Após as últimas derrotas eleitorais em âmbito estadual, a oposição no Ceará tentará, mais uma vez, destronar, no ano que vem, o grupo político liderado por Cid e Ciro Gomes (PDT), que comanda o Estado, pelo menos, desde 2006, quando o irmão mais novo venceu a disputa pelo Governo do Estado ainda no primeiro turno, derrotando a bem avaliada gestão de Lúcio Alcântara (PSDB).
Para 2022, são grandes os desafios. Para surpreender o grupo governista, os dirigentes partidários precisam atrair novos aliados e apresentar um projeto inovador de gestão.
Se em 2014 a oposição com Eunício Oliveira (MDB) deu trabalho para Camilo Santana (PT), quatro anos mais tarde a tarefa governista para o Executivo foi relativamente tranquila. A oposição, no entanto, conseguiu surpreender elegendo o senador Eduardo Girão (Podemos).
A trajetória para vencer os governistas não é nada fácil, claro, mas há caminhos que precisam ser observados pelas lideranças partidárias e que esta coluna se propõe a elencar.
Eleição não é uma fórmula matemática que é solucionada através de um cálculo, ou uma receita de bolo que se resolve cumprindo etapas burocráticas. Vimos, deliberadas vezes, surpresas, e que podem se repetir.
Apesar das dificuldades e da improbabilidade, é possível minimizar os erros cometidos em anos anteriores e melhorar as estratégias que podem ajudar na estruturação de uma frente. Na sequência, listo cinco desafios que o grupo da oposição vai precisar superar para ganhar mais poder de fogo na disputa política de 2022.
Diálogo
O grupo da oposição, hoje capitaneado pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros) e o senador Eduardo Girão (Podemos), perdeu força partidária nos últimos pleitos. Em 2014, o grupo tinha o senador Eunício Oliveira (MDB) e Tasso Jereissati (PSDB), ambos com força no interior.
Quatro anos mais tarde, o emedebista mudou de lado, deixando Capitão Wagner, Tasso Jereissati e Eduardo Girão (ainda desconhecido à época) no mesmo palanque contra o governo.
Na última eleição municipal, Tasso Jereissati mostrou aproximação política com os irmãos Ferreira Gomes. O provável desembarque para o pleito do ano que vem deixa Girão e Wagner sozinhos eleitoralmente.
A capacidade de se reinventar e agregar novos aliados é uma das saídas para o grupo se fortalecer em 2022. Do tamanho que está, a oposição deve continuar enfrentando dificuldades na próxima disputa eleitoral.
Capitão Wagner, Eduardo Girão e o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB), ao lado dos prefeitos de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), e de Caucaia, Vitor Valim (Pros), terão que exaurir as conversas em todas as frentes com o desafio de unir forças.
Entidades representativas e movimentos sociais organizados podem ser caminhos para suprir a ausência partidária. Na medida em que as lideranças tradicionais se afastam, o desafio da oposição é renovar as forças contrárias ao governismo conquistando diferentes grupos insatisfeitos com a atual gestão.
Articulação
O Ceará tem uma extensão territorial igual ou até maior do que vários países da Europa. São 184 municípios. Diante disso, as lideranças estaduais e regionais serão ponto chave na estruturação do grupo. Apesar da derrota apertada em Fortaleza nas eleições municipais de 2020, o grupo obteve sucesso em Juazeiro do Norte, Caucaia e São Gonçalo do Amarante, que são cidades importantes economicamente e eleitoralmente a nível estadual.
Diferentemente de quatro anos atrás, o atual cenário dá força para o trabalho de articulação regional e de maior poder de negociação com outros prefeitos e até caciques de partidos tradicionais. Com Tasso Jereissati se aproximando do grupo governista e Eunício Oliveira fiel ao governador Camilo Santana, o desafio para atrair lideranças regionais só cresce.
A exemplo de nomes com esse poder de articulação regional, podemos citar o ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), que elegeu 28 prefeitos em 2020, e o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), que mostra força na Região Metropolitana de Fortaleza. Ambos, no entanto, são governistas.
Outro ponto primordial no trabalho de articulação é a eleição presidencial, que deve impactar muito fortemente no Estado. Wagner e Girão ainda não mostram clareza para o eleitor sobre a posição política deles em relação ao Governo Federal. Louros e desgastes fazem parte do jogo político. A indefinição é prejudicial.
Provavelmente teremos Ciro Gomes, mais uma vez, candidato à presidência da República. Lula, que tem força no Estado, também deve ser candidato. Embora Wagner e Girão reforcem a tese da independência, o candidato presidencial de 2022 que demostra mais afinidade com a oposição é o presidente Jair Bolsonaro, que, em 2018, terminou a disputa de primeiro turno no Ceará em terceiro lugar, atrás de Ciro Gomes e Fernando Haddad (PT). O grupo precisa deixar claro para o cearense de que lado está.
Projeto
Está mais do que provado que pauta única não vence eleição majoritária. Em 2018, a candidatura do general Guilherme Theophilo não emplacou. Apesar da dificuldade de conter os números da criminalidade, o governo não teve dificuldades para reeleger Camilo Santana.
O eleitor precisa ter a segurança de que o seu gestor tem a capacidade e a sensibilidade para gerir assuntos diversos. O candidato precisa ter "a cara" de gestor público. Mostrar conhecimento do lugar que quer governar e apontar soluções viáveis, concretas, com responsabilidade. O postulante precisa provar ao cidadão que tem condições de resolver problemas, desde os mais sensíveis aos mais resistentes.
Nesse sentido, um dos desafios da oposição é se aproximar de pautas que lhe tragam credibilidade com diferentes camadas da população. Ou seja, falar a mais territórios temáticos. O eleitor sabe quando a liderança política tenta surfar em ondas de momento. Quando o assunto "morre" nas redes sociais, as lideranças também mudam o foco. O assunto, portanto, não cria afinidade alguma com o partido ou com as pré-candidaturas.
O papel de quem está na oposição é pautar os debates, e pautar com propriedade, conhecimento, para, aos poucos, a criação de um projeto em comum. Salvo raras exceções, não há sucesso eleitoral em disputa majoritária com grupo sem projeto administrativo sólido e uníssono.
Capacidade de inovação
Vou reforçar, novamente, que não há fórmulas mágicas para vencer uma disputa eleitoral, o que há são caminhos que ajudam a queda de braço ficar mais interessante. Um desses passos, e que pode ser muito eficiente para quem não conseguiu avançar em muitas etapas que citei anteriormente, é a capacidade de inovação.
Cid Gomes era desconhecido do grande eleitorado cearense. Antes de ser governador, tinha sido prefeito de Sobral e deputado estadual. Na corrida eleitoral contra Lúcio Alcântara (bem avaliado pelas pesquisas da época), conseguiu levar a disputa ainda no primeiro turno.
Apesar de ter conseguido o apoio da prefeitura de Fortaleza, e de ter o irmão Ciro Gomes como o principal cabo eleitoral, Cid teve méritos na disputa pelo Palácio da Abolição em 2006 por conseguir passar a mensagem do "novo" para o eleitor.
Se lembrarmos oito anos mais tarde, em 2014, apesar de toda a máquina à disposição, Camilo Santana suou a camisa para derrotar Eunício Oliveira. Na época, Roberto Cláudio (PDT) era prefeito e Cid Gomes o governador. Ambos pediram votos para o petista. Os números reforçam os méritos do ex-governador.
Apoio
Representantes de entidades temáticas costumam mostrar fidelidade (na maioria das vezes) ao seu interlocutor na hora do voto. A categoria policial jamais abandonou Wagner e seus aliados, por exemplo. E é natural que as gestões ganhem mais espaços com diferentes setores sociais pela capacidade de execução de demandas. Por outro lado, há muitas insatisfações.
O Executivo, em geral, não consegue atender a todos os pleitos, não dialoga na mesma intensidade com todos os movimentos sociais. É aí que a oposição pode ganhar terreno. Essa articulação é feita no dia a dia, com muito diálogo e atenção.
A presença física ou virtual na rotina dessas pautas é que constrói os laços. São esses movimentos, inclusive, que ajudam grupos políticos a montar projetos administrativos. A participação popular, principalmente as mais vulneráveis em periferias, é primordial para o fazer político.
* A coluna publicará nos próximos dias os desafios do grupo governista para 2022.