma.
Ele disse ainda que o momento agora é de buscar um nome "que possa agregar o maior número de partidos" e ressaltou que quem tem 'a palavra final' é o ex-governador Camilo Santana.
Presidente do PT Fortaleza, o vereador Guilherme Sampaio afirma que a decisão do PDT por Roberto Cláudio como pré-candidato ao Governo do Ceará demonstra que foi deixado "em segundo plano a capacidade de escuta e de diálogo". Sem cravar uma candidatura própria do PT, ele afirma contudo que o partido lançar um nome é "uma das possibilidades".
"Apresentar à sociedade cearense uma alternativa que represente o que nós sempre defendemos: a unidade mais ampla possível, dentro da base de sustentação do governo, pra continuar o projeto e derrotar o fascismo no Ceará", completa.
Ele reforçou ainda o papel de liderança de Camilo Santana que "sempre teve a prerrogativa de conduzir e liderar a própria sucessão".
Movimentação do MDB
No mesmo dia em que o PDT definiu lançar Roberto Cláudio como candidato à sucessão Estadual, o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) esteve reunido com o ex-presidente Lula (PT) em São Paulo para tratar da campanha eleitoral no Ceará. Após o encontro, o presidente do MDB no Estado disse que o diálogo foi "excelente".
De volta ao Ceará, petistas afirmam que Eunício está próximo das articulações com o partido.