O episódio do rompimento de um duto da Transposição do São Francisco na cidade de Jati, após a instalação de um clima festivo desde junho à chegada das águas do Velho Chico ao Ceará, diz muito sobre as práticas políticas que ainda funcionam no Brasil e, por consequência, no Nordeste e no Ceará.
A obra da Transposição demorou 13 anos para chegar ao Estado. Nesse meio tempo, muitas paralisações, denúncias e polêmicas. Ao longo das obras, várias questões políticas vieram à tona como a realocação de famílias em áreas afetadas, os compromissos ambientais, o custo da água ao consumidor e às empresas e os impactos para as comunidades.
Este último ponto é o fio condutor do raciocínio aqui pra nós. A defesa dos interesses da população nesses temas exigia a mobilização das lideranças, mas o episódio de sexta (21) mostra que as lacunas são enormes e que muitos estão preocupados só com a foto na festa.
Preparação
O vazamento dá água causou pânico na cidade de Jati. Boa parte da população, claramente, não estava preparada para uma situação de emergência. Houve treinamento? As pessoas estavam de fato sabendo do que se tratava? A população de 9 mil habitantes tem a dimensão do que está sendo erguido ali?
O Ministério explicou que há planos para situações de emergência e eles foram acionados no caso. Disse ainda que equipes visitaram famílias do município para falar dos planos de evacuação, mas a pandemia impediu trabalhos em conjunto, como simulações. Pois bem. Felizmente, nada de mais grave aconteceu neste episódio, mas é preciso chamar todos à responsabilidade.
Representação
Um dos fatos curiosos foi a ausência de boa parte dos parlamentares que apareceram nas fotos dos dias festivos de acionamento de bombas. Estes nem sequer deram as caras na região quando a bomba estourou. Muitos dos que estampam as fotos nunca apareceram na Região. É preciso que isso fique claro para a população e que o eleitor possa separar o joio do trigo.
Responsabilidades
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, declarou ontem (22) que audiências públicas serão realizadas com a população para esclarecer sobre o que aconteceu e sobre a segurança da barragem. É preciso que todas as autoridades públicas estejam cientes da necessidade de preparar as populações que estão às margens dos reservatórios e dos canais para momentos emergenciais. O episódio gerou um sinal de alerta de que há necessidade de mais e melhores medidas de precaução para evitar novas tragédias. Que sirva de lição.