Há três meses, iniciei um novo projeto em São Paulo. Estou filmando uma série de comédia para a Netflix. Passado esse tempo, retorno ao Ceará, onde estabeleci minha residência e fico dois meses de férias até dar início às gravações da novela Pantanal, na Globo. O próximo projeto vai me levar ao Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul por um período de, aproximadamente, oito meses.
Nos últimos quatro anos, depois que adentrei no mundo do audiovisual, tenho trabalhado muito mais tempo pelo eixo Rio-São Paulo do que no meu Ceará e, inevitavelmente, me questionam repetidamente sobre por que não morar no Sudeste, com a justificativa de que isso “facilitaria muito a minha carreira”.
Sinceramente, não conseguiria explicar aqui em que momento a chave virou e minha carreira enveredou para o audiovisual, mesmo que eu nunca tenha deixado os palcos de teatro. Confesso que não planejei o lugar de ator que ocupo hoje, mas tenho consciência da dimensão que isso tem e uma coisa nunca mudou na minha cabeça: não quero morar em outro lugar que não seja no Ceará.
Comecei no teatro em 1997 e a geração que antecede a minha sempre falava que para se tornar um artista renomado, é preciso morar no Rio de Janeiro ou em São Paulo. “É lá que tudo acontece”, diziam. Durante um bom tempo acreditei nisso. O mercado também me forçava a ter essa percepção. Entretanto, o que seria, de fato, ser um artista renomado? Eu me pergunto.
Acho que a nova geração de artistas cearenses prova que não precisamos abrir mão de manter os pés em nossa terra para alçar grandes voos. Figuras como Bráulio Bessa, Demick Lopes, Léo Suricate, Karla Karenina, Supremma, Espedito Seleiro e muitos outros fortalecem ainda mais a nova compreensão de que desterritorializar o artista é um passado que deve ser superado.
O grande pólo produtivo continua sendo na região Sudeste, mas o setor cultural do Nordeste também tem crescido. O cinema cearense chama cada vez mais a atenção da indústria, em especial, com trabalhos como os de Halder Gomes, Edmilson Filho, Armando Praça e Allan Deberton. A diferença é que agora, não precisamos mais migrar.
Torço pra que isso se intensifique, se fortaleça e a música Carneiro, de Ednardo, narre apenas a lembrança de uma realidade que não mais existe. Torço para que a gente some nossas conquistas conhecendo outras pessoas, construindo novos laços afetivos e profissionais, mas em especial, retornando para a nossa terra, cheios de experiências e representatividade para outras gerações.
Amanhã, se der o carneiro, o carneiro.
Vou-me embora daqui pra Fortaleza.
Porque, sim, fora do Ceará, estou bem, mas no meu Ceará estou ainda melhor!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.