O racha entre o grupo político hoje no PDT e o PT no Ceará, após 16 anos de aliança nas disputas estaduais, tem se refletido como prejuízo especialmente para a campanha à Presidência da República do ex-ministro e ex-governador do Estado, Ciro Gomes (PDT).
Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto entre o eleitorado cearense, conforme a pesquisa Ipec/TV Verdes Mares, o pedetista se encaminha para um resultado inédito nas urnas em seu berço político: não ser o primeiro colocado, como aconteceu em 1998, 2002 e 2018.
Uma das respostas para o baixo desempenho nas pesquisas pode estar na relação com os aliados e, por consequência, no engajamento deles em defender a candidatura do principal nome do partido no País.
Um levantamento feito nas redes sociais do deputados federais e estaduais do PDT, candidatos à reeleição, mostra um apagamento do candidato a presidente nas publicações da maioria. Ciro também fica "escondindo" nas agendas pelo Interior. Os apoios ao candidato ganham algum volume em atos na Capital.
Em muitos registros em fotos e vídeos, os deputados não usam adesivos que remetem a Ciro, nem bandeiras, nem nenhum outro tipo de menção. Em boa parte dos casos, se muito, há destaque para o número da legenda, o 12, mas em referência à candidatura de Roberto Cláudio ao Governo do Estado.
Há candidatos à reeleição como os deputados federais Idilvan Alencar e Robério Monteiro, e os estaduais Salmito Filho, Romeu Aldigueri e Evandro Leitão, que não fazem nenhuma menção a Ciro em publicações até .
Alguns nomes, inclusive, têm feito campanha pelo Interior em dobradinha com candidatos de partidos adversários, como PT e União Brasil.
Sem as cores do PDT
Deputados como Bruno Pedrosa, Antônio Granja e Aldigueri têm adotado até tons de cores diferentes do tradicional amarelo do PDT. Pedrosa tem usado o azul em sua campanha, que remete ao PL de aliados importantes do candidato, como o deputado federal Júnior Mano (PL). Aldigueri tem usado forte apelo da cor vermelha na campanha. Granja também tem apostado predominantemente no azul.
A diferença da presença de Ciro nos materiais fica evidente quando se observa, por exemplo, as redes sociais de aliados como o deputado federal Leônidas Cristino. Parceiro de longa data de Ciro, Leônidas faz menção ao presidenciável com logomarca nas publicações das redes sociais, em bandeiras e em adesivos na roupa em agendas junto ao eleitorado. É o mais engajado na campanha cirista de longe.
O sucesso de um campanha em nível estadual (o que também se aplica à nacional) depende da extensão que um candidato ou candidata alcança no território. Considerando o desempenho eleitoral de Ciro no Ceará, ele precisa do apoio de deputados, prefeitos, vereadores e lideranças locais.
O racha fez o PDT perder apoio de prefeitos, não só o apoio, aliás. Houve quem desembarcasse da legenda para abraçar campanhas adversárias, principalmente do PT.
No caso dos deputados estaduais e federais, suscetíveis a punições do regimento interno do partido, era de se esperar um pouco mais de engajamento. No entanto, pelas regras, de forma geral, um parlamentar não pode fazer campanha para um partido adversário, mas nada também o impede de se abster de demonstrar apoio a correligionários.
Como desempenho eleitoral depende também do velho "quem indica", que movimenta a capacidade de transferência de voto, a falta de engajamento de aliados importantes e o apagamento de Ciro das mobilizações nas ruas e nas redes é peça chave do fraco desempenho de Ciro onde historicamente tinha a preferência do eleitorado.