Bicampeã olímpica, Jaqueline se destaca na internet e admite: “pode ser que eu volte pro vôlei”

Pernambucana se sobressai pelo jeito espontâneo que vem atraindo mais de um milhão de seguidores nas redes sociais

Quem acompanha o mundo do vôlei certamente conhece a personalidade forte e engraçada da nordestina Jaqueline Carvalho. A modalidade que é destaque na preferência do público nacional, atrás do futebol, se diferencia por proporcionar uma relação de maior proximidade entre atletas e torcedores, seja pela configuração dos ginásios, como pelas características dos envolvidos. Nesse quesito, Jaqueline é, sem dúvida, uma das maiores. E continua sendo uma referência, com histórico de superações, ainda que não esteja exercendo sua função de atleta no momento.

Projeto elas

Para fortalecer a luta das mulheres, fomentar a valorização e reconhecimento de suas conquistas e, principalmente, da preservação de suas vidas, o Sistema Verdes Mares deu início, neste mês de outubro, ao "Projeto Elas", que atuará como agente transformador da realidade de várias mulheres cearenses, com o objetivo de construir um Ceará mais igualitário e seguro.

O projeto busca refletir, discutir, informar e, acima de tudo, combater essa realidade. Através de seus veículos de comunicação, o SVM vem discutindo temas como desigualdade de gênero, desafios do mercado de trabalho, empoderamento, conquistas femininas e também dará voz a relatos da vida real, dentro de uma programação que segue até dezembro.

Proximidade com público

Não é de hoje que a pernambucana tem uma relação de troca com o público. Quando marcava presença nos ginásios, a atleta se preocupava em atender os fãs. Hoje, longe das quatro linhas, mas com presença marcante nas redes sociais, Jaqueline encontrou nesse outro caminho um retorno bastante positivo e conta que foi um processo natural: “Eu realmente precisei desse tempo. [...] Foi uma decisão minha ficar esse período agora sem jogar e me cuidar [...].Eu não falo que vou focar nas minhas redes sociais como influencer. Isso é uma coisa natural, que tá acontecendo comigo. Quem me acompanha desde o início da minha carreira, eu sempre fui desse jeito. Agora eu tô podendo mostrar mais quem é a Jaque fora do voleibol e eu tô amando fazer isso, porque eu recebo muito feedback de seguidores felizes.”

Felicidade essa que ela esbanja em vídeos engraçados, seja sozinha ou com o marido Murilo Endres, também atleta de vôlei e que ainda segue nas quadras, onde joga como ponta, no Sesi SP. As personalidades dos dois se complementam, o humor despojado e descontraído de um lado e o comportamento mais sério e reservado do outro, mas que não o impede de marcar presença nos vídeos da esposa.

Jaqueline entende o momento como necessário, conta que chegou a receber propostas e não descarta o retorno às quadras, mas ressalta que não dá para voltar no ritmo de antes e precisa recuperar a forma com treinamentos planejados. 

Aos 37 anos, o início nas quadras se deu ainda aos 14, no Sport, clube de Pernambuco. No entanto, praticamente, como é até hoje, equipes do Nordeste não conseguem se destacar no cenário nacional e, dificilmente, disputam a Superliga. Um dos principais motivos é a falta de investimentos. Como a maioria dos clubes se concentra nas regiões sudeste e sul, as viagens para disputas das partidas também ficam nesse eixo, sendo assim um despendimento maior para deslocamentos. “Infelizmente no Nordeste a gente não vê muito incentivo de patrocinadores, de projetos. A gente tem muitos atletas de muito talento. [...] A gente viu agora nessas Olimpíadas muitos nordestinos dando orgulho pro nosso País.” 

Jaqueline passou por grandes equipes, como Rio de Janeiro e Osasco, que dominaram o cenário nacional há alguns anos e também teve passagens na Itália e Espanha. Na Seleção, Jaqueline está no hall das seis bicampeãs olímpicas e relembra sobre as duas disputas:

Em 2008, a gente surpreendeu demais todas as seleções, ganhamos todos os jogos, estávamos em uma forma espetacular. Foi algo muito diferente [...] Em 2012, a gente passou por momentos muito complicados. Em muitos momentos ali, a gente viu a medalha se distanciando, mas o grupo foi muito forte, a união, se superando.
Jaqueline
Jogador de vôlei

Em 2016, no Rio de Janeiro, quando a atleta também participou, o Brasil foi eliminado para a China, nas quartas de final.

A constância das lesões não tirou o ânimo dela, que sempre retornava fazendo a diferença pelas equipes que representava. Ela conta que esses períodos difíceis serviram para ela ampliar a noção de jogo e os fundamentos: “Eu antes das minhas lesões, só pensava em atacar. A juventude quando começa, quer fazer ponto, depois das minhas contusões, fiquei um período sem saltar e acabei evoluindo nos outros fundamentos. Essas contusões na minha vida não foram negativas, mas sim, aprendizado. Hoje, sou o que sou pelas minhas contusões, ou teria sido, simplesmente, uma Jaqueline atacante. Foi um período difícil, complicado, mas de aprendizado também.” 

A lição de Jaqueline fica como exemplo para quem quer seguir na modalidade, a persistência e a superação nos momentos de adversidade a fizeram uma atleta diferenciada e completa, tanto que chegou a atuar até mesmo na seleção em mais de uma posição: ponta e líbero. Nas quadras ou fora dela, é nordestina raiz, que não se abala por pouco e usa da graça cotidiana para tornar tudo mais leve.