O dólar chegou ao menor patamar do último mês, cotado a R$ 5,21. E segundo especialistas, um fluxo favorável de recursos entrando no mercado brasileiro é um dos fatores que pode explicar essa valorização do real frente à moeda americana.
Contudo, a previsão de que 2022 seja ano instável no Brasil, e com a tensão entre Rússia e Ucrânia ficando cada vez maior, a tendência é que esse movimento seja corrigido nos próximos meses.
De acordo com Henrique Zimmerman, sócio da VLGI Investimentos, as recentes altas da taxa de juros nos Estados Unidos fizeram com que algumas empresas do setor de tecnologia tenham perdido um pouco de força nas bolsas americanas.
Com os investidores ainda incertos sobre o valor dessas companhias no futuro, alguns deles, segundo Zimmerman, têm direcionado recursos para os mercados emergentes, como o Brasil.
A intenção seria buscar um leque maior de possibilidades para investimentos no setor de commodities como petróleo e insumos agrícolas, algo muito presento no mercado brasileiro.
"O que a gente tem visto é que os Estados Unidos devem fazer algumas altas de juros e isso acaba pressionando empresas de tecnologia, que têm um valor medido para o futuro, e esse cenário acaba levando o dinheiro para os mercados emergentes, como o Brasil, que tem empresas de commodities, e a Bolsa já vem crescendo 10% para esse ano", disse.
Bancos em destaque
Além disso, o sócio da VGLI comentou que as constantes altas da taxa básica de juros no Brasil, a Selic, têm feito com que o setor bancário por aqui também ganhasse força na B3. Essa valorização pode ter atraído ainda mais recursos estrangeiros e ter impulsionado os investimentos internos no setor.
"Os juros no Brasil também aumentaram bastante e isso ajuda a impulsionar os bancos, então isso ajuda a valorizar o real, já que eles têm um peso grande na bolsa, além de termos uma bolsa com muitas commodities, e considerando que uma guerra pressionará preço do petróleo e outras commodities", afirmou.
Ano eleitoral
As perspectivas foram corroboradas pelo conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, que destacou a entrada de recursos estrangeiros nas últimas semanas por conta das variações nas taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos.
Apesar do cenário de valorização do real no começo deste ano, as tensões eleitorais considerando o pleito presidencial em 2022 ainda poderão ter efeitos negativos no câmbio. Ricardo projetou, no entanto, que o mercado poderá passar por uma menor instabilidade caso alguns cenários se consolidem no futuro.
O membro do Corecon destacou que alguns agentes já estão vendo uma vitória do ex-presidente Lula como algo mais sólido, após as últimas pesquisas, mas que isso não seria tão negativo.
Segundo ele, como o candidato do PT tem demonstrado estar mais disposto a promover um governo mais ao "centro do que à esquerda", o cenário de instabilidade poderá não ser tão grande.
"A queda da taxa de câmbio está atrelado ao crescimento da taxa Selic, que vem pelo controle da inflação, e isso estimula a entrada recursos dos investidores externos e pela alta das exportações", disse.
"Mas também temos um aspecto político que parte do mercado já está solidificando uma possível vitória do Lula, que tem se mostrado mais à direita do que necessariamente à esquerda, ao se aproximar do PSD e da possibilidade do vice ser o (Geraldo) Alckmin. Isso traria uma articulação das medidas do mercado mostrando que o Governo se aproximaria mais do centro do que à esquerda", completou.
Guerra na Ucrânia
Apesar das análises positivas, os especialistas concordaram que uma possível guerra entre Rússia e Ucrânia poderá favorecer uma valorização do dólar frente ao real, considerando os impactos nas cadeias e mercados globais.
"A guerra entre Rússia e Ucrânia, além de novas elevações dos juros nos Estados Unidos, é o que pode fazer a taxa de câmbio voltar a subir acima de um patamar do que vemos hoje, e essa é a incerteza que estamos percebendo nesses próximos dias, até porque a Rússia é um grande fornecedor de gás para a Europa e isso tem efeito nos mercados", explicou Coimbra.