Um dos protagonistas do mais recente impasse dentro do PDT Ceará, o senador Cid Gomes (PDT) assumiu a presidência da sigla no Estado com foco em organizar o partido para as eleições municipais de 2024 e com a meta de pacificar o clima no partido - que segue dividido desde a campanha eleitoral de 2022.
O comando foi passado pelo deputado federal André Figueiredo (PDT), que se licenciou do cargo de presidente do PDT Ceará após articulação do presidente licenciado do PDT e ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e do presidente nacional da Fundação Leonel Brizola, Manoel Dias.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, Cid confessa que estava "desiludido" antes de ser chamado para a reunião que pacificaria a disputa pela presidência com Figueiredo. E disse estar, agora no comando do partido, "aberto a conversar com todos os quadros do PDT", o que inclui a ala liderada pelo ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT).
O senador pretende chamar o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Gardel Rolim (PDT), assim como outros vereadores de Fortaleza para conversar - os parlamentares municipais são fortes aliados do ex-prefeito, que tem defendido o PDT na oposição ao Governo Elmano de Freitas (PT), embora a ampla maioria da bancada federal e estadual do partido no Estado seja aliada do governador.
A definição de uma posição formal quanto à gestão estadual é uma das prioridades de Cid Gomes como presidente - no que ele define como "deixar claro que nós estamos dentro desse projeto". "O que eu defendo é que a gente reagrupe um conjunto de forças dos quais, em um momento, o PDT foi o protagonista e, no momento hoje, o PT é o protagonista no plano estadual", reforça.
Sobre a eleição em Fortaleza - da qual parte do PDT defende que o atual prefeito José Sarto (PDT) seja o candidato à reeleição -, ele projeta que será necessário uma composição nacional para uma eventual aliança na capital entre PDT e PT.
"Se depender dos municipais, não acontecerá. Só o engajamento dos estaduais, (...) também creio que não conseguirá dar conta. A única possibilidade em que enxergo, não com a imposição, mas colocando isso para uma estratégia nacional para o futuro, é o engajamento e envolvimento direto do Diretório Nacional do PDT com o Diretório Nacional do PT".
Confira a entrevista completa com o senador Cid Gomes:
Ficou definida a licença do deputado André Figueiredo e que o senhor assume o PDT. Quais os termos desse acordo?
Os termos são esses: ele tira uma licença agora, eu assumo ao longo desse período, até o fim do ano, que é o período de validade do diretório. Eu vou me ocupar dessas tarefas que refletem a angústia de nossas bases: levantar nossos candidatos, levantar os candidatos de partidos com quem a gente pode dialogar, tentar ao máximo fazer alianças, coligações, e preparar o partido para a eleição do novo diretório (em dezembro).
Eleito esse diretório, que toma posse em janeiro, a sua primeira tarefa é eleger uma Executiva, e essa Executiva tem uma composição, e o meu compromisso é de que o presidente dessa nova Executiva seja o André. Apoiá-lo na sua recondução ao cargo de presidente do PDT.
Essa proposta já tinha sido colocada na mesa, mas não tinha sido aceita. O que mudou?
Eu falei, eu falei várias vezes. A meu juízo, nada (mudou), mas talvez não tenham ouvido direito. A última pessoa com quem eu falei, já depois da fatídica reunião da Executiva nacional (na segunda-feira, 3, em Brasília) foi o Manoel Dias (presidente nacional da Fundação Leonel Brizola), e eu disse para ele: 'Olha, presidente, mais do que isso, eu não tenho como fazer. Há uma inquietação, a grande maioria do partido está preocupada com os rumos, com o que vai acontecer com o partido. Nós vamos ter eleição em todos os 184 municípios do Ceará. Nós temos cerca de 60 prefeitos, boa parte deles candidatos à reeleição. Temos um outro tanto de lideranças que tem projeto de candidatura, e as pessoas entendem que eu sou a pessoa, então eu quero cumprir esse papel. É meu dever cumprir esse papel'. Ponderei, tenho ponderando. Aí ele: 'ah, é assim? Pois você me deixa (resolver)?'. Marcou para o dia seguinte uma reunião às 17h30 e, em menos de cinco minutos, ficou resolvido.
O senhor acha que dá para pacificar o clima até lá?
Eu vou me esforçar muito. Eu sempre disse que isso não é troféu. Essa coisa de ser presidente do partido ou ficar na presidência do partido, isso não é troféu não. É uma grande responsabilidade, com muitas expectativas, e eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para atender a essas expectativas. Vou me dedicar muito para isso.
Tem algum impasse sobre Fortaleza? Foi tratado sobre a Prefeitura de Fortaleza?
Eu entendo Fortaleza como um município importante do Estado do Ceará e, mais do que isso, um município importante do Brasil. Eu digo também, com toda tranquilidade, que, se depender do diretório municipal do PDT de Fortaleza e do diretório municipal do PT de Fortaleza, a possibilidade de haver um entendimento é muito próxima de zero. Estou falando isso não é (como) um preconceito, é olhando para trás. Na eleição passada, os dois estiveram em campos opostos; na anterior à passada, os dois estiveram em campos opostos e, na anterior da anterior da passada, os dois lançaram candidatos.
O último entendimento foi à época em que eu, recém-eleito governador, na reeleição de Luizianne (Lins, em 2008), em que eu me manifestei com um ano de antecedência (em apoio à prefeita de Fortaleza, do PT) — embora isso não fosse um compromisso do apoio da Luizianne a mim. Eu digo isso para ressaltar que foi um gesto de compreensão de que o poder não deve ser absoluto, não deve estar só com um partido. Principalmente em um quadro multipartidário como é o Brasil.
Em quadro bipartidário, é muito razoável, que você tenha os três níveis de governo em um só partido, mas em um quadro multipartidário em que o Lula certamente não se elegeria se não tivesse partidos aliados, o Elmano não se elegeria se não tivesse partidos aliados; é importante que a gente faça esse compartilhamento. Se não, fica parecendo que, eu, governador, ia ter o governador, a prefeitura... Até ficamos na época (com Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza, no início da gestão de Roberto Cláudio e fim do Governo Cid), mas não foi por falta de aviso. Não era a pretensão, não queria me arvorar, ou meu partido de ter todos os postos importantes do Estado.
Então, se depender dos (líderes) municipais, não acontecerá. Só o engajamento dos estaduais, vamos dizer, se o diretório estadual do PT estiver convencido de que deve conversar, dialogar, admitindo essa possibilidade de apoiar o PDT, que tem o espaço, também creio que não conseguirá dar conta. A única possibilidade em que enxergo, não com a imposição, mas colocando isso para uma estratégia nacional para o futuro, é o engajamento e envolvimento direto do Diretório Nacional do PDT com o Diretório Nacional do PT.
Portanto, está fora da minha alçada, mas tudo que eu puder fazer para criar um clima de diálogo — você pode manter discordâncias, mas ter diálogo — pode ter certeza que eu farei.
O senhor está reunindo deputados federais e estaduais do PDT para esse almoço hoje (nesta sexta, 7) para falar sobre a definição?
Todos os passos que foram dados ao longo desses últimos dois, três meses, que é quando se estende (o impasse sobre a presidência) e, obviamente, nos últimos 20 dias intensificou-se mais, vêm sendo dados a partir de conversas coletivas. Nós tivemos, na segunda-feira (a reunião da Executiva nacional). Por ser líder do partido no Senado, eu sou membro da Executiva nacional, então eu participei da (reunião da) Executiva nacional e, em um gesto de solidariedade e de companheirismo, muitos deputados federais e estaduais e prefeitos também acompanharam e participaram da reunião. Participaram com direito a ouvir. Não se pronunciaram, mas acompanharam tudo.
O que se decidiu, você sabe, foi uma coisa que, enfim, acabou não se concretizando (uma intervenção do PDT Nacional na direção estadual)… Não vou mexer em leite derramado. E, na quarta-feira, me chamaram para uma reunião, e, como eu disse, em cinco minutos se resolveu. Então, obviamente, eu não tive tempo de conversar, de explicar, de combinar, mas eu tive tranquilidade, porque era o que eu sempre tinha colocado. Tinha sempre colocado ‘olha, se licencie, aí eu assumo, vou melhorar as relações, vou atender as angústias dos nossos prefeitos municipais e pronto’. Imagino que eles queiram saber detalhes, nunca a gente ao telefone consegue colocar isso na plenitude.
E a ala que estava mais próxima ao André Figueiredo, o ex-prefeito Roberto Cláudio, o prefeito José Sarto, que estavam defendendo outra tese, diferente da....
A mais recente declaração do Sarto, e que, a meu juízo, é o correto, é que ele não deve se envolver nessa disputa. É absolutamente natural que existam correntes, seções, pensamentos diferentes em um partido. Imagina a complexidade de um partido como o PDT, que tem sete deputados federais, 16 deputados estaduais, 60 prefeitos, centenas de vereadores.
Acreditar que todo mundo vai pensar a mesma coisinha sobre todos os assuntos não é razoável. Então, essas coisas a gente trata no limite do disponível no diálogo e, fora desse limite, disputas se travam, acontecem, são naturais.
O senhor pretende chamar o Roberto Cláudio (presidente do PDT Fortaleza) para conversar?
Eu estou aberto. Sempre estive aberto a conversar com todos os quadros do PDT, todos. Quando você chega nos 60 (anos de idade), você começa a ter esses sentimentos que são muito mais de responsabilidade do que mesmo de projeto pessoal. Eu considero o PDT no Ceará algo que eu ajudei a fazer. O PDT existe há muito tempo, mas, com a força, com a representatividade que ele tem hoje no Ceará, eu ajudei, acho que de forma decisiva, para que ele tivesse esse tamanho.
Tivemos divergências, e o que eu defendi, logo após, foi que a gente virasse a página. Vamos passar, vamos virar a página. Não dá para ficar aqui alimentando sentimentos que não sejam pensar no futuro.
E tenho feito isso sempre. As coisas têm é confirmado o que eu digo, falar é fácil, falar é muito fácil, mas exercer o que você prega é o que eu me dedico a fazer. Nada do que eu digo é em vão, tudo o que eu falo tem um propósito, tem um objetivo e é meu propósito. A responsabilidade, a tarefa é o que eu irei me dedicar.
Então, eu desejo que o PDT continue sendo um partido com muita força no Ceará. E com a tranquilidade de dizer, sem ambições pessoais, eu não tenho um projeto pessoal de nenhuma candidatura. Não confunda isso com largar política, o que, às vezes, as pessoas dizem. Não, eu não vou largar a política. Enquanto eu tiver saúde, eu não vou largar a política.
Eu gosto, eu me sinto bem, se não tiver isso, eu passo mal, eu não fico satisfeito. Vou fazer isso até o último dia da minha vida. Mas assim, até o fato de não ter pretensões pessoais de candidatura, me coloca numa condição de magistrado para buscar compor, promover o entendimento, promover a paz, harmonia e focarmos naquilo que é essencial, que é fazer o partido crescer.
E o PDT vai para a base do Governo Elmano?
É uma das coisas que eu pretendo que seja formalmente decidida. Vamos nos organizar, vamos organizar uma agenda, darei conhecimento dessa agenda. Tem uma série de coisas (a serem feitas). Tenho que levantar os prefeitos; tenho que levantar a situação de cada município; temos que compor comissões para cuidar, porque não vou conseguir dar conta de tudo isso; temos que conversar com os outros partidos, com direções nacionais, em alguns casos, e com municipais; tem os atores da política, vereadores de Fortaleza, por exemplo.
Não vou ficar também me oferecendo, mas sim, tenho uma boa relação com Gardel (Rolim, presidente da Câmara Municipal de Fortaleza), pretendo conversar com ele. Se ele desejar que essa conversa seja mais ampla, eu estarei às ordens.
Eu não tenho nenhum outro objetivo que não promover a paz, a harmonia, o entendimento e compreender que adversários a gente tem lá fora. Muitos torcem para que a gente continue brigando internamente, isso é o terreno ideal para que as nossas bases sejam assediadas.
Então, o senhor quer uma posição oficial sobre a base do Governo?
É razoável, é razoável que a gente tenha isso. Isso dá a muita gente o conforto e a tranquilidade de não poder ser taxado, lá no seu município de ‘ah, esse aqui não está no arco de aliança’. Eu fico até sem jeito de usar governo, base de governo. Não é isso, não, eu não sou fisiológico, não é minha natureza a fisiologia.
O que eu defendo é que a gente reagrupe um conjunto de forças dos quais, em um momento, o PDT foi o protagonista e, no momento hoje, o PT é o protagonista no plano estadual. Mas isso é um agrupamento de forças que têm um projeto para o Ceará e que é preciso ficar claro que nós estamos dentro desse projeto. Tivemos uma divergência na eleição estadual. A meu juízo, viremos a página e vamos nos reintegrar ao projeto.
Não é o governo. Até porque (no) governo, o PDT já tem três secretários (estaduais). Não estou me queixando de espaço, nunca me queixei de espaço, nunca fui atrás disso, embora compreenda como natural, mas nunca fui atrás disso. Pode ter certeza que eu não indiquei nenhum nome ao Elmano, pode ter certeza. Quando eu tive a oportunidade de conversar sobre isso, eu disse da preocupação com alguns suplentes, que ficaram suplentes e eram deputados (na legislatura anterior).
E ele, não sei se foi por isso ou não, pode ter sido uma coincidência, convocou para o seu secretariado os quadros do PDT, um deputado federal e dois estaduais que deram possibilidades para que o Leônidas (Cristino), para que o Bruno (Pedrosa), para que o (Antônio) Granja assumissem. Hoje, nós já estamos com Guilherme (Bismarck) assumindo na Assembleia e com a Ana Paula assumindo na Câmara (dos Deputados), em uma demonstração de que esse partido quer dar oportunidades e que é um partido sempre aberto e preocupado em inserir, em fazer ingressar novas lideranças.
No fim, então, foi uma boa resolução para o PDT Ceará?
No dia (do acordo), na quarta-feira, eu fui de manhã para uma reunião com o governador Elmano, reunião da bancada (cearense no Congresso Nacional). E quando eu saí, alguém disse assim: ‘ah, não sei quem está falando em punição para vocês’. E eu disse: ‘ó, enquanto alguns falam em punição, eu falo entendimento e falarei entendimento até a última hora’. Lá no fundo, no fundo, eu já estava meio desiludido, mas a minha esperança e, mais do que a esperança, a minha índole... Eu não acho que seja dono da razão, nem acho que também tenha dono da razão. Eu estou aberto a ouvir ponderações e espero que as outras pessoas estejam abertas a ouvir ponderações. E é assim que a gente constrói, é assim que a gente amadurece, assim que a gente forma opinião realmente respaldada, baseada, ancorada no que é a maioria do sentimento do partido.