Os dados que compartilhamos na coluna das nacionalidades que mais visitavam o Nordeste deixaram claro que o Ceará é nanico na atração de visitantes do cone sul-americano.
Segundo dados do Ministério da Justiça, o Ceará está atrás dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte em número de turistas sul-americanos.
O Ceará tem ‘ficado na lanterna’ do Nordeste (estados que recebem voos internacionais) quando se trata de atração de sul-americanos, mesmo tendo, por exemplo, histórico de voos para Buenos Aires desde 2014.
Pernambuco reconquistou voos diretos a Montevidéu ainda no fim de 2022, há exatamente um ano e hoje, já faz circular internamente mais uruguaios que os tradicionais portugueses.
Precisa haver, portanto, a indução de novos voos. Além disso, os turistas do Cone Sul não possuem conhecimento da existência do Ceará, diferentemente dos europeus.
O Ceará precisa ser apresentado ao Uruguai, precisa haver divulgação, precisa haver voos, porque é estatisticamente improvável que os uruguaios e argentinos gostem tanto de Bahia, Pernambuco, Alagoas e não gostem do Ceará.
Com os argentinos, as informações que recebemos em Buenos Aires é que o Ceará não é lembrado entre os principais destinos do Nordeste. Seria apenas porque é naturalmente um estado mais distante? Sabemos que a falta de voos da América do Sul para o Ceará já se dava antes da pandemia.
Se assim fosse, penso que os europeus não viriam até a Bahia aos milhares. E há esse desbalanceio: nosso estado é vedete para o velho mundo, mas não consegue se vender na América do Sul.
Esforço na divulgação
Temos informações de que instituições baianas vão em bloco para vários eventos internacionais realizar divulgações: Estado, Prefeitura de Salvador, Prefeitura de Porto Seguro, trade turístico, empresa baiana de fomento turístico.
De lideranças turísticas cearenses, recebemos informações de que seria importante haver mais interação entre, por exemplo, Secretaria de Turismo do Ceará e Prefeitura de Fortaleza: “deveria haver mais conversas, mais integração, não conversamos o tanto que precisamos”, comentou conosco o Secretário de Turismo da cidade de Fortaleza, Alexandre Pereira, na BTM em outubro passado.
Está faltando, portanto, a divulgação correta, planejada, a captação de voos com incentivos corretos. Nós inclusive já analisamos que alguns dos incentivos que o Ceará hoje oferece, na verdade, fizeram a quantidade de voos diminuir.
Conversando com fontes do turismo, entendemos que a predileção de argentinos pela Bahia dá-se por razões que remontam há décadas passadas: pode-se dizer que o litoral da Bahia ganhou notoriedade mais cedo que o restante do Nordeste.
Provavelmente até pela maior proximidade do Sudeste e Sul brasileiro.
Nesse sentido, em poucos meses, mais um país sul-americano enviará mais visitantes à Bahia. A empresa Sky voltará a fazer voos entre Santiago, Montevidéu e Salvador.
Entender o grande descolamento da Bahia frente ao Ceará, é compreensível. Por outro lado, a atração de uruguaios para Pernambuco é fruto de atuação forte do mercado de aviação, que desde antes da pandemia, se articulou para criar voos diretos.
O Ceará precisa diversificar seus voos. Precisa, peremptoriamente, olhar para Argentina, Uruguai, Chile. Eles chegam a representar em números de outros estados próximos uma Europa esquecida abaixo da linha do Equador.
Segunda frequência da Gol para Buenos Aires
Olhando os sistemas da Gol para o 1º semestre de 2024, vemos que as duas frequências para a Argentina estarão à venda permanentemente. Porém, serão dois voos aos sábados, algo anômalo.
A Gol, mais uma vez, parece por uma segunda frequência para Buenos Aires no dia e horário “que dá”.
O mais natural seria pôr o voo em dia distinto, por exemplo, no meio da semana, para permitir idas e voltas mais frequentes.
Como os voos são dispostos, parecem que são apenas para reduzir a alíquota de ICMS sobre combustível de aviação para a companhia aérea.
Chegada por Jericoacoara?
Teria a chance dos números de argentinos que chegam ao Ceará não serem mais contabilizados nas estatísticas acima porque estes estão chegando em voos domésticos diretos no aeroporto de Jericoacoara, Cruz?
Certamente! Não chegaram apenas 2.331 argentinos por via aérea ao Ceará, porém a análise aqui compara 5 capitais do Nordeste, em que todas possuem voos diretos para o Cone Sul, voos internacionais.
Argentinos chegando via Jericoacoara se tornam invisíveis na nossa conta, mas o mesmo acontece aos argentinos que chegam ao Nordeste via conexões em São Paulo, por exemplo: são todos igualmente invisíveis nessa análise.
O aeroporto de Jeri é razão de atração de turistas, excelente para o estado, assim como o é a existência de aeroportos em Ilhéus e em Porto Seguro.
Então, a comparação acima entre voos internacionais que chegam nas 5 capitais cearenses é coerente sim e mostra que o Ceará precisa melhor se posicionar.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.