Dois anos depois do ocorrido, o motim de policiais militares do Ceará deve abrir mais um ano eleitoral com debates que reservam tensões e podem ter influência direta nos rumos do pleito de 2022, situação semelhante ao que aconteceu no embate pela Prefeitura de Fortaleza no ano passado.
A paralisação de uma parte dos militares cearenses ocorreu em fevereiro do ano passado e colocou o Ceará no centro de um debate nacional sobre a politização dos quartéis no País, principalmente no que se refere às forças estaduais de Segurança.
O motim deve voltar à pauta em alta tensão em 2022 por meio da CPI das Associações Militares, que está em andamento na Assembleia Legislativa e investiga possíveis ligações entre as entidades representativas de militares e a paralisação de 2020.
Instalada em agosto passado, a Comissão completa três meses com pouca visibilidade, embora já tenha recebido uma quantidade significativa de documentos.
A explicação para a demora nos depoimentos de envolvidos, segundo os seus líderes, o presidente Salmito Filho (PDT) e relator Elmano de Freitas (PT), seria o cuidado para avançar as investigações e não correrem o risco de apontar culpados sem o devido aprofundamento das investigações.
Impactos eleitorais
O fato de os trabalhos não terem avançado tanto nos três primeiros meses tem uma consequência óbvia que é o pedido de prorrogação dos trabalhos por mais 120 dias. O presidente do Colegiado já admitiu, inclusive, que a CPI solicitará a prorrogação dos prazos.
Inicialmente, a Comissão vai até o dia 26 de dezembro próximo. Caso seja renovado o prazo, o que deve acontecer, a investigação parlamentar irá até 26 de abril.
Assim, inevitavelmente, a conclusão dos trabalhos deverá coincidir com datas importantes do calendário eleitoral como as filiações partidárias e mudanças de legenda para aqueles que pretendem disputar as eleições 2022.
Embora os membros da CPI neguem o viés político-partidário, a associação entre as duas coisas é inevitável porque os principais líderes da oposição ao grupo governista no Estado estão exatamente no movimento que nasce na defesa de reivindicações dos agentes de segurança.
Desde 2010 já são dois motins e outros momentos de tensão tendo como pano de fundo a representação de classe. Movimentos que o Código Penal Militar e a Constituição Federal consideram como ilegais.
Quebras de sigilo
Os fatos ocorridos no motim de 2020 continuam sendo apurados administrativamente em processos na Corregedoria Geral de Disciplina dos órgãos de segurança e também em processos judiciais sigilosos na Justiça Estadual. Há, inclusive, quebras de sigilo fiscal autorizadas pelo Judiciário a pedido do Ministério Público.
Essas informações, apurou esta coluna, são um dos motivos pelos quais o grupo governista, que tem maioria na Assembleia, resolveu abrir a CPI quase um ano e meio depois do pedido feito pelo deputado Romeu Aldigueri (PDT).
As negociações de reajuste salarial dos policiais com o governo do Estado, que começaram em 2019, foram empurradas para 2020, um ano eleitoral, em que os movimentos políticos são mais cuidadosos por conta do embate nas urnas.
Agora, os fatos vão ser resgatados, também em ano eleitoral, para que se misturem ao calor próprio do momento, coincidência ou não.
Preste atenção nisso: a CPI poderá ter implicações na sucessão estadual.