Um avô de quase 81 anos de idade contou a esta coluna que, "em momento infeliz, de irreflexão", deu de presente ao neto mais novo um telefone celular que custou R$ 1.500,00 em suaves prestações mensais. Foi num dos últimos dias de julho do ano passado, quando ele completou 10 anos. Desde então, o menino, que era o bamba na matemática, transferiu sua atenção dos livros para a minúscula tela do telemóvel.
Diante desse rápido impacto negativo, o avô – sentindo-se culpado pela rápida mudança comportamental do neto – passou a considerar-se um cretino. E, ao mesmo tempo, começou a ver a criança como um idiota.
O que fazer? O que fazer? – era a pergunta que! o avô se fazia, em busca de uma luz que iluminasse suas próximas atitudes diante da dependência do neto à novidade tecnológica. Alguém sugeriu:
“Há livros que tratam do problema (sim, este é um problema que só faz crescer aqui e no mundo todo). Um dos livros é de um especialista – Michel Desmurget. Seu título é “A Fábrica de Cretinos Digitais – Os perigos das telas para nossas crianças”.
Ele explica – por a + b – como os pais, os avós, os filhos e os netos são idiotizados pelo avanço dos telefones celulares, que hoje são tudo – agência bancária, igreja cristã (toda a Bíblia está num aplicativo), guia de compras, consultório médico, sala de aula, tradutor de idiomas, sala de cinema, estúdio de gravação de imagem e som, câmera de tevê para transmissão ao vivo de qualquer evento, agência de viagens e centenas de outras opções que facilitam a vida do homem moderno. Este é o lado bom da tecnologia embutida no celular.
Mas há o lado mal, que é exatamente este de que estamos a tratar neste curto texto. Com o celular na mão, uma criança de 7, 8, 10 anos torna-se, em poucas horas, presa fácil de tudo – de malfeitores cibernéticos, de pedófilos, de “bullyng” de colegas da escola; dos 14 em diante, ela já é alvo das gangues de traficantes de drogas e dos grupos que atuam na catequização ideológica de esquerda e de direita.
Com o celular na mão, dizem as pesquisas, os filhos apresentam um QI (Quociente de Inteligência) ao dos pais.
Mas chegou à praça um no livro – o “The Anxious Generatiion”, que pode ser traduzido como “A Geração Ansiosa”, do psicólogo social Jonathan Haidt, para quem um telefone celular só deve ser dado de presente aos adolescentes, e quando estes completarem 14 anos.
O livro foi motivado pelo movimento de muitas famílias em todo o mundo contra o uso do telefone móvel, que, em crianças e adolescentes, provoca queda no desempenho escolar, dificuldades na socialização, falhas no desenvolvimento cognitivo e severos riscos à saúde mental.
Estas questões têm levado cientistas à busca de uma solução que – visando ao bem-estar da criança e do adolescente – possa unir o que é bom do celular e desprezar o que de ruim há embarcado nele.