Ciro Gomes fala em 'deslealdade' de Camilo, critica Izolda e diz que racha foi causado por Lula

Presidenciável se eximiu de responsabilidades sobre o fim da aliança entre PT e PDT no Ceará: 'Nós não descumprimos nenhuma vírgula desse acordo'

O candidato a presidente da República pelo PDT, Ciro Gomes, falou nesta quinta-feira (11) sobre a ruptura entre PT e PDT no Ceará e o fim da aliança com o ex-governador Camilo Santana (PT) e a atual governadora, Izolda Cela (sem partido). 

Em entrevista coletiva a jornalistas na Bahia, onde cumpriu agenda, ele também fez ataques ao candidato a presidente do PT, Lula, a quem responsabilizou pelo racha histórico no berço político da família Ferreira Gomes.

"É uma disruptura desagradável que foi produzida por falta de escrúpulos do Lula, convidando Camilo para ser ministro do governo que ele já ganhou", disse Ciro, ressaltando a ironia no termo "já ganhou".

Para o presidenciável, foi esse suposto convite de Lula que mobilizou a crise – referência que Ciro já havia feito em relação a Camilo Santana e Lula, ainda antes do racha dos partidos. 

A aliança estadual entre PT e PDT chegou ao fim em julho, após 16 anos de parceria na gestão. A crise foi deflagrada pela definição da candidatura ao Governo do Estado. Entre quatro candidatos, dois ganharam força: o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio e a governadora Izolda Cela.

Desde maio, aumentaram as manifestações públicas de apoio a Izolda, principalmente de lideranças de partidos aliados, como MDB e PP, e ameaças de abandono da aliança caso Roberto Cláudio fosse o escolhido. Em votação do diretório estadual, em julho, Roberto Cláudio teve maioria de votos. Dias depois, o PT anunciou candidatura própria, sob articulação de Camilo e Lula, e Izolda deixou o partido.

"Apalavrados estávamos, com compromisso solene, todo o Ceará sabe disso, de que o candidato seria do PDT a governador, e o senador seria do PT. Nós não descumprimos nenhuma vírgula desse acordo. Quem descumpriu, de forma absolutamente chocante, porque nem sequer um telefonema eu recebi (foi Camilo)", disse Ciro.

O ex-ministro ainda faz uma sequência de referências a suportes que deu a Camilo Santana, desde que foi escolhido para concorrer à sucessão do ex-governador Cid Gomes (PDT). 

"Sei o que eu fiz pelo Camilo. (...) Francamente, não acho que eu merecesse do Camilo essa deslealdade de nem sequer me comunicar, sabe, coragem de dizer assim: 'mudei de ideia, agora eu vou com Lula", ressaltou Ciro, acrescentando que teria respondido: "seja feliz".

Izolda Cela

Ciro ainda faz menção à governadora e ressalta: "foi trazida para a vida pública por nós". Segundo ele, Izolda teria insistido na votação junto ao diretório, mesmo após pesquisa de intenção de voto a favor de Roberto Cláudio e de apoio de deputados e aliados ao pedetista.

"Ela ainda insistiu para ser votada no diretório quando pedi mil vezes um acordo, foi votado nominalmente a pedido dela, na data que ela pediu e ela perdeu, e eu sou o responsável por isso? Aí no dia seguinte, jogando todo o processo fora, e claramente alinhada com o PT, e não mais conosco – coisa que me chocou no plano pessoal, mas isso é problema meu –, e sai do partido?. Se for justo isso ok", afirmou.

Ferreira Gomes

O desgaste no grupo político rendeu rusgas também na família. Desde o acirramento entre Roberto Cláudio e Izolda, o senador Cid Gomes está afastado de articulações públicas. Ele não deu declarações ou participou de qualquer ato do partido, nem mesmo da convenção que oficializou o nome de Ciro como candidato.

Em outra ponta, o prefeito de Sobral e irmão mais novo de Cid e Ciro, Ivo Gomes tem dado declarações polêmicas sobre a crise. 

Na véspera da votação, Ivo disse ao colunista do Diário do Nordeste Inácio Aguiar que Cid defendia o nome de Izolda. Depois do racha, voltou a causar polêmica ao atribuir a Ciro os danos à aliança. 

Nesta quinta-feira, ao ser questionado sobre as críticas recebidas pelo irmão, Ciro não se prolongou na discussão.

Camilo Santana e Izolda Cela foram procurados via assessoria, sobre as acusações, mas não se pronunciaram até a publicação desta coluna.