Quem espera na fila por uma mesa no sempre lotado Carneiro do Ordones não imagina que a rede de restaurantes - hoje um negócio multimilionário, consolidado como um grande player no mercado cearense de alimentação - começou com uma pequena venda de espetinhos, décadas atrás.
O homem que dá nome à marca, Antonio Ordones Pereira - mais conhecido como Ordones - foi taxista por 12 anos em Fortaleza. E foi justamente rodando pela cidade que veio a ideia de iniciar um pequeno negócio. "Não era aquilo que eu queria (ser motorista). Queria outra coisa", relembra, em conversa com esta Coluna.
No táxi, frequentemente levava passageiros que queriam almoçar carneiro de Fortaleza para Maranguape e Caucaia. A iguaria, lembra ele, até então era considerada "comida de pobre" pelos fortalezenses e era dificilmente encontrada na Capital.
Ele identificou a forte demanda e começou a vender espetinho de carneiro na calçada, "no meio do tempo", nas palavras dele, lá pelos idos de 1995.
FREEZER PARCELADO EM 12X NA SAMASA
Tudo começou na Parquelândia, onde morava, bairro cujo crescimento se confunde com a expansão do próprio Carneiro do Ordones, hoje uma das marcas importantes para a economia daquela região da cidade.
Nos primórdios, o ambulante vendia exclusivamente os espetos de carneiro. Foi quando os clientes pediram mais. "O pessoal dizia que não tinha nada pra misturar, uma cervejinha, um baião. Eu não tinha dinheiro pra botar a cerveja, mas tinha vontade", conta.
Foi até a (extinta loja) Samasa e comprou um freezer no carnê, parcelado em 12 vezes. O refrigerador ficava na garagem da casa, dividindo espaço com o táxi, e era recolhido à noite.
"Com três meses, não tinha mais lugar pra botar ninguém. Aí comecei a reformar a casa pra criar espaço para os clientes. Foi ficando pequeno. Derrubava um quarto, depois outro. Quanto mais eu reformava, mais gente aparecia", rememora.
Até que não mais conseguia habitar a própria casa e teve de alugar um imóvel nas proximidades, enquanto o restaurante começava a prosperar.
"O crescimento foi rápido. Ninguém vendia carneiro. Foi um diferencial. Eu não tinha dinheiro pra investir, mas não esmoreci. Tomei gosto pelo negócio e tive fé no momento de dificuldade", ressalta.
REDE SE EXPANDE E FATURA MAIS DE R$ 70 MILHÕES
Hoje a Rede Ordones é um império do carneiro, com 8 lojas (quatro na Parquelândia, uma na Varjota, uma no North Shopping Jóquei e duas hamburguerias) e mais de 500 funcionários. Duas unidades pertencem à ex-esposa, Maria Irismar Furtado.
O faturamento ultrapassa os R$ 70 milhões por ano, com crescimento anual sólido, de 15%.
O empresário conta que é muito cobiçado por shopping centers para expandir, mas se diz cauteloso sobre novas aberturas. No entanto, há planos em curso para abrir lojas, embora Ordones não revele os detalhes. "Sempre com o pé no chão", diz. A mais recente abriu as portas no North Shopping Jóquei, em novembro do ano passado.
Ele afirma que o setor de restaurantes é desafiador e diz ser um dono com perfil de solucionador de problemas.
"Eu sou o proprietário, mas também posso ser um faxineiro, um cozinheiro, um churrasqueiro. Estou sempre à disposição".
'MEU NEGÓCIO É VENDER MUITO E VENDER BARATO'
Se o carneiro era comida de pobre lá atrás, agora a coisa mudou. "Na época que eu comecei a servir carneiro, a carne era R$ 2,50 o quilo e a bovina era R$ 7,50. Aumentou tanto a procura que hoje o carneiro chega a ser até o dobro do boi", compara.
E revela a estratégia do negócio: "Eu gosto de rotatividade, de vender muito e barato. É melhor do que vender pouco e caro".
A LENDA DA QUARTA ESQUINA
Na entrevista, Ordones e o filho Ordomar brincaram sobre a lenda urbana que existe em torno da casa localizada na única das quatro esquinas que não é ocupada pelos restaurantes da rede, na Rua Azevedo Bolão, na Parquelândia.
Segundo o boato, que corre há anos por Fortaleza, o empresário já tentou insistentemente comprar o imóvel para dominar todo o quadrilátero, sem sucesso. A história, garantem Ordones e Ordomar, é fake news.
"Nunca existiu isso (interesse na casa)", assegura, aos risos. "Desde o começo, a dona Estela (que ainda mora na casa), diz: 'isso aqui é minha vida'. Ela diz assim: a casa não é pra vender. E os meus filhos estão cientes de que, quando eu morrer, não é pra vender pra ninguém'", conta.