A emergência climática não atinge a todo/as da mesma forma, afeta mais a população negra. A variável raça, juntamente com classe e gênero, é indissociável dos conflitos socioambientais, pois estrutura as formas de apropriação dos bens ambientais.
Pertencer aos grupos racializados subalternamente, habitar as bordas do sistema mundo, nas periferias, faz com que sintam primeiro os efeitos das mudanças climática extremas como alteração no regime das chuvas, aumento da temperatura global, danos irreparáveis à natureza e degradação dos espaços coletivos. Vivem e sobrevivem em situação de constantes vulnerabilidades, de adoecimentos, compartilhando sensações sistemáticas de insegurança e medo de que a qualquer momento sejam vítimas de desastre ambientais.
Muitos desses desastres provocados por fatores climáticos não podem ser lidos como algo inesperado, fora do controle e previsibilidade ou obra do destino, posto que são consequências das ações provocadas pelo modelo de desenvolvimento excludente e desigual.
Aqueles que vivem em cenários de extrema pobreza, em territórios destituídos de saneamento básico, correm risco ao morar nas encostas de morros, lugares insalubres sujeitos aos efeitos das enchentes, deslizamento de terra, sem energia elétrica, água potável e rede de esgoto, impactados pela poluição causada por empreendimentos industriais, materiais expelidos nocivos à saúde, locais de despejo de rejeitos, lixões e aterros sanitários.
Essas condições conformam um quadro de injustiça ambiental para aqueles que não tem como escolher residir em outros espaços.
Faz-se necessário que as políticas públicas de enfrentamento à emergência climática tenham eficiência, considerem os efeitos deletérios do racismo ambiental, com foco nas populações de alta vulnerabilidade à mudança do clima, como povos originários, população negra, quilombolas e outros povos e comunidades tradicionais, e por isso mesmo diretamente atingidas na sua cultura e perfis identitários como grupos minorizados, com sérias dificuldades de acessar políticas de proteção social, de reconhecimento, distribuição econômica e o conjunto dos direitos humanos.
As ações que visem superar o silenciamento acerca do racismo ambiental e romper com culpa imputada aos pobres e negros/as pela injusta distribuição de recursos ambientais, devem ter como norte a mitigação desses efeitos prejudiciais. E para tanto, cabe uma concertação entre os esforços de pesquisadores do tema, acadêmicos, especialistas do poder público e a participação da sociedade civil, em especial os grupos que operam como guardiões da biodiversidade, e lutam justiça climática-ambiental, compreender e defender a natureza como bem comum.