Próxima geração: 6G deve possibilitar ligação com hologramas e wifi transmitida por luz; entenda

Nova etapa da tecnologia de conectividade já está sendo desenvolvida. Paulo Rufino, engenheiro e pesquisador brasileiro, é um dos envolvidos no projeto

Muitas pessoas ainda nem conseguiram sentir os benefícios do 5G, mas o mundo já está se preparando para a instalação da próxima rede de conectividade: o 6G, que está previsto para o ano de 2030. Entre os benefícios e aplicações previstas, segundo o engenheiro e pesquisador Paulo Rufino, estão as ligações por holograma, wifi transmitida por luz, e uma rede global de internet onde não haverá pontos desassistidos. 

Segundo o "head of delivery and operations" na Spideo, toda nova geração começa a ser desenvolvida logo após o lançamento da anterior, que tem um período de maturação de cerca de 10 anos. Então, os estudos para elaboração do 6G já estão sendo realizados desde 2020, ano que, não fosse a pandemia do coronavírus, teria contado com o lançamento da quinta geração. 

Com vários países já concentrando esforços e recursos em pesquisa, a previsão é que o 6G esteja disponível em 2030, trazendo diversas revoluções nos sistemas atuais. 

"O período de projeto de uma nova geração é de 10 anos, para trazer pesquisadores, engenheiros e técnicos para discutir sobre o que precisa ser feito em relação à rede antiga e que novos avanços e aplicações surjam. E já se definiu que quando se termina o roadmap e desenvolvimento de uma rede, inicia-se a outra automaticamente. Então, é o processo normal de evolução natural. O 5G terminou em 2020, que foi quanto tivemos a primeira liberação no mundo", disse Rufino. 

"E o 6G segue essa linha, com 2018 já sendo levantadas algumas questões, mas 2020 foi quando começou a pesquisa, até porque 2030 é quando devemos ter o lançamento", completou. 

Entre as novas aplicações, por ser uma rede gerada em uma frequência completamente diferente, a expectativa é que o 6G possibilidade um número consideravelmente maior de dispositivos conectados simultaneamente, além de uma velocidade muito superior (podendo chegar a 1 terabit por segundo). Atualmente, se projeta uma conectividade de 1 gigabit por segundo para o 5G. 

A entrevista foi concedida durante a Futurecom 2022, feira que discute tendências do setor de tecnologia.

Ligação por holograma

O maior potencial de conectividade deverá possibilitar, segundo Rufino, até mesmo as ligações holográficas, aliando o mundo virtual ao real. O cenário seria semelhante ao que é visto em filmes de ficção científica, como Star Wars ou Star Trek. 

"Teremos inteligência artificial  e vamos propiciar uma sinergia do mundo digital, do metaverso, com o mundo real. Uma das aplicações é ter comunicação holográfica, que é uma das aplicações do 6G. Imagina no Star Trek quando a gente tinha aquelas ligações com hologramas. Ele vai proporcionar isso com baixa latência, alta velocidade", disse

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"O 6G vem inaugurar muitas coisas, primeiro porque é uma rede heterogênea e vai mudar para um novo espectro de rádio, em tera-hertz, que é um espectro muito utilizado em radioastronomia e também quando passamos pelos sistemas de raio-x em aeroportos", completou. 

Wifi por luz 

Outra nova aplicação que deverá ser criada pelo 6G é a geração de redes wifi transmitidas por luz. Durante a entrevista para a coluna, Rufino deu o exemplo da luz da sala onde estava, que poderia estar levando conexão a vários dispositivos móveis ou sensores que dependessem do uso da internet. 

Para tentar dar suporte a nesse mecanismo, pesquisadores já estão até discutindo uma tecnologia de superfícies inteligentes para que o sinal do 6G possa ser rebatido e possa chegar a todos os lugares, até mesmo em veículos em movimento. 

"Estamos discutindo também uma tecnologia de IRS (superfícies inteligentes reflexivas, na sigla em inglês), porque o sinal de 6G é muito fraco, e é uma rede homogênea. Vamos ter comunicação via luz de forma direta para ancorar casos de aplicação; teremos o IRS, porque quando estamos no carro o sinal de internet começa a enfraquecer, e a ideia é ter prédios com superfícies inteligentes onde o sinal de celular será refletido para que não se perca a conectividade em movimento", explicou Rufino. 

"O 6G não é só rádio, ela vai também ter espectro de luz, que chamamos de OWC (comunicação óptica sem fio, na sigla em inglês), e hoje é fibra. A ideia é trazer a wifi como a luz que ilumina um ambiente, até pela necessidade de controle e segurança que ela oferece", completou.

Conectividade global

Além disso, o especialista destacou que a rede 6G deverá ser fundamental para gerar uma conectividade global, levando internet a todos os lugares do mundo. Segundo Rufino, a perspectiva é eliminar a estimativa da Organização das Nações Unidos de 4 bilhões de pessoas sem acesso à internet a partir de 2030.  

"O intuito é o 6G ter omnipresença, que é o que todo mundo busca. Temos 4 bilhões de pessoas no mundo sem internet atualmente. E a ideia é que o 6G chegue a todos os lugares do mundo. Isso inclusive faz parte de uma das premissas da ONU", disse.

Cirurgias remotas e GPS preciso

Para completar o pacote, Rufino projetou que a potência do 6G será tão superior ao que deve ser registrado a quinta geração, que os serviços de geolocalização deverão apontar pessoas e objetivos com precisão de centímetros no mapa. 

Essa ferramenta, além de gerar aplicações de localização com confiabilidade muito maior, deverá possibilitar cirurgias pouco invasivas de forma totalmente remota. 

"A geolocalização no 6G vai ser em questão de centímetros, isso será muito positivo tanto para uso de carros autônomos, que serão controlados pelos sistemas conectados, quanto para as cirurgias remotas que não sejam tão invasivas, aquelas que usam nanorrobôs, por exemplo", comentou.

*O jornalista viajou a convite do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos  (IEEE).