Quadros do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) do Ceará publicaram, nesse domingo (15), uma carta aberta em que defendem que o partido não participe do governo do prefeito eleito Evandro Leitão (PT), em Fortaleza. O documento, assinado por lideranças de coletivos e parlamentares com mandato na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) e na Assembleia Legislativa do Ceara (Alece), alega pontos de discordância com a plataforma política petista, inclusive no Governo do Estado.
No comunicado, batizado de "Carta ao Povo de Fortaleza", os signatários apontam que apoiaram o gestor eleito no segundo turno das eleições pela "convicção que não haveria nada pior para a classe trabalhadora" do que a eleição de outro projeto — André Fernandes (PL) disputou a segunda etapa do pleito com o candidato do Partido dos Trabalhadores.
O grupo sinaliza que irá atuar mobilizando a sociedade para que Evandro Leitão promova políticas públicas para a população de Fortaleza. "Nosso partido mobilizará a sociedade para que Evandro prefeito, de fato, implemente as propostas pelas quais a maioria da população o elegeu".
O texto cita ainda o movimento do Governo Federal para a aprovação de um pacote de corte de gastos, o que, no entendimento dos partidários, "retrocede em direitos e arrocha as condições de vida" dos trabalhadores. Do mesmo modo, o texto menciona medidas tomadas pelo governador Elmano de Freitas (PT) na condução do Palácio da Abolição.
"É por isso que o PSOL segue reafirmando sua decisão de defender estes governos de qualquer ataque da extrema-direita, mas mantém sua autonomia política para mobilizar a população contra medidas erráticas. Devido a isso, nosso partido não pleiteia e nem ocupa cargos nestes governos. Quem o fizer por motivação individual, deve afastar-se de seus postos no interior do PSOL, conforme resolução do Diretório Nacional", frisa um trecho.
A carta finaliza pontuando que os parlamentares eleitos para a CMFor irão atuar contra a bancada de oposição, liderada por figuras bolsonaristas, e também terá "independência política" para legislar e fazer frente ao Governo Municipal para defender pautas populares, ambientais e o meio ambiente.
Aparecem como signatários 9 correntes e coletivos, além de 134 pessoas ligadas ao Psol no Ceará. Entre elas estão docentes, líderes, integrantes de entidades de classe e membros das executivas estadual e municipal da legenda.
A vereadora Adriana Gerônimo, o vereador Gabriel Aguiar e o deputado estadual Renato Roseno, políticos com mandato no Legislativo, assinam o texto. O presidente municipal do Psol Fortaleza e candidato derrotado na última eleição, Técio Nunes, e a secretária de Juventude do Ceará, Adelita Monteiro, não assinaram a carta.
O PontoPoder procurou o Diretório Municipal do PSol em Fortaleza e a assessoria de comunicação de Evandro Leitão a fim de obter as respectivas posições sobre o assunto. Não houve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para eventuais manifestações de ambas as partes.
Leia a carta na íntegra:
Carta ao povo de Fortaleza
Fortaleza foi palco de uma acirrada disputa eleitoral, das mais apertadas em todo o país. Por pouco mais de 10 mil votos, uma ampla coalizão política e social logrou eleger o candidato Evandro Leitão (PT), derrotando no segundo turno da eleição municipal o candidato bolsonarista André Fernandes (PL) — apoiado pelo Capitão Wagner (União), Roberto Cláudio, Sarto e Ciro (PDT).
O PSOL foi parte dessa vitória. Nos dedicamos com firmeza e fizemos campanha aguerrida no segundo turno para garantir a eleição de Evandro Leitão (PT). Fizemos isso por termos a convicção que não haveria nada pior para a classe trabalhadora e para o povo de Fortaleza que a extrema-direita e o fascismo administrando nossa cidade. Era, e é, urgente derrotar a extrema-direita nas urnas, nas ruas e nas mentes e corações de nosso povo que foi envenenado pelas mentiras da extrema-direita.
O PSOL não fugiu à sua responsabilidade, tendo sua militância, relevantes quadros políticos e seus parlamentares (nosso deputado estadual Renato Roseno e nossos vereadores Gabriel Biologia e Adriana Gerônimo) se dedicado incansavelmente para virar a vantagem do candidato bolsonarista no segundo turno. Pois do que se tratava era impedir a vitória dos responsáveis pela tentativa do golpe de 8 de janeiro de 2022 e por todas as ações anteriores que visaram interromper a normalidade do rito sucessório, com o quebra-quebra em Brasília, às vésperas da diplomação da chapa eleita, e com o planejamento dos assassinatos do presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
SEGUIR COM A TAREFA CENTRAL DE DERROTAR A EXTREMA DIREITA
Nosso partido mobilizará a sociedade para que Evandro prefeito, de fato, implemente as propostas pelas quais a maioria da população o elegeu. A situação política é cada vez mais desfavorável para classe trabalhadora, mulheres, indígenas, negritude, comunidade LGBTQIA+ e movimentos sociais. A classe trabalhadora vive hoje um aumento da jornada de trabalho e os salários não crescem conforme o custo de vida. Temos uma luta em curso do fim da jornada 6x1, na qual uma parte relevante da classe trabalhadora vem defendendo e nosso partido é linha de frente. A extrema-direita, fortalecida com o resultado eleitoral, inclusive crescendo no Nordeste, busca emparedar o governo Lula para levá-lo a uma situação de ingovernabilidade. Nesse cenário, propostas como o pacote fiscal que retrocede em direitos e arrocha as condições de vida do povo trabalhador, é um grave erro e dificulta nosso combate à extrema-direita.
Assim como medidas do governador Elmano de Freitas (PT), que corretamente ajudamos a eleger contra a extrema-direita, mas empossado no Palácio da Abolição, adota medidas contra os professores e a educação, vide a greve das universidades estaduais e campanha salarial dos professores da rede básica e o retrocesso ambiental buscando liberar o uso de drones para pulverização aérea de agrotóxicos. Dessa forma, em vez de combate à extrema-direita terminam por atacar a classe trabalhadora que ajudou a elegê-los, retirando seus direitos.
É por isso que o PSOL segue reafirmando sua decisão de defender estes governos de qualquer ataque da extrema-direita, mas mantém sua autonomia política para mobilizar a população contra medidas erráticas. Devido a isso, nosso partido não pleiteia e nem ocupa cargos nestes governos. Quem o fizer por motivação individual, deve afastar-se de seus postos no interior do PSOL, conforme resolução do Diretório Nacional.
Além disso, a candidatura de Evandro representou uma articulação eleitoral que incorporou partidos e figuras burguesas de direita. Por isso, essa composição política representa também a força da máquina e do poder econômico das elites, apesar de ter ampla base de trabalhadores e trabalhadoras que a apoiam por enxergar nela a alternativa viável para frear o avanço da extrema-direita bolsonarista. Por isso o PSOL deve ter ainda mais protagonismo na afirmação de um programa que esteja comprometido com os interesses da classe trabalhadora, pois o que nos move não é a corrida para ocupação de secretarias e outros cargos em escalões inferiores da administração pública, típicas da velha política patrimonialista.
Por outro lado, também é fundamental a independência para fazer ecoar as lutas e resistências do povo organizado, em defesa dos seus direitos.
Entendemos ainda que é fundamental o amplo debate nas instâncias do partido, bases populares organizadas, figuras públicas e parlamentares sobre os desafios colocados para o próximo período em Fortaleza.
Diante disso, os coletivos e filiados do PSOL signatários desta Carta reafirmam a continuidade da luta pela conquista dos objetivos imediatos e históricos, acumulados em nossa experiência partidária e na luta com os movimentos sociais. Nossa bancada reeleita não vacilará em fazer o combate unitário contra a bancada bolsonarista, fazendo a defesa das medidas progressivas que a gestão capitaneada por Evandro Leitão apresentar, ao tempo em que resguardamos nossa completa independência política para defender as causas populares, o meio ambiente e os interesse das camadas subalternizadas da sociedade, votando contra esse mesmo governo sempre que se fizer necessário.