O que tenho aprendido com as flores

É apenas um pequeno canteiro no terraço do apartamento, de poucos metros de comprimento, alguns centímetros de profundidade e outros menos de largura. Mas é o suficiente para eu chamá-lo de jardim. O nosso jardim. É nele que eu e minha filha mais nova, Alice, de doze anos, estamos aprendendo, juntos, os mistérios da lenta germinação das sementes — e do fulgurante desabrolhar das flores.

Ela, toda orgulhosa, diante de um lírio aberto em mágico tom de magenta, informa-me nomes e detalhes que aprendeu no livro escolar de ciências: “Estes são os estames, que juntos formam o androceu”, diz-me, apontando o dedinho para as hastes amarelas no centro da flor, carregadas de pólen.

“E aqui são os carpelos, os tubinhos verdes que formam o gineceu e recebem o pólen, trazido pelo vento, pelas borboletas ou pelas abelhas”, explica-me, detalhando o sistema de reprodução das flores. Faço cara de espanto e ela ri, feliz do próprio desembaraço.

Dias depois, acabada a floração, desenterramos os bulbos do lírio para replantá-los posteriormente, o que dará origem a novas plantas, a serem redistribuídas pelo canteiro. Farão companhia assim às ipomeias — roxas, róseas e brancas —, que ainda há pouco eram apenas mudinhas, compradas no mercado, e hoje esparramam suas ramas e cores por todo lado.

Os pezinhos de girassóis, plantados em semente, já despontam com várias camadas de folhinhas, de verde cada vez mais intenso, anunciando que aprovaram o local. Prometem-nos grandes floradas amarelas. Os amores-perfeitos acabaram de germinar, enquanto as zínias, a cada nova manhã, oferecem a surpresa de seus múltiplos tons, desde o vermelho mais intenso aos gradientes de laranja e o quase azul.

Eu e Alice, botânicos experimentais e intuitivos, estamos conhecendo os segredos de montar — e manter — um jardim, ainda que diminuto como esse. Uma tarefa que envolve cuidados e metáforas constantes.

É preciso, antes de tudo, preparar o que há de vir. Revolver a terra, remover pedregulhos e ervas daninhas, adubar o solo com substratos e fertilizantes naturais, aprontar o chão para a vida subterrânea das raízes. Em simultâneo, não dar chance aos ardis. Detectar a presença de formigas, pulgões, ácaros, larvas e cochonilhas. Nutrir, sempre, o lugar de plantio. Calcular a incidência de luz e sombra, avaliar a constância e a intensidade das podas e regas.

Mas, sobretudo, é necessário ter paciência e calma, respeitar o silêncio das sementes, o ritmo e a fragilidade dos primeiros brotos, a cadência do romper das flores, os ditames de cada estação. Sentir o compasso do tempo natural, alheio aos relógios e agendas humanas. Agradecer a bênção dos orvalhos, comover-se diante da magia da fotossíntese, da beleza das cores, das nuances dos perfumes, da frágil volatilidade da vida.