'Esperava que essa divergência encerrasse na eleição', diz Cid sobre Ciro, após reunião no PDT

Apesar de evitar falar sobre a relação familiar, o senador admitiu que a divergência com o irmão não está encerrada

O senador Cid Gomes (PDT) voltou a falar, nesta quarta-feira (5), sobre a relação com o irmão, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Os dois estão em lados antagônicos na recente crise do PDT Ceará - na qual Cid disputa a presidência da sigla com o deputado federal André Figueiredo (PDT), que é apoiado por Ciro. 

A declaração foi feita na saída da reunião da bancada cearense no Congresso Nacional com o governador Elmano de Freitas (PT), em Brasília.

Cid reforçou que "problema de família, se resolve em família" e que não seria "razoável" trazer a discussão a público. Contudo, apesar de se esquivar de falar sobre a relação pessoal, o senador admite que há uma "divergência política", que ele esperava, inclusive, que já tivesse sido finalizada.

"Tudo que eu tenho de divergência política com ele, eu coloco. Não tenho problema nenhum. São muito poucas, ao longo de 60 anos, são muito poucas as divergências, muito poucas. Nós sempre tivemos uma vida afinada. Eu esperava que essa divergência encerrasse na eleição (de 2022), divergência política, (mas) não encerrou na eleição. Eu lamento, mas, enfim, vamos cuidar da vida, vamos tocar em frente".
Cid Gomes (PDT)
Senador

O senador ressaltou que, quando houve a divergência em relação a disputa pelo Governo do Ceará, preferiu se afastar da campanha. "Não quis brigar com ele", disse, em referência ao irmão. "Em nome de toda essa relação, do respeito que eu tenho por ele, eu resolvi que não iria participar do processo, da decisão da qual eu discordava, em respeito a ele".  

Ao falar que esperava que a situação já estivesse em sua "normalidade", ele também lamentou o efeito disso na relação pessoal com o irmão. "Para mim, o que o que havia de mais importante era a fraternidade do Ciro em relação a mim. Pelo visto, está perdido. (Mas) Vamos pra frente, vamos para frente", disse. 

'Sentimento de vingança'

Cid também mencionou a reunião da Executiva nacional do PDT, na última segunda-feira (3), da qual os dois irmãos participaram - Ciro de forma virtual. "Eu tive oportunidade agora nessa reunião do diretório de falar, eu falando aqui, e ele ouvindo. Depois ele falou, e eu ouvi", citou. 

No encontro, a Executiva acabou decidindo pela intervenção do diretório estadual, de modo a tornar ineficaz qualquer convocação feita a nível local. Na prática, a manobra buscou inviabilizar reunião convocada para a próxima sexta-feira (7), por aliados de Cid. 

Após a intervenção, Cid garantiu, no mesmo dia, que a reunião continuava convocada para a sede do partido. Na ocasião, deve ser discutida a mudança no comando do PDT Ceará - com a destituição de Figueiredo, que seria substituído pelo senador. O deputado federal, no entanto, vem reforçando que o encontro será "ilegal" e, caso ocorra, pode gerar punições aos envolvidos.

"Você vê a diferença: eu estou falando em entendimento, ele está falando em punição. (...)  Eu estou falando em entendimento e ele está falando em punição. Me perdoe, por aí a gente vê quais são as disposições. A nossa disposição é permanente de diálogo", rebateu Cid nesta quarta-feira. 

Ele defendeu a legalidade da reunião a ser realizada no final da semana e que, segundo ele, é uma iniciativa de um "coletivo que representa mais de 60% do diretório do PDT do Ceará". Ele disse que não possui "nada pessoalmente" contra o deputado André Figueiredo. "Pessoalmente, com André, o que eu tenho um sentimento de gratidão", disse.

"(Mas) em política, em um partido quem deve se expressar pelo partido é a sua maioria, onde é que já se viu agora uma pessoa querer se arvorar de porta-voz do partido, se ele não tem a representação do partido, se as bases não estão assegurando isso a ele. É esse o momento que o (PDT) Ceará está vivendo", argumentou. 

Para o senador a "minoria política" dentro da sigla está "movida ainda por rancores, por ódios, que são sentimentos que, a nosso juízo, não são muito bons conselheiros na política". Segundo ele, mesmo após as eleições, "mantém-se um sentimento agora de vingança". "Além do ódio, além do rancor, é uma coisa de vingança", disse.

'Faca nas costas'

Em entrevista exclusiva ao PontoPoder, Ciro Gomes falou sobre a relação com Cid. Apesar de dizer que preferia não tocar no assunto, o ex-ministro acabou falando sobre a divergência familiar. 

"Esta faca ainda está ardendo muito nas minhas costas, portanto se você me permitir eu não desejo fazer nenhum comentário sobre este assunto, porque a faca ainda arde. Eu acho que eu vou morrer com essa dor nas minhas costas"
Ciro Gomes (PDT)
Ex-ministro

Ele também criticou a aliança entre o irmão e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT) - principal alvo das críticas de Ciro durante a entrevista. "Quem criou essa versão de Ferreira Gomes como uma coisa negativa foi justamente o Camilo Santana, a quem o Cid apoia. Eu não entendo isso", disse.