A segunda-feira chegou com imagens aterradoras de uma grave violência de gênero. Uma mulher sendo violentada dentro de casa na frente de sua filha, uma criança de apenas nove meses. O agressor era o então marido da vítima e pai da criança que presenciou a cena.
As cenas brutais viralizaram na internet ainda na noite de domingo. A comoção foi imediata e não havia como ser diferente. Passado o susto, descobre-se que o agressor é um DJ com certa fama. Paraibano, radicado aqui no Ceará, que trabalha com produção musical de artistas de repercussão nacional.
A comoção foi imediata. De um lado, a vítima recebia toda a congratulação por sua força e coragem. Ela publicou as imagens em seu perfil pessoal de uma rede social, expondo sua intimidade para toda a comunidade da internet. E denunciou o agressor, solicitando ainda uma medida protetiva.
Sim, uma mulher forte e inspiradora que não se calou frente ao machismo estrutural que mata mulheres diariamente.
Do outro, o agressor que, de imediato, já atacou a vítima. Publicou imagens descontextualizadas, tentado creditá-la como louca. Um dos clássicos mecanismos de silenciamento que o machismo utiliza. Além disso, acionou a Justiça, tentando impedi-la de falar publicamente sobre o assunto.
Ainda assim, o homem, conhecido como DJ Ivis, ampliou largamente seus seguidores nas redes sociais. Quando as imagens foram divulgadas, ele tinha 720 mil seguidores. Até esta quarta, eram 934 mil. O número superou 950 mil e depois iniciou um recuo.
A pergunta que me fiz e compartilho com vocês: o que faz as pessoas seguirem este homem? Que nível de adoecimento e embrutecimento nossa sociedade vive? Onde está nossa humanidade? Violência não gera o tal cancelamento?
Uma das hipóteses para esse aumento de seguidores seria o fato de as pessoas quererem acompanhar o desfecho. Mas é realmente necessário ouvir do agressor uma justificativa para ele ter batido em uma mulher, com o agravante de tê-lo feito na frente da filha deles?
O mundo virtual nos pede cuidados. As redes sociais entendem que, quando seguimos uma personalidade, curtimos ou compartilhamos seu conteúdo, aquele perfil está gerando “engajamento”. Assim sendo, esses perfis ganham mais visibilidade. Ou seja, quando agimos assim estamos valorizando aquela pessoa. É realmente isso que queremos?
Penso que não. Penso que precisamos – ao contrário do imediatismo que as redes sociais tenta nos impor – entender os processos e agir rumo a uma sociedade mais empática. O machismo é grave, e gera diversas violências. Nas imagens divulgadas, o agressor violenta a ex-esposa, a filha, a mãe da vítima e cada uma das mulheres que assistiu ao vídeo.
Não vamos dar palco ao machismo e à violência contra as mulheres, vamos construir um mundo mais justo, com uma rede de acolhimento tão necessária para que cheguemos à equidade de gênero.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.