Por que o avião da Embraer E2 faz som de baleia? Veja explicação

O spotter Álvaro Reis sempre me manda vídeos dos pousos da nova geração dos Ejets da Embraer em Fortaleza, operados pela Azul Linhas Aéreas, o E2. No pouso do E2 195 da Azul ele assim me escreve: “olha, ele (a aeronave) fez som de baleia super alto”.

Sim, o E2 da Azul faz um som que lembra o de uma baleia. Isso é reconhecido mundo afora e tem a ver com a motorização que o E2 usa: modernos motores Pratt Whitney.

Essa motorização faz sons curtos de “uuuuhhhh”, característico de algumas baleias. 

Bem verdade que os Airbus 220, antigo Bombardier C-Series, também fazem esse som e a razão é porque o E2 (Embraer) e o A220 são equipados com os motores Pratt & Whitney GTF (Geared Turbo Fans) séries PW 1700G e PW 1900G. 

Veja vídeo 

Ressonância na câmara de combustão

Os sons de baleia são transitórios e são ouvidos em baixas rotações do eixo do motor. Por isso, são ouvidos, como nos vídeos do Álvaro, próximos ao pouso, no toque na pista e no início da decolagem, momentos em que as rotações são menores, justamente, porque a aeronave precisa/requisita pouca potência.

O “barulho de baleia” é resultado de ressonância (fenômeno acústico) ocorrida na câmara de combustão, quando o compressor rotaciona a certas frequências angulares (velocidade de rotação) próximas a frequências características da estrutura. 

Tal como ocorre num violão, as vibrações das cordas entram em ressonância com a estrutura da caixa, o que amplifica o som e acrescenta harmônicos, dando o timbre característico do instrumento. Sem o corpo do violão, o som da corda seria fraco.

Ocorre ressonância quando sopramos no interior de uma garrafa de vidro e ouvimos também um ruído agudo característico. Segundo executivos da Pratt Whitney, consegue-se ouvir a ressonância na câmara de combustão do E2, porque os motores GTF são muito menos ruidosos, de forma que o “som de baleia” pode ser percebido.

O que são câmaras de combustão?

A força que impulsiona a aeronave para frente é resultante da compressão do ar atmosférico até pressões elevadas. Essa força age porque o ar é queimado no interior do motor, reação química que libera energia, sendo ejetado a altíssimas velocidades, empurrando a aeronave para frente. A queima, ocorre nas câmaras de combustão.

Dentro do complexo intricado da carenagem do motor de uma aeronave moderna, o ar sugado pelo fan (parte do motor que você consegue ver girar, quando está em funcionamento), até atingir a traseira do motor, passa por várias regiões, tais como:

  1. Fan 
  2. Vários estágios de compressores (pressurizando o ar)
  3. Câmara de combustão, como dissemos, onde ocorre a mistura de ar a alta pressão e combustível vaporizado. O produto da combustão estará a altíssima energia e movimentará a (famosa) turbina do motor. 
  4. Assim, a turbina (ou as turbinas) é o elemento do motor que dá energia ao sistema e faz o eixo dos compressores, girarem, succionando mais ar e reiniciando o sistema. 
  5. Bico de exaustão: o gás queimado nas câmaras de combustão movimenta as turbinas e ainda precisa ter energia cinética suficiente para criar empuxo: a força que faz a aeronave mover-se para frente.

Assim, ao mover os manetes de potência para frente, os pilotos injetam muito combustível nas câmaras de combustão, passando a dar ainda mais energia para o ar succionado. 

Quanto mais energia ao ar succionado, mais rápido girarão as turbinas, mais rápido vão girar os compressores e mais ar será succionado, alimentando mais ainda o conjunto com energia e acelerando para frente a aeronave.

Imagine que para um determinado intervalo de rotação dos compressores, o ar succionado ingressará a câmara de combustão com uma frequência próxima à de ressonância da estrutura. 

O ruído da interação será o som de baleia que se ouve no E2. Importante pensar que esse ruído causado é energia que se perde no sistema.

Como distinguir o E2-195 do E1-195?

No Brasil, se desejar ouvir o barulho de baleia, além de buscar um Embraer da Azul, precisará achar o E2, que é a aeronave equipada com o PW 1700 ou 1900.

O E1, modelo mais antigo da Embraer e da Azul, tem um motor menor, mais ruidoso e não faz o ruído de baleia, então, para não se frustrar é bom saber distinguir qual é qual.

Uma das diferenças básicas é que o E2 por ser moderno, possuirá motores bem maiores que o E1. Quanto maior o motor, para a mesma categoria, mais silenciosa a aeronave.

Então o E2 terá motores enormes, com diâmetro de fan, bem maior que o do E1.

Outra diferença básica é que o E295 da Azul é mais cumprido que o E195, razão pela qual, leva até 18 passageiros a mais.

Agora, a diferença matadora que não te deixará ter dúvidas é que o E2, não tem winglets, ou pontos de asas dobradas para cima. Logo o E1, tem winglets, pontas de asa dobradas para cima.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.