Como fazer uma boa redação para concurso público? Veja como estudar, o que zera e como treinar

O Diário do Nordeste conversou com especialistas no assunto e traz dicas para fazer a prova

Uma boa prova de redação desempenha papel crucial para aprovação em um concurso público, sendo este um modelo de avaliação que exige do candidato muito mais do que escrever bem ou dominar todas as regras gramaticais da língua portuguesa. 

Por meio da redação, as bancas organizadoras também avaliam a capacidade do candidato de organizar ideias e defender seus argumentos de forma clara, coesa e consistente, e que estejam em total acordo com o tema proposto. 

Para isso, é fundamental estar por dentro dos principais assuntos discutidos na atualidade, e saber dividir o texto em parágrafos estruturalmente distintos. 

Diário do Nordeste conversou com os professores Neto Fontenele e Mariana Alves, especialistas em redação para concurso público, e apresenta dicas e orientações de como fazer uma boa prova. 

Quais os tipos de texto mais cobrados?

O tipo de texto mais cobrado nas provas de redação de concurso público é o dissertativo-argumentativo, afirma a professora Mariana Alves, o que requer a argumentação sobre o tema proposto pela banca. 

Nesse tipo de texto, segundo acrescenta o professor Neto Fontenele, é fundamental que o candidato exponha uma opinião, chamada tese ou ponto de vista, que deve ser defendida por argumentos consistentes no desenvolvimento.

"Pode ser cobrado também o texto dissertativo-expositivo. Aqui o candidato desenvolve um tema de uma área específica do conhecimento, contudo sem fazer uso de argumentos, já que não vai expor uma tese", explica. 

Outra possibilidade é o estudo de caso para concurso de carreiras jurídicas, conforme destaca o professor. O candidato, a partir de um caso concreto, escreve uma resposta a qual deve ser fundamentada nas leis de cada área do conhecimento jurídico.

Para tentar se antecipar ao tema, Neto Fontenele orienta que o candidato fique atento à área de conhecimento do cargo, e acompanhar o que está sendo discutido na sociedade na zona de interesse do cargo.

"Dito isso, é possível estudar as nuances de cada concurso e de cada banca para analisar os temas cobrados anteriormente e, dessa forma, orientar-se sobre os assuntos com mais chance de serem abordados na redação", diz. 

Como treinar redação e o que estudar?

Uma boa redação demanda especialmente muito treino. Mariana Alves recomenda que a prática textual deva ser de no mínimo uma vez por semana, e orienta que com os modelos sejam corrigidos por um profissional.

"Uma boa estratégia é anotar dados e pesquisas, rever essas informações para lembrar na hora da prova e montar a sua própria estrutura de texto com a ajuda de um especialista", destaca. 

Segundo Neto Fontenele, é preciso estudar as premissas do texto dissertativo-argumentativo, como a função de cada parágrafo, a tese, os tipos de argumentos; assim como as regras gramaticais de concordância, regência, pontuação, colocação pronominal, e acentuação.

As provas também demandam, pontua ele, uma revisão dos elementos de coesão (referencial, sequencial e lexical) para melhorar o nível da linguagem.

Como estruturar o texto e fazer uma boa argumentação? 

A estrutura do texto dissertativo-argumentativo deve ser em quatro parágrafos. Segundo a professora Mariana, o candidato deve utilizar conectivos relacionados ao contexto geral do texto, e fundamentar seus argumentos com elementos históricos, legislação, citações de filósofos, além de interpretá-los de acordo com o tema proposto.  

Para Neto Fontenele, a melhor estratégia de escrita é estruturar parágrafos coesos, onde cada um tratará de um aspecto específico do tema. "Inicie com uma frase que introduza a ideia central e desenvolva-a com argumentos e exemplos relevantes. Isso ajuda a garantir uma estrutura lógica e coerente ao texto", destaca o professor. 

"Já na argumentação, utilize citações de especialistas, autores renomados, filósofos, cientistas, professores etc. ou dados estatísticos para reforçar seus argumentos. Isso demonstra embasamento, enriquece e ainda dá mais sofisticação ao seu texto. Além disso, faça a utilização de exemplos reais e relevantes para ilustrar seus argumentos", acrescenta o professor. 

Neto Fontenele explica, ainda, que saber os elementos macrotextuais e microtextuais são fundamentais na estrutura de toda redação. Conforme aponta, para um texto dissertativo-argumentativo a estrutura macro divide os quatro parágrafos da seguinte maneira:

  • 1º parágrafo: introdução com três períodos;
  • 2º parágrafo: desenvolvimento com quatro períodos cada;
  • 3º parágrafo: conclusão com dois ou três períodos.

Já na estrutura microtextual, o candidato deve saber o objetivo de cada período e de cada parágrafo. Neto Fontenele lista como o texto deve ser estruturado nesse caso: 

  • Parágrafo de introdução (Com 3 períodos): No 1º é o momento de contextualizar o assunto. É recomendado utilizar um bom repertório sociocultural a fim de dar mais sustentação à ideia. No 2º, a tese deve ser feita com foco no tema da redação. No 3º, faz-se o encaminhamento argumentativo, ou seja, o que será debatido nos parágrafos de desenvolvimento.
  • Parágrafo de desenvolvimento (Com 4 períodos cada): No 1º, deve-se apresentar o tópico frasal, ou seja, a ideia central do parágrafo, o assunto que será discutido. No 2º, colocar outro repertório que discuta o tópico frasal. No 3º, comentar com palavras do candidato o conteúdo do repertório, ligando-o ao tópico frasal. Já no 4º, é o desfecho, que pode ser o reconhecimento de que o tópico frasal de fato tem importância e deve ser debatido. A estratégia deve ser repetida com o 2º tópico frasal no parágrafo seguinte.
  • Parágrafo de desenvolvimento (Com 2 ou 3 períodos): No 1º, retomar o tema da redação e o seu posicionamento central. Isso pode ser feito com o uso de palavras-chave, por exemplo. No 2º, enfatizar o ponto de vista do candidato e chamar a atenção de quem está lendo. Importante lembrar que esse não é o momento de introduzir outros pontos de discussão. Ou seja, não se deve apresentar ideias novas ao seu texto.

Dicas para a hora da prova

Na hora da prova, o candidato deve ter uma boa estratégia para conseguir escrever um bom texto em, no máximo, uma hora e meia, segundo recomenda Neto Fontenele. 

O professor chama atenção para os textos motivadores e do tema, que fazem boas inferências em forma de frases, e por meio dos quais o candidato já pode fazer um esboço do que escrever.

"Os textos motivadores são excelentes fontes de inspiração de boas ideias. Porém, vale ressaltar que não se deve simplesmente copiá-los, mas fazer construções textuais com inspiração nos textos motivadores", alerta o docente. 

Fazer uma boa revisão do texto é fundamental, acrescenta o professor, para que se evite erros tanto nos aspectos semânticos como nos gramaticais. Ainda nesse contexto, Mariana Alves recomenda que os candidatos façam uso do rascunho, e passem a limpo somente após terem respondido toda a prova. 

Correção e pontos

Cada concurso aborda a redação com critérios específicos de correção, mas segundo a dica de Neto Fontenele, os editais sempre dão uma prévia do que estudar. No entanto, o tipo de texto e a gramática são, geralmente, aquilo que será mais pontuado, destaca o professor. 

Outros pontos que devem ser verificados na correção, de acordo com ele, são o uso de gírias e expressões da oralidade, vocabulário rebuscado não condizente com o texto, a não apresentação de uma determinada estrutura textual, falta de objetividade, o uso de senso comum, além da falta de opinião própria e o baixo poder de argumentação.

O que pode zerar a redação?

Ainda conforme o especialista, o não atendimento ao tipo textual proposto e a fuga do tema são os principais motivos que levarão o candidato a ter nota zero na redação de concurso público.

"Além deles, outros fatores devem ser considerados como: apresentação de texto não articulado verbalmente em prosa (versos, desenhos, números e palavras soltas); assinatura do candidato; apresentação de qualquer sinal que, de alguma forma, possibilite a identificação do candidato; escrita a lápis. Portanto, ficar atento a isso é fundamental", explica. 

*Mariana Alves é professora formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), especialista em redação/discursiva de concurso público com 13 anos de experiência na área.

*Neto Fontenele é graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), e atua como professor de português e redação para concursos.