Eleito neste domingo (30) em segundo turno, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá de tratar de algumas pautas para dar bons sinais ao mercado nos próximos meses.
A coluna conversou com economistas e elencou os cinco pontos mais importantes para a agenda do País e os desafios que o novo chefe do Executivo nacional terá de enfrentar para dar tranquilidade ao mercado, investidores internacionais e a população.
A lista de pautas prioritárias para os especialistas passa pela questão fiscal, com uma possível rediscussão das condições do teto de gasto e as despesas do Governo, até a reafirmação de questões ambientais para reforçar a imagem.
Lula também terá de focar em reforçar as camadas de proteção social por transferência de renda e em impulsionar a recuperação do mercado de trabalho.
Confira quais devem ser as prioridades do novo governo Lula, segundo os economistas
- Questão fiscal
- Benefícios sociais
- Impulsão do mercado de trabalho
- Revisão do papel das estatais
- Reafirmação das questões ambientais
1. Esfera fiscal
Para o economista Alex Araújo, o principal desafio para o próximo Governo será redefinir as novas condições fiscais, considerando que Lula já indicou uma revisão do teto de gastos para o País. Para garantir certos projetos do governo e talvez uma ampliação de programas de transferência de renda, ou até, possivelmente, confirmar novos investimentos pelo País, o presidente terá de reestruturar as condições do gasto público.
Contudo, o representante do Partido dos Trabalhadores precisará, segundo o economista, garantir uma certa estabilidade fiscal como forma de garantia ao mercado.
Outro desafio do novo governo será tratar de pautas como essa sem ter passado por uma campanha tão propositiva, então ainda há muitas dúvidas sobre quais as intenções exatas de uma nova gestão.
"Temos a questão da inflação, que tem sido pressionada pelos alimentos e combustíveis. Mas temos a questão fiscal como o ponto mais crítico, até pelo histórico nos governos Lula, onde o Estado era muito ativo, então isso reforça muito a necessidade de tratar disso, seja pela revisão da regra do teto ou pela estruturação de novas condições, até porque o governo tinha um papel muito ativos sob o comando do PT", disse Alex.
"A questão é que governo que assumir vai ter de usar o capital político para ter mais espaço para gastar", completou.
2. Benefícios sociais
O destaque para a parte de controle de gastos deve acabar ganhando força por conta da necessidade de ampliação dos gastos com benefícios sociais, segundo Alex Araújo.
Com a população ainda convivendo com as incertezas de mercado e a pressão inflacionária em produtos considerados essenciais, aliado a um possível cenário de recessão global, garantir renda para as camadas mais pobres da população terá peso considerável no próximo governo.
Para o economista, Lula precisará encontrar formas de ampliar as políticas de transferência de renda.
O segundo ponto mais importante é a ampliação da rede de seguridade social, tanto para manutenção quanto para o aumento do alcance do Auxílio Brasil, e por isso o teto de gastos deve vir primeiro"
"Eu não vejo uma agenda de reformas profundas, como a administrativa ou tributária, que não devem ser críticas, então teremos mais a retomada do papel do Estado como protagonista mesmo nos próximos anos", completou.
Contudo, para Davi Azim, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), uma possível ampliação do Auxílio Brasil ainda precisaria ser estudada, para avaliar os impactos da medida aos cofres públicos, reforçando a importância da pauta do equilíbrio fiscal.
"Nesse momento, com a previsão de uma inflação menor e juros mais baixos, talvez não precisaríamos ampliar os pagamentos, e o número de famílias dependeria de uma avaliação maior do governo", disse Azim.
3. Impulsão do mercado de trabalho
Para reforçar a importância da questão da renda, o novo Governo Lula deverá ter como prioridade, segundo os especialistas, a impulsão do mercado de trabalho nos próximos meses.
4. Revisão do papel das estatais
E uma das formas de fortalecer o mercado de trabalho passa pela revisão do papel das estatais, pensando, principalmente, nos bancos públicos, para garantir o fornecimento de crédito para as empresas no País com o objetivo de movimentar a economia.
Utilizar instituições como o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como ferramentas de injeção de estratégica de crédito pode ser uma das principais ferramentas do próximo governo para contrapor o cenário de dificuldades na economia nacional.
"O governo precisará discutir o papel das estatais, com os bancos públicos ofertando crédito para impulsionar a atividade econômica e ter algum tipo de financiamento para as empresas no País. O objetivo é elevar a atividade econômica para fazer os recursos circularem e ter impacto no mercado de trabalho", afirmou Araújo.
Além dos bancos públicos, Lula ainda precisará dar sinais sobre empresas importantes para o mercado brasileiro, como a Petrobras, rediscutindo ou não a política de preços dos combustíveis, e a Eletrobras, que passou por um processo de privatização recente.
Essas sinalizações deverão ser importantes para dar mais previsibilidade aos investidores dentro do mercado local.
5. Reafirmação das questões ambientais
Menos dependente de recursos públicos, a reafirmação da importância das pautas ambientais para o Governo poderá ter peso estratégico para novo presidente eleito, visando a atenção do mercado internacional visando a aceitação dos produtos exportados.
Com a perspectiva de possíveis crises de alimentos e energia pelo mundo nos próximos anos, reforçar a pauta ambiental deverá ajudar o Brasil a negociar maiores volumes de recursos para fora do País.
E, considerando os últimos investimentos em energias renováveis como o hidrogênio verde e as flutuações nos preços no mercado de petróleo e gás, posicionar bem o Brasil no tabuleiro geopolítico internacional pode gerar bons frutos para os resultados financeiros nacionais.
"Do ponto de vista de imagem, precisaria ter a retomada da agenda ambiental, então alguns compromissos serviram para demarcar esse posicionamento, mais como um papel fiscalizador, que seria importante para reafirmar os compromissos do País relacionados à emissão de carbono e controle de atividades ilegais", disse Araújo.
"Uma coisa que é positiva é que o Brasil está em um momento que podemos ser um centro de investimentos muito intenso, pois teremos o inverno no Hemisfério Norte, temos a demanda por alimentos e o Brasil tem uma posição forte no agro, temos uma crise energética, pelo hidrogênio ver. Então podemos criar um momento semelhante de impulsão de como foi 2002 com o boom das commodities", completou.
Extra: Autonomia do Banco Central
Outro ponto que deve ajudar a dar mais previsibilidade no mercado brasileiro, de acordo com Davi Azim, é a manutenção da autonomia do Banco Central, seguindo as definições de mandato do atual presidente da instituição financeira: Roberto Campos Neto.
Para o conselheiro do Corecon, o modelo de funcionamento atual do Banco Central gera muitos acertos para a economia nacional, além de garantir mais estabilidade para possíveis investidores.
"É uma pauta muito importante, e é uma condição muito necessária, pois o Banco Central precisa continuar independente, até porque o BC pode acabar mantendo a assertividade que já vem tendo, e isso ajudaria a manter a confiança dos investidores, nacionais ou internacionais, pois as regras do jogo se manteriam, e quanto maior a previsibilidade, maiores as chances de sermos procurados como mercado por investidores", afirmou.