A Petrobras pode ter retrocedido da decisão de incluir a subsidiária Pbio (Petrobras Biocombustível S.A.) no plano de desinvestimentos e, segundo especialistas, a iniciativa deve gerar impactos positivos para a economia do Ceará a partir de novos investimentos na usina de Quixadá.
A informação sobre o possível plano para os biocombustíveis foi publicada pelo Estadão/Broadcast.
Para Bruno Iughetti, consultor da área de petróleo e gás, a decisão poderia ser considerada "extremamente positiva", pois, além gerar impactos positivos para economia da região, pode impulsionar o plano de transição energética no País.
"Eu acho extremamente delicada essa posição, mas extremamente positiva, até porque a Petrobras, além de ser uma empresa de petróleo, pode ser uma empresa de energia. Ela deve investir em bacias de petróleo e em biocombustíveis. E temos uma planta em Quixadá que foi construída no passado, mas deixou de ser sustentável, então deve-se recomendar que a estatal mantenha o plano de negócios para fazer essa planta voltar a ser produtiva", disse.
"A Petrobras tem de ser considerada como empresa de energia e não só petróleo, até para focar no processo de transição energética", completou.
Impactos indiretos
A perspectiva foi corroborada por Expedito Parente Júnior, especialista em biocombustíveis e diretor de infraestrutura da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará). Ele destacou que a operação da planta em Quixadá poderia, além de gerar empregos diretos e uma nova fonte de arrecadação de impostos para o Estado, impulsionar a economia da região e a agricultura familiar.
Outro ponto destacado por Parente Jr. foi que a planta em Quixadá poderia ser fundamental para a demanda por biocombustíveis nas principais zonas urbanas do litoral no Nordeste.
"Um dos ativos da Pbio é a Usina de Quixada, mas tem unidades na Bahia e em Minas Gerais. Existe um plano que foi montado por atores do setor para reforçar essa produção para que a usina de Quixadá seja retomada e no momento que a Petrobras decide não vender a Pbio, dá esperança que a usina volte a funcionar", disse.
"O impacto local seria grande até porque já vi unidades serem relançadas e o impacto local é enorme além de oferecer biodiesel e focar na transição energética. A usina concorrente mais próxima está a mil quilômetros de distância, e se dobrássemos a capacidade em Quixadá ainda não conseguiríamos atender a demanda do Ceará e vários estados, considerando o litoral e as regiões metropolitanas de São Luiz, Natal, Teresina, João Pessoa e outros polos urbanos. Essa usina precisa ser ampliada em vez de fechada", completou.
Contudo, Expedito afirmou que será necessária a criação de um plano para garantir que uma porcentagem da matéria-prima utilizada na usina seja comprada de fontes da agricultura familiar.
"Reativando uma usina como a de Quixadá, você dinamiza a massa salarial, e todo o comércio gerado a partir dessa operação é gigantesco. Você estimula a agricultura familiar. Mas já há uma movimentação para garantir que uma porcentagem da matéria-prima usada seja comprada da agricultura familiar. E onde há produção de biodiesel, o impacto na economia é enorme", disse.
Investimentos para reativação
Apesar da perspectiva de reativação, Bruno Iughetti destacou que ainda será preciso realizar um estudo para avaliar o tamanho do investimento necessário para reativar a usina de Quixadá. Segundo o consultor, a Petrobras também poderia estudar o uso de outras matérias-primas além da mamona, gerando um remodelação dos processos na usina.
"Precisa de investimentos porque a planta está carente de manutenção, então precisa focar em aumentar a produção de biodiesel, e também deve focar na rota de oleoginosas. Ela foi concebida um tipo de produção, mas não se mostrou suficiente e acabou perdendo escala, configurando depois como uma unidade para trabalhar com soja, que é uma commoditie cara", disse.
"É necessário que se faça um estudo para entender a situação da planta, depois teríamos um plano estratégico para evolução de produção a partir dos padrões para qual ela foi concebida, mas o valor vai depender dessa inspeção e dessa análise de rota de oleoginosas, que é importante. Mas essa fábrica precisa ser totalmente remodelada porque ela vem sofrendo com paralisações nos últimos anos", completou.
Sem resposta
Questionada sobre o novo plano de investimentos em biocombustíveis e a retirada da Pbio da fila de desinvestimentos, a Petrobras disse apenas que não irá comentar sobre o assunto.
"A Petrobras não vai comentar", disse a empresa em nota.