A cerca de um ano das eleições, forças governistas e de oposição já começaram a testar nomes e articular chapas para o próximo pleito. Entre aliados do governador Camilo Santana (PT), que buscará eleger o sucessor, a composição aparece mais indefinida, tanto em seu próprio partido quanto no grupo político a que pertence. Com uma ampla base de apoio, o governador terá de equacionar interesses divergentes para manter os aliados de hoje.
Já na oposição, o nome do deputado federal Capitão Wagner (Pros) vem atraindo opositores e ganhando força entre aqueles que se opõem, principalmente, ao grupo liderado por Cid e Ciro Gomes (PDT) no Estado. Diferentemente de quando concorreu no ano passado, Wagner agora aproxima-se da imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em busca de eleitores.
Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a eleição local deve ser fortemente influenciada pela conjuntura nacional.
“Mas é influenciada, não é decidida. Os ventos nacionais não vão esmagar ou anular os atores políticos do estado”, pondera. Para o pesquisador, a base governista atual deve se dividir em duas, enquanto a oposição deve reforçar a candidatura de um só nome.
PDT
Partido com mais influência em cidades cearenses, o PDT é também o nome que chega mais forte para a disputa do próximo ano. Apesar do atual governador ser petista, ele tem uma aliança histórica com os pedetistas Ciro e Cid Gomes (PDT).
É da sigla comandanda no Ceará pela família Ferreira Gomes que deve sair um dos polos da disputa no Estado. Atualmente, há quatro nomes da sigla cotados para a disputa: o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio; a vice-governadora do Estado, Izolda Cela; o secretário estadual de Planejamento e Gestão, Mauro Filho, e o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão.
No mês passado, o grupo começou a realizar encontros regionais para reforçar o apoio no Interior. A primeira reunião ocorreu em Brejo Santo, e, em seguida, em Barbalha, no Cariri. Apesar do início das discussões, quando o assunto é a sucessão, os nomes integrantes da sigla desconversam.
Nos encontros no Cariri, Roberto Cláudio, Mauro Filho, Izolda Cela e Evandro Leitão defenderam que ainda não é momento de tratar dessa questão, mas sim do projeto a ser apresentado aos eleitores.
No entanto, Roberto Cláudio, em tese, larga na frente na disputa com os correligionários. Ele foi apontado recentemente por Cid Gomes como o “melhor nome” para disputar o Governo do Estado em 2022. “É o melhor nome do PDT. Melhor nome, bem entendido. Eu não estou aqui fazendo nenhum juízo de talento. Temos excelentes nomes no PDT”, disse o senador recentemente.
PT
Uma das principais variáveis nas articulações do PDT – e que pode gerar dificuldade para o ex-prefeito – é o PT . O impasse ocorre por causa do cenário nacional. Petistas e pedetistas devem estar em lados opostos na eleição presidencial, com o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes na disputa. Além disso, as críticas de Ciro a Lula incomodam petistas e tensionam a relação.
No último fim de semana, Ciro foi hostilizado por aliados do ex-presidente quando participou de ato pelo impeachment do presidente Bolsonaro. Apesar das turbulências, lideranças dos dois partidos avaliam que a aliança deve ser mantida no Ceará, com a indicação de Camilo para a vaga de senador na chapa e a condição de montar palanques diferentes: um para Ciro e outro para Lula.
Camilo Santana é um dos principais fiadores da parceria do PT com o PDT, tanto que intermediou o encontro do ex-presidente Lula com o senador Cid Gomes, no fim de agosto, quando o petista visitou o Ceará.
Já a ala petista mais ligada aos deputados federais José Airton (PT) e Luizianne Lins (PT) é crítica à manutenção da aliança com o PDT e a formação de uma chapa liderada pelo PT, com um dos dois parlamentares encabeçando a composição e ou outro de vice.
Nessa ala do PT, cogita-se ainda como alternativa acatar a manutenção da aliança com o PDT, mas com a objeção do nome do ex-prefeito Roberto Cláudio, adversário de Luizianne. Outra exigência desse grupo de petistas é o apoio da chapa ao ex-presidente Lula – o que inviabiliza um acordo com os pedetistas.
Para o cientista político Raulino Pessoa Júnior, professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), o PT é o partido com maior força para fazer frente ao grupo pedetista e à oposição.
“O PT tem um enraizamento muito forte, isso permite que o partido pressione nessa disputa. Nos outros polos temos o bolsonarismo, que tem uma adesão mais recente, mas ainda assim com muita força, e o grupo Ferreira Gomes, que mantém essa base no Ceará”, aponta.
“Nesse sentido, é diferente a força do PT da de outros partidos, como MDB e PSD. Eu acho que a base petista é mais forte e consolidada, há uma fidelidade muito grande à sigla”, acrescenta.
PSD
Responsável por 28 prefeituras cearenses, o PSD tem duas lideranças fortes no Estado: o ex-vice-governador Domingos Filho e seu filho, Domingos Neto. A dupla tem grande peso político e é cortejada por integrantes tanto da base quanto da oposição.
Ambos têm trânsito junto ao governador Camilo Santana e compõem a base aliada. Domingos Neto também mantém boa relação com o presidente Jair Bolsonaro. Diante dessa conjuntura, Domingos Filho já declarou o interesse em liderar uma chapa na disputa pelo Governo do Ceará.
Apesar da boa relação com a base aliada, o grupo político liderado por ele já teve desgastes na relação com os pedestistas, havendo até um rompimento na relação, que já foi restabelecida. Por isso, o nome do ex-vice-governador não encontra reverberação no grupo liderado por Ciro Gomes.
Na avaliação do cientista político Cleyton Monte, as siglas e grupos políticos que orbitam para além desses três pólos (PDT, PT e grupo oposicionista) encontram um cenário pouco fértil para buscar votos.
“O Domingos Filho, por exemplo, lidera um grupo importante de prefeitos, mas o governismo no Ceará é muito forte, parte dessas prefeituras estão com ele porque ele é governo, será que um prefeito iria arriscar o pescoço para apoiá-lo contra o Governo?”, questiona.
“Ele também é muito pragmático, historicamente não se lança em aventuras, nem em bolas divididas. Acredito que o PSD buscará, sim, indicar um vice”, adianta.
“Já o Eunício perdeu bastante musculatura política, é mais provável que ele tente uma vaga na Câmara, mas tente continuar cavando esse espaço para conseguir ao menos indicar um vice para uma chapa, por exemplo”, conclui Monte.
MDB
Mesmo com essa “perda de musculatura”, o MBD, sigla liderada no Ceará pelo ex-senador Eunício Oliveira, segue como a terceira maior do Estado em número de prefeituras.
O cacique emedebista tem boa relação com integrantes do PT, incluindo o ex-presidente Lula e o governador Camilo Santana. Por outro lado, Eunício tem como principal adversário no Estado Ciro Gomes, o que dificulta uma eventual aliança em torno de um nome pedetista para 2022.
Paralelamente, o ex-senador tem tido encontros com Lula e com o senador Tasso Jereissati (PSDB). Eunício também já teve o nome cotado para disputar o Governo do Estado ou indicar aliados para uma composição com o PT.
Nos bastidores, o MDB é sondado pelo grupo da oposição, liderado pelo deputado federal Capitão Wagner, para uma aliança em torno de eventual candidatura dele ao Governo.
PP
Outra força política no Ceará é o PP, comandado pelo deputado federal AJ Albuquerque e pelo pai, o secretário de Cidades do Estado, Zezinho Albuquerque, que está no PDT, mas pode se filiar à sigla progressista.
Mesmo reforçando a base aliada, integrantes do PP têm restrições a alguns nomes cotados pelo PDT para a disputa do próximo ano. O impasse envolve disputas locais em cidades do Interior.
Outro fator é a proximidade do PP com o presidente Jair Bolsonaro, opositor ao grupo governista no Ceará. Há risco – ainda que baixo – de o partido reforçar a oposição.
Conforme o Diário do Nordeste mostrou no mês passado, nos bastidores, a relação de AJ com o senador Cid Gomes passou por desgastes após um episódio ocorrido na divisão das emendas - verbas do Orçamento Federal - da bancada do Ceará em 2020.
O ponto de equilíbrio na relação do parlamentar, entretanto, é o pai, Zezinho Albuquerque, aliado fiel de Cid e Ciro Gomes.
Oposição
Enquanto a base governista vive uma conjuntura de indefinição, a oposição reforça o nome do deputado federal Capitão Wagner para disputar o Palácio da Abolição. O parlamentar tem feito viagens a cidades do Interior em busca de apoio e acenado para aglutinar nomes em oposição a Cid e Ciro Gomes no Estado.
Uma alternativa entre o grupo oposicionista é o senador Eduardo Girão (Podemos), aliado de primeira ordem de Wagner que tem ganhado destaque nacionalmente com a CPI da Covid-19.
Segundo Cleyton Monte, o resultado das eleições de 2020, com Capitão Wagner perdendo para o adversário pedetista, José Sarto (PDT), por 43,7 mil votos, cacifaram o deputado para a disputa estadual. “Se tivesse sido uma derrota pior, o nome do (Eduardo) Girão teria mais força”, avalia.
Diferentemente de quando concorreu em 2020 para a Prefeitura de Fortaleza, desta vez Wagner tem colado sua imagem a do presidente Jair Bolsonaro – o que Girão ainda evita, declarando-se independente. No último dia 7 de Setembro, o deputado participou do ato em apoio ao chefe do Executivo nacional na Praça Portugal.
“Os partidos devem investir muito na força nacional. O PT com o Lula, os pedetistas com o Ciro, além do bolsonarismo, tanto que a principal força da oposição hoje está cada vez mais ligada ao Bolsonaro. Ele abraçou essa postura sem nenhum tipo de constrangimento”, afirma.
Na Praça Portugal, Wagner defendeu a continuidade do projeto nacional de Boslonaro aqui no Ceará, tendo um “capitão lá (em Brasília) e outro aqui". No ato, o parlamentar recebeu apoio de outros aliados do presidente no Estado, como os deputados Soldado Noélio (Pros) e Delegado Cavalcante (PTB).
Outro movimento que deve reforçar o nome de Wagner é a articulação que tenta colocá-lo como presidente no Ceará do União Brasil, partido que deve ser criado após a fusão do PSL com o DEM.
Atualmente, em um acordo com o deputado federal Heitor Freire (PSL), o grupo de Wagner comanda o PSL no Ceará. O pré-candidato ao governo planejava mudar para o partido que tem mais recursos financeiros e garantias para eventuais candidaturas em 2022. Com a fusão do PSL e do DEM, a nova sigla será ainda maior.