Investimento de R$ 360 milhões da Grepar na Lubnor pode ser considerado baixo?

Ex-petroleiros e economistas apontaram que o patamar dos aportes pode ser considerado pequeno para o mercado de petróleo. Grepar diz que investimento pode aumentar

A confirmação das previsões de investimentos para a Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), de R$ 360 milhões em 10 anos, levantou questionamentos de representantes do setor de petróleo no Ceará.

Segundo membros do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo (Sindipetro-CE) e economistas, a previsão apresentada pela Grepar Participações Ltda estaria "abaixo do esperado" para o mercado. Mas até que ponto, essas questões podem afetar as operações da refinaria? 

Segundo Wagner Fernandes, diretor do Sindipetro, as previsões de investimento da Grepar não seriam suficientes para ampliar a produção da unidade, como havia sido anunciado pela Grepar, considerando o patamar de gastos inerentes ao setor e os custos já existentes de operação na Lubnor. 

A perspectiva se baseou em um levantamento dos contratos de manutenção da refinaria vigentes em 2022. Um serviço de conservação de fornos, por exemplo, exigirá um pagamento de R$ 11,786 milhões. Outro documento aponta um gasto de R$ 10 milhões, hoje mantidos pela Petrobras, para manutenção parada da unidade. Já o processo de aplicação de pavimentação asfáltica e pintura da Lubnor custará R$ 4,828 milhões. 

"Essa previsão de investir R$ 360 milhões, no setor de petróleo, mesmo em 10 anos, não é nada, é piada. O valor daria R$ 36 milhões por ano, ou R$ 3 milhões por mês. Só com o contrato de transporte de pessoas da Petrobras por mês, a gente gastava R$ 1,5 milhão. Esse valor não paga nem o valor de manutenção básica da planta", disse. 

"A gente precisa entender que a produção da Lubnor é baixa, pela características dos produtos e equipamentos, então ela só se torna viável estando integrada ao sistema da Petrobras. Com o valor que eles pretendem investir, não seria possível ampliar a produção considerando os custos do setor de petróleo, então fica uma preocupação com o futuro da Lubnor", completou.

Ampliação da planta

Questionada sobre os planos de investimento para a Lubnor, a Grepar afirmou que o valor investido poderá aumentar após assumir o controle das operações da refinaria. 

"A Grepar esclarece que o investimento de 70 milhões de dólares na Lubnor é relevante em relação ao histórico de investimentos e a capacidade de produção. A companhia afirma que o valor poderá crescer ainda mais, quando a empresa assumir as operações da refinaria, após a conclusão do processo de compra", disse a empresa em nota.

Em entrevista aos Sistema Verdes Mares, Eduardo Bellaguarda, consultor empresarial da Grepar, já havia afirmado que há previsões da Lubnor, além do asfalto e dos lubrificantes passar a produzir "óleos combustíveis com baixo teor de enxofre e óleo diesel tanto para abastecimentos a navios como para geração térmica". A perspectiva ainda conta com "pequenas frações de nafta que serão utilizadas em cogeração de energia para a própria planta".

Definição de planos

Os questionamentos referentes ao patamar também foram mencionados pelo economista e membro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), Davi Azim, que ponderou, contudo, haver pouco detalhamento sobre os planos e destinos dos aportes financeiros pela nova controladora da Lubnor. 

Azim explicou que, sim, o patamar de R$ 360 milhões pode ser considerado pequeno caso haja intenções de mudar o modelo de operação ou lista de produtos fabricados pela refinaria em Fortaleza.

Caso a intenção seja ampliar a produção de asfalto e lubrificantes para o refino de petróleo como foco na geração de outros derivados, a aplicação financeira pode ser insuficiente. 

Apesar disso, o economista defendeu que há a possibilidade de, caso sejam feitos apenas pequenas alterações estruturais, o valor destinado pela Grepar seja um bom patamar para o início da nova operação.   

"O negócio da Grepar é asfalto e lubrificantes, que têm um valor agregado elevado, mas se forem passar para o refino de petróleo para gerar outros derivados, considerando que os custos no Brasil são muito mais caros em relação ao mercado mundial, podemos dizer que é um valor pequeno, mas seria importante saber mais sobre os planos da empresa e eles devem estar esperando a leitura do cenário macroeconômico. Não podemos bater o martelo", disse.

"A princípio, sim, é um valor pequeno, mas é preciso avaliar o cenário completo, o setor externo, o cenário de custos no Brasil, mas a Grepar teria de detalhar os planos, se vai investir mais em lubrificantes ou investir em refino de petróleo. Até porque essas previsões podem mudar no futuro dependendo do contrato", completou.

Manutenção do projeto 

Já para o consultor da área de petróleo e gás, Bruno Iughetti, o patamar de investimento da Grepar para a Lubnor pode ser considerado um valor "considerável" para os planos de ampliação da produção, vindo a se somar aos gastos já feitos pela Petrobras anteriormente. 

Ele explicou que, como as primeiras sinalizações da Grepar indicam para o aumento da eficiência da refinaria, os planos de produção sob a nova gestão deverão permanecer inalterados em relação ao que já está sendo organizado pela Petrobras. 

"O nível de produção (da Lubnor) é muito baixo em decorrência da característica da planta. E uma das primeiras sinalizações da Grepar é aumentar a produção. E é um bom sinal, porque o comprador já ventila investimentos adicionais, porque poderiam não investir nada, e isso garante a produção no mercado", explica.

"Nós produzimos asfalto, por exemplo, de forma deficitária e dependemos de importação pelo Porto do Mucuripe. Mas com isso, temos uma perspectiva de que a produção deva continuar, tendo um incremento na eficiência", disse.

Iughetti ainda projetou que a Lubnor não deverá ter mudanças no perfil de produção nos próximos meses, concentrando-se em atender a oferta de asfalto e lubrificantes.

"Eu não acredito que ela vá partir para uma gama de produtos que ela já faz hoje. Ela produz lubrificantes e é única produtora de asfaltos da região Nordeste, então não vejo porque mudar, a não ser criar especificações diferentes nos óleos lubrificantes, mas aí não muda", disse.

"O que se vislumbra é que a produção deve continuar nos meses ritmos do passado no primeiro semestre", completou.

Situação da venda

A venda da Lubnor, no entanto, ainda aguarda a aprovação do Cade para ser concluída. Além disso, Petrobras e Prefeitura de Fortaleza negociam cerca de 30% do terreno da refinaria, algo que pode travar o processo de venda da unidade previsto para ter o fechamento em março do próximo ano.

A coluna apurou junto a gentes do mercado que a negociação está parada, com o prefeito de Fortaleza, José Sarto, aguardando a finalização do processo eleitoral para continuar os diálogos com a petrolífera. O chefe do Executivo municipal estaria esperando a confirmação se haverá mudanças no Governo Federal. 

Procurada, a Prefeitura não respondeu aos questionamentos da coluna.