O Quarteirão do Sucesso é do tempo do bumba

Qualquer geração tem ou teve o seu "quarteirão do sucesso", mas eu vou falar do meu, claro!

Aquilo não era um quarteirão. Era um estirão: Avenida Estados Unidos, da Dom Luís até a Abolição. Não tinha canteiro, nem iluminação central e nem faixas de pedestres. Eram poucos semáforos. Cabia uma fileira de carro para descer no sentido praia e, outra fileira, para subir no sentido sertão. A cilada era, exatamente, a ultrapassagem.

Estados Unidos com Dom Luís tinha uma lanchonete bem iluminada, com arquitetura moderna (que, até hoje, está lá, mantendo a carcaça original), com mesas ao redor de uma varanda elevada, na esquina, o que permitia qualquer pessoa ver e ser vista. Free Time era o point da paquera de uma turma: os “plays”.

Descendo mais um pouco, onde, hoje, está o Super Mercadinhos São Luiz era o Lúcia ’s Lanches. Ali, tinha um sanduiche com pão batata delicioso que consigo lembrar do sabor. Normalmente, o lugar era mais badalado aos domingos. Em frente, era o Chez Michou. Esse, aí, fez sucesso! Era mais estiloso, música bem vibe carioca, com garçons que a gente morria de conhecer, mas queriam se mostrar só porque estavam usando um lenço tipo bandana na cabeça. As “plays” candidatas ao posto de descoladas, arriscavam a nova fase por lá.

Dali era o lugar, também, para começar os “pegas” dos carros. “Ow” coisa sem futuro. Aquecimento dos motores dos carros e das motos. Dada a largada, quando chegavam ao cruzamento da Estados Unidos com a Avenida Antônio Justa, o estrago era medonho: ou encontravam com algum carro no cruzamento ou esbarravam no muro do edifício Brooklin que, por várias vezes, teve que ser refeito.Tudo isso sempre acontecia nas madrugadas de sextas e/ou de sábado. Pense que os sustos eram grandes. Gritos desesperados, brigas, turmas e mais turmas começavam a aglomerar, ambulâncias, tomavam conta daquele ambiente nada agradável. Afinal, era fácil chegar, rapidamente, ali: era o quarteirão do sucesso.

Descendo mais um pouquinho, já chegando na Avenida Abolição, tinha um shopping bem tradicional para a época e super desanimado, comercialmente. Havia umas lojinhas de roupas, biquinis e perfumes. O que salvava eram as lanchonetes e, por um tempo, o boliche. Agora, quando inaugurou a boate “The S Club”, o quarteirão ficou mais agitado.

Em frente, tinha uma loja com um produto super disputado na época: aluguel de cds. Marcus Flávio, o proprietário, trazia uns cds inéditos dos Estados Unidos para aluguel e, os “plays” eram seus maiores clientes. Circulavam em alto e bom som nos toca cds importados instalados nos carros que subiam e desciam a avenida do sucesso.

Ir e vir pela Estados Unidos em meados dos anos 80 até o final dos anos 90 era um verdadeiro desfile de carros depois das cinco da tarde.

Lembrei disso, porque só essa semana três pessoas chegaram para mim perguntando se eu me lembrava desse quarteirão do sucesso que venho descrevendo.

A abordagem foi porque eu morava ali, na Avenida Estados Unidos nº 30, exatamente na esquina com a Avenida Antônio Justa. Acordava dando um bom dia para Fortaleza e, nos finais de semana, pulava da cama nas madrugadas assustada com as colisões. Meu quarto tinha localização estratégica: era o da esquina mesmo!

Lanchava no Le Bon Apetit, uma lanchonete que ficava embaixo do Ed. Status, colado ao meu prédio. Era servida pelo garçom, Beto, uma simpatia! Nem sei mais por onde anda. Muitas vezes, sentava-me na caixa d’água do meu prédio com as minhas vizinhas para ver os paqueras que passavam de carro e arrancavam os nossos suspiros. Tudo tão romântico...

Ah, morar no “quarteirão do sucesso” teve seus sustos, mas também, muitas histórias para contar e, eu, tenho um monte.

Semana que vem, eu trago uma delas sem falar nomes, porque o povo existe, meu povo, só não faz o mesmo sucesso!

Tudo passa, né? Até a Estados Unidos virou Avenida Senador Virgílio Távora, ganhou semáforos, faixas de pedestres, canteiro e iluminação central, bem como motoristas mais atentos. Ainda é um sucesso pela valorização da localização, graças a Deus!

Mesmo que tudo passe, que tenhamos lembranças do tempo do bumba, parece que vivi, novamente, escrevendo aqui para vocês. Foi um sucesso gostoso relembrar e reviver!

E você, como se sente ao recordar as suas boas vivências? Se isso lhe traz momentos de alegria, que tal revivê-los? Com certeza, isso pode trazer um refresco à vida agitada que vive.

Que tal?

Dominguemos, amém!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.