A trilha sonora pró-Bolsonaro levou às ruas de Fortaleza uma campanha em pleno 7 de setembro

Músicas que embalaram atos pregavam aproximação do presidente com o Nordeste, voto declarado e críticas a adversários

O discurso dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que foram às ruas nesta terça-feira (7) era de que não havia teor eleitoral, tampouco antidemocrático, nas manifestações. Argumento que, durante os atos em Fortaleza, se mostrou duplamente questionável: além dos ataques às instituições - que não podem ser encarados como normais numa democracia -, a trilha sonora que embalou o percurso bolsonarista entre a Arena Castelão e a Praça Portugal também fez parecer que as eleições gerais do ano que vem já começaram.  

A tirar pelo que ecoava dos carros de som, o clima foi de campanha - com músicas, inclusive, remanescentes do pleito de 2018. Uma delas, que diz que “Bolsonaro é Norte, Bolsonaro é Nordeste. Vai, Bolsonaro!”, já havia ganhado as redes sociais por ter sido pano de fundo de um “flash mob” de eleitores do presidente em território cearense naquele ano. Voltou nesta terça, com direito a menção ao número 17, que nem mais representa Bolsonaro. 

Uma paródia bolsonarista do funk “Baile de Favela” também atravessou ruas de Fortaleza enaltecendo o presidente ao passo que atacava adversários dele.

MC Reaça, intérprete da versão, canta que “Pra votar Bolsonaro minha mão já tá tremendo” e dispara, num contexto de três anos atrás, contra nomes tidos como virtuais concorrentes do presidente em sua tentativa de reeleição: “Ciro Gomes, baita Zé ruela/Lula preso dentro de uma cela”. Críticas um tanto desatualizadas, entre versos impregnados de machismo e sexismo, que ainda devem inflamar a base bolsonarista até 2022. 

"Nordestino com Jair"

Outra música que voltou a aparecer neste 7 de setembro foi “Eu sou bolsonariano”, composição de Pastor Alcides, pai do deputado estadual André Fernandes (Republicanos). Com um apelo regional, a letra afirma que “nordestino de bem tá com Jair Bolsonaro” e que “o Nordeste se acordou”, para arrematar: “Voto nele e repito que sou bolsonariano”. 

Some aos carros de som uma carreata e se tem, ainda que indiretamente, uma campanha fora de época. Se, em Brasília e São Paulo, Bolsonaro não falou diretamente sobre ser candidato em 2022, no Ceará, o deputado federal Capitão Wagner (Pros), que já havia sido afagado pelo presidente no Cariri, não fez questão de fugir do assunto: reafirmou no palco do protesto a pré-candidatura ao Governo do Estado no ano que vem. 

Ato pró-Governo

As músicas eleitorais não são um elemento adicionado aos atos por acaso. Elas reafirmam que a defesa da liberdade acabou travestindo manifestações, em essência, favoráveis ao presidente, à manutenção de um projeto de poder que alimentou sua base até este Dia da Independência com insinuações autoritárias de ruptura institucional. 

Sempre ao estilo Bolsonaro, de se valer das contradições, do dito pelo não dito, para enviar recados que não condizem com o cargo que ocupa e, ao mesmo tempo, negar que aja na contramão do que se espera de um presidente. 

Não emergiram dos atos outras pautas que efetivamente estão conectadas à realidade do País. Ao contrário, foram como outros pró-Governo, utilizados não apenas por Bolsonaro, mas também pelos seus aliados, como investida pré-eleitoral.