Iguatu já recebeu voos da Varig, pouso de emergência em ponte e 1ª aviadora do Ceará

A obra “Aeroporto Regional de Iguatu Francisco Thomé da Frota: do Passado ao Presente” de Alfredo Cavalcante, iguatuense, engenheiro, proporciona recordações de eventos e acontecimentos ocorridos que contam a história de mais de 90 anos do aeródromo da maior cidade do centro-sul cearense.

E por isso faz-se a obra tão importante, porque o grande esforço histórico do autor ajuda a contar os primórdios da aviação do próprio estado do Ceará. Alfredo Cavalcante é um apaixonado por aviação e no seu grande esforço para acompanhar a aviação, desde a infância, ajuda a contar valiosíssimos episódios também da aviação cearense.

O livro foi lançado no último dia 19 de novembro no Ideal Clube de Fortaleza.

Início dos voos no Ceará e em Iguatu

O então campo de pouso de Iguatu apoiou o voo inaugural do Correio Aéreo Militar (CAM) da ainda aviação do Exército, criado pelo cearense criador do ITA, Casimiro Montenegro Filho. O voo inaugural entre Rio de Janeiro e Fortaleza ocorreu em 15 de fevereiro de 1933, percurso de 2800 km e 13 horas úteis de voos. A Força Aérea Brasileira (FAB) nem havia sido criada ainda.

O percurso iniciado em 15 de janeiro de 1933 entre Rio de Janeiro e Fortaleza passando por Belo Horizonte-Curvelo (MG)-Corinto (MG)-Pirapora (MG)-São Francisco (MG)-Januária (MG)-Carinhanha (BA)-Lapa (BA)-Rio Branco (BA)-Barra (BA)-Chique-Chique (BA)-Remanso (BA)-Juazeiro da Bahia (BA)-Petrolina (PE)-Juazeiro do Norte-Crato-Iguatu-Quixadá-Fortaleza.

Iguatu recebeu semanalmente os aeroplanos do CAM com regularidade até a década de 1950: “uma revolução à época pela rapidez com a qual as correspondências chegavam ao seu destino”, conforme narra o livro.

Justamente em 1933, houve desapropriação amigável de terrenos privados para a criação do Campo de Aviação de Iguatu em 06 de junho. Um dos proprietários de terrenos era o próprio Sr Francisco Tomé da Frota, que dá nome ao aeroporto.

Início dos voos comerciais

Após 1945, fim da 2ª Guerra, com a grande oferta de aeronaves e de pilotos no mundo, empresas comerciais brasileiras surgiram e começaram a explorar o serviço aéreo, criando a aviação regional em Crato, Iguatu, Sobral, dentre outros. 

Vieram os consórcios entre Real, Nacional Aerovias e Aeronorte e, posteriormente, Varig.

Em 1950, a Aeronorte é autorizada a operar entre Fortaleza-Iguatu-Juazeiro do Norte-Petrolina-Senhor do Bomfim-Feira de Santana e Salvador. Em 1954, a Aeronorte pode realizar trecho entre Fortaleza, Iguatu e o Cariri cearense com uma frequência semanal. Em 25/07/1951, é autorizada a execução da linha Fortaleza-Iguatu-Juazeiro do Norte com uma frequência semanal pela Aeronorte.

Em 04/10/1955 a companhia foi autorizada a incluir Iguatu como escala facultativa na linha São Luís-Fortaleza-Recife.

Início do Aeroclube de Iguatu e década de 1960

O aeroclube de Iguatu, escola que formou dezenas de aviadores da região, iniciou atividades na década de 60, tendo sido fundado em novembro de 1959. Em meio a acidentes com alguns alunos inclusive, o aeroclube veio a fechar ao final da década de 1960, mas deixou um legado de pessoas apaixonadas por aviação.

A aeronave em que morreu o ex-presidente Castelo Branco fizera um pouso de emergência em Iguatu próximo à ponte ferroviária.

Em 1966, a aeronave Piper (P.A.22) PT-BCA fizera um pouso forçado por perda de motor quando se aproximava para pouso em Iguatu. Quem conhece a cidade, sabe que, na saída para Icó, há uma ponte ferroviária icônica sobre o Rio Jaguaribe ladeada por rodovia, hoje CE-282.

A aeronave pertencia a um industrial de Iguatu, proprietário da conhecida empresa CIDAO, que beneficiava algodão na cidade, o ouro branco.

A aeronave era pilotada pelo Comandante Emílio Celso Moura Chagas, que salvou a todos por conseguir realizar o pouso de emergência bem próximo dos arcos da ponte ferroviária, na estrada onde há a ponte Demócrito Rocha.

Esse comandante, sua tripulação e a aeronave foram “resgatados” no dia seguinte pelo pai do piloto, o Comandante Francisco Celso Tinoco, veterano piloto da aviação cearense, que foi até Iguatu levando uma peça de reposição para tornar o PT-BCA novamente aeronavegável. O “avião de resgate” era um Piper Aztec pertencente ao Governo do Estado do Ceará.

Pois foi o mesmo Piper Aztec, pilotado por pai e filho que em 18 de julho de 1967 caiu com o ex-presidente da República, o cearense Castelo Branco, quando a aeronave se preparava para pousar em Fortaleza, retornando de Quixadá.

O Piper Aztec colidiu em voo com uma aeronave de treinamento militar, modelo Lockheed T-33, da Força Aérea. Do acidente, o piloto do T-33 pousou sem maiores problemas.

Já do Piper, dos 5 ocupantes, apenas o co-piloto Comandante Celso Moura sobrevivera.

Fim dos voos da Varig em Iguatu

Fiquei muito feliz quando li que a Varig já voara para Iguatu, também minha cidade natal. Demonstra a relevância da cidade para a aviação regional. A cidade tinha ponto de vendas de passagens e toda uma equipe de funcionários da aérea.

Da mesma forma, entre os vários acidentes e incidentes aeronáuticos que Iguatu presenciou, também houve um com aeronave Varig, conforme boa narrativa do livro de Alfredo Cavalcante.

Infelizmente, em 1974, incidente com aeronave Hawker Siddeley Hs 748 Avro finalizou a história da Varig no município. Em 24 de abril, o PP-VDP acidentou-se em Iguatu após o trem de pouso ser absorvido por um buraco na pista, causando perdas materiais: avarias na fuselagem, asas, motor direito e hélices.

Não consigo deixar de lamentar a saída da Varig de Iguatu. Motivada por esse caso, a Varig decidiu por deixar de voar para Iguatu: grande pena caso tivesse permanecido com os voos, como Juazeiro do Norte, a Varig poderia ter desenvolvido ainda mais a aviação da cidade.

Hoje o aeroporto mal movimenta a Azul Conecta, infelizmente.

Apesar disso, o centro-sul tem potencial para movimentar mais passageiros e precisa de incentivos.

Primeira aviadora de Iguatu e primeira mulher brevetada em solo cearense

O livro também traz a história da 1ª aviadora do município de Iguatu e 1ª cearense a se brevetar em solo cearense, Bernadete Mendonça. Bernadete precisou enfrentar a resistência dos pais para seguir o desejo de se tornar aviadora.

Contou com o apoio do diretor do aeroclube de Iguatu, para quem, a presença feminina ajudaria a despertar o desejo de muitos outros em se tornarem pilotos, como de fato aconteceu.

Acabou conseguindo seu brevê em 1968 e entrando para a história como a primeira mulher piloto cearense a atingir o feito em solo cearense, dado que outro cearense já havia se brevetado, mas no Rio de Janeiro nos 1940, algo que o livro também conta.

Linha aérea da TAF

Nos 1990, a TAF-Táxi Aéreo Fortaleza investiu no retorno da aviação regional a Iguatu, promovendo novamente voos entre Juazeiro do Norte e Fortaleza. A empresa é um dos pilares da aviação cearense de todos os tempos e chegou a apostar na aviação nacional, quando voou jatos médios para centenas de pessoas como o Boeing 737-200.

A TAF, criada em 1957 pelo Comandante Ariston Pessoa, é de grande importância para a aviação cearense. Tanto que o nome do seu fundador está no pujante aeroporto de Jericoacoara (Cruz-CE).

Os voos entre capital, Iguatu e Juazeiro do Norte eram realizados pelo robusto Cessa Caravan e se processaram entre 1995 e 2000.

Vários outros episódios

O livro traz ainda dezenas de outras narrativas que contam a importância do município para a aviação, dentre elas: da criação da Funceme e as experiências com chuva artificial, reformas sofridas pelo aeroporto, empresários que fomentaram a aviação no estado, frotas antigas.

Uma obra que precisa ser conhecida por qualquer apaixonado por aviação, sobretudo os cearenses.

Aeroporto de Iguatu

O aeroporto possui pista com 1422 m de comprimento por 30m de largura e ainda possui relativa baixa rigidez de pavimento.

O aeroporto teve a pista ampliada nos anos 2000 e recebeu melhoramentos em 2023, quando recebeu equipamento de indicação de rampa de pouso os PAPIs.
Hoje o aeroporto, assim como vários outros do interior cearense são outorgados ao Ceará, porém com gestão realizada pela estatal federal Infraero.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.