O confronto protagonizado, nesta quarta-feira (26), pelo senador cearense Eduardo Girão (Podemos) e o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), não é o primeiro. Os dois parlamentares já divergiram durante outras sessões do colegiado, que completa 30 dias de atuação.
Em bate-boca acalorado durante a discussão da CPI da Covid desta quarta, Omar Aziz chamou Girão de "oportunista" e afirmou que o único objetivo do cearense é que o colegiado "não investigue por que a gente não comprou vacina".
A discussão ocorreu em meio à definição de quais serão os próximos convocados para prestar depoimento, quando Girão questionou se não seriam chamados também prefeitos ou ex-prefeitos de cidades onde foram realizadas operações da Polícia Federal desde o início da pandemia.
Aziz chegou a afirmar que houve um acordo entre os senadores para chamar nove governadores e ouvir novamente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-ministro, Eduardo Pazzuelo. Girão disse não ter feito acordo algum.
"Vossa Excelência é um oportunista, e um oportunista pequeno", falou Aziz para Girão, no que o cearense afirmou que sofreu "agressão" e disse respeitar o presidente da CPI.
"Vossa Excelência não respeita ninguém. Age sorrateiramente", disse Omar Aziz. "O senhor está sendo pressionado pela população brasileira que quer toda a verdade. O senhor só quer parte da verdade", rebateu Girão.
Em entrevista coletiva após a reunião, Eduardo Girão afirmou que foi "agredido pelo presidente da CPI" e que sempre respeitou Aziz, apesar das divergências políticas. "Isso tudo contribui para uma imagem péssima que estamos passando para a população", disse o senador.
"Ser destratado por defender os interesses da Nação para que toda a verdade venha à tona é motivo de honra para mim", acrescentou, por meio de nota.
Outros confrontos com Aziz
Os dois senadores protagonizaram bate-boca em, pelo menos, mais duas sessões da CPI da Covid. Ambas ocorreram durante a segunda semana de depoimentos.
No dia 12 de maio, na reunião em que foi ouvido o ex-secretário de Comunicação do Governo Federal, Fábio Wajngarten, Eduardo Girão defendeu a testemunha.
Segundo ele, estaria ocorrendo uma "intimidação" de Wajngarten por parte dos parlamentares. "Um cidadão que merece respeito, não merece ser humilhado", criticou.
Aziz rebateu a acusação: "Ele não está sendo humilhado, ele está sendo bem tratado. Humilhado é 425 mil mortes nesse Brasil, porque não tem vacina no Brasil. Essas pessoas estão sendo humilhadas".
O embate entre os dois senadores se repetiu no dia seguinte, dia 13 de maio. Durante o depoimento do ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, os dois voltaram a se desentender.
Eduardo Girão pediu que Carlos Murillo, que agora ocupa a função de CEO da Pfizer na América Latina, apresentasse lista de países que tinham tido entrega de vacinas atrasadas pela farmacêutica.
"O senhor acha que porque atrasou a entrega, não devemos comprar da Pfizer? Pelo amor de Deus", respondeu Omar Aziz.
Girão disse que queria "apenas a informação" e que tinha recebido dados de que a Pfizer teria atrasado a dose em "mais de um" país. "Por que são dois pesos e duas medidas aqui?", indagou.
"Eu tenho paciência, (mas) senador, estamos nos apegando a umas coisas. Nós sabemos que se o presidente quisesse ter emitido Medida Provisória, teria resolvido a questão jurídica", disse Aziz. "Daqui a pouco, o Congresso vai ser responsável pelo atraso".
Embates com outros integrantes da CPI
Declarando-se como "independente", Eduardo Girão é entendido por alguns dos outros senadores como parte da 'tropa de choque' alinhada ao Governo Federal - já que, em alguns depoimentos, segue estratégias semelhantes aos senadores governistas.
Por conta destes posicionamentos, o cearense também se desentendeu com colegas titulares da CPI da Covid.
Durante o depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no dia 6 de maio, Girão discutiu com o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
"Eu percebo que o senhor induziu várias vezes hoje a percepção do ministro, inclusive com intimidação, como um promotor de acusação", criticou Girão.
Omar Aziz pontuou que todos os parlamentares participantes têm direito de fazer perguntas: "todos têm direito a fazer as perguntas, principalmente os titulares". “Isso aqui não é tribunal de filme americano”, Girão ouviu como resposta de um dos colegas.
Outro bate-boca entre o senador cearense e o colega Otto Alencar (PSD-BA), durante o depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, levou à suspensão temporária da sessão no dia 18 de maio.
Após Otto Alencar afirmar que pessoas sem qualificação profissional que prescrevem medicamentos sem comprovação científica são charlatões, Eduardo Girão chamou o colega de "mentiroso".
Alencar rebateu afirmando que Girão "colocou a carapuça na cabeça" e disse que "quem prescreve remédio sem ser médico é charlatão mesmo". O cearense, por outro lado, afirmou que Otto Alencar estava incomodado pela defesa de Girão por investigações do Consórcio Nordeste.