A anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Operação Lava Jato, pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou imediatas repercussões no Ceará. Em um tabuleiro eleitoral ainda cheio de peças em aberto até 2022, o episódio inaugura mais um capítulo de uma narrativa que é alvo de disputa nos últimos anos: Lula x Bolsonaro. No Ceará, reduto historicamente petista, mas cada vez mais cobiçado pelo bolsonarismo, os dois polos travam, desde já, nova disputa para tentar capitalizar força política com isso.
Parlamentares petistas no Estado celebram, nas redes sociais, a decisão de Fachin como uma derrota, sobretudo, para o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, também ex-juiz da Operação Lava Jato, ao mesmo tempo em que veem mais aberto o caminho para eventual chapa liderada pelo ex-presidente no ano que vem.
O PT, que vem sofrendo perdas nos últimos anos – e que não construiu na figura de Fernando Haddad, após a derrota na eleição presidencial de 2018, uma candidatura consolidada –, deve se agarrar à possibilidade de ver Lula candidato e explorar isso em seus redutos eleitorais. O Nordeste, sob a confirmação desta perspectiva, é estratégico.
No Ceará, vale lembrar que nem Haddad nem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) venceram no primeiro turno do último pleito geral. Foi Ciro Gomes (PDT) - cujo nome está posto para 2022 - o presidenciável mais votado no primeiro embate, embora o Estado tenha dado ao postulante petista ampla maioria dos votos no segundo turno da eleição.
Bolsonaro no Ceará
Com Lula um tanto mais distante fisicamente das bandas de cá, embora tenha marcado presença, virtualmente, nas campanhas para prefeituras em 2020, quem tem protagonizado disputa por espaço com mais visibilidade no Estado são, de um lado, o próprio Bolsonaro e, de outro, Ciro Gomes, forte aliado do governador Camilo Santana (PT).
Se não esteve em terras cearenses durante toda a eleição de 2018 – lembrando que parte dela não foi de andanças pelo País devido à facada que sofreu –, Bolsonaro já esteve no Ceará duas vezes desde que assumiu o Palácio do Planalto.
Sempre com o seu grupo fiel de apoiadores no Estado, incluindo parlamentares da base aliada do governador, ele faz de cada visita, em palavras, gestos e até vestimenta (ou seja, na performance como um todo), uma investida em busca da simpatia de uma fatia mais numerosa do eleitorado cearense.
Ciro Gomes, por sua vez, direciona dupla artilharia para pavimentar novo intento até o Governo Federal: com críticas severas a Jair Bolsonaro, a quem quer ver fora do poder, e também a Lula, que acusa de colocar interesses individuais, seus e do partido, acima de uma visão que considera mais realista do cenário político brasileiro.
Nesta segunda-feira (8) mesmo, mais cedo, o ex-governador chamou Fernando Haddad, em entrevista ao portal Uol, de “Fernando Henrique menos um que o Lula quer impor ao povo brasileiro”. As próximas declarações podem até passar por adaptações diante da nova realidade, com o ex-presidente elegível novamente, mas a base do argumento certamente se manterá.
Lula cabo eleitoral
O PT cearense, em meio a tudo isso, nunca deixou de apostar em Lula como seu principal cabo eleitoral. E, até certo ponto, isso vem dando certo. Apesar da perda de espaços nos executivos municipais, e da dificuldade de renovar lideranças também em âmbito local, o partido ainda tem presença considerável nos parlamentos no Estado, e tem, claro, o governador, com bons índices de aprovação, como a maior liderança petista no Ceará.
Quando a situação de Lula era outra, Camilo foi, aliás, intermediador de um diálogo entre o ex-presidente e Ciro Gomes, infrutífero em relação a qualquer aliança. A decisão de Fachin, talvez não agora, imporá ao chefe do Executivo Estadual a necessidade de equilibrar-se novamente entre as duas lideranças, sem deixar de se posicionar.
Será a nova reviravolta envolvendo o ex-presidente capaz de levar a legenda, novamente, a outros patamares por aqui?