Será fácil vencer a crise e a eleição. Dependerá da decisão de Lula

Neste ano de 2024, as renúncias fiscais estão alcançando uma montanha do tamanho de R$ 546 bilhões, conforme cálculos do Instituto Justiça Fiscal.

Como derrubar a inflação, como fazer o dólar voltar à casa dos R$ 5,50 e como reajustar as contas públicas que seguem e seguirão desajustadas mesmo com o pacote de medidas anunciado na última quinta-feira, 28 de novembro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante espetaculoso pronunciamento em rede nacional de tevê?

Será fácil. Bastará pôr fim às renúncias fiscais que o governo, há 50 anos, concede a privilegiados setores da indústria nacional. Simples assim. Atentem: neste ano de 2024, essa inacreditável perda de receita está alcançando uma montanha do tamanho de R$ 546 bilhões, conforme cálculos do Instituto Justiça Fiscal.

Na quinta e na sexta feiras da semana passada, muita gente – que vive da especulação – ganhou milhões de reais com a valorização do dólar, que passou dos R$ 6. Pequenos, médios e grandes investidores compraram e seguem comprando títulos cambiais, protegendo seus ativos contra prejuízos – e esta coluna conhece alguns desses antenados cearenses.

Neste espaço, tem sido dito e repetido que não é justa nem correta uma isenção tributária que já dura meio século, como é o caso das indústrias da Zona Franca de Manaus. O ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro, economista Paulo Guedes, tentou mexer nesse vespeiro e foi mordido pelos marimbondos do poderoso lobby das multinacionais dos eletrônicos com fábricas de montagem na capital do Amazonas. Guedes abandonou a ideia, que, no atual governo Lula da Silva, nem cogitada é.

A Nação brasileira é, na expressão cunhada pelo jornalista Elio Gasperi, a “viúva” de cujo cofre sacam a descoberto variados segmentos do empresariado, muitos dos quais têm ojeriza à concorrência dos produtos estrangeiros.

São poucas as áreas de excelência do setor industrial brasileiro, e uma delas é, com louvor, a aeroespacial, onde reina a tecnologicamente inovadora Embraer, terceira maior fabricante mundial de aviões, disputando e ganhando mercado das gigantes Airbus, europeia, e Boeing, norte-americana. Outra área industrial de excelência é a de papel e celulose, onde o Brasil também é protagonista no mundo.

Quem investe e produz neste país tropical estará atento ao que acontecerá hoje e nas próximas duas semanas como consequência da reação negativa do mercado ao pacote de gastos do governo e do que fará com ele o Congresso Nacional, que o apreciará a partir de amanhã.

O Boletim Focus, que o Banco Central divulgará logo mais às 8h30, como faz todas as segundas-feiras, trará as projeções de 100 economistas das principais empresas e consultorias financeiras do país sobre a inflação, os juros e o crescimento econômico. Esse boletim, certamente, virá com más notícias para quem precisa delas para planejar seus investimentos.

Na semana passada, o Boletim Focus projetava, para este 2024, uma inflação de 4,63%. Há quatro semanas, essa mesma projeção era de 4,50%.

Para amanhã, terça-feira, 3, a agenda econômica desta semana marca a divulgação do PIB do terceiro trimestre deste ano. A expectativa é que ele venha com um avanço de 0,9% em relação ao do PIB do segundo semestre.

Na quinta-feira, 5, o presidente Lula irá a Montevideo para a reunião da cúpula do Mercosul. O presidente da Argentinam, Xavier Milei, que não compareceu à reunião anterior, prometeu estar presente.

BANCO CENTRAL TROCARÁ PRESIDENTE E DIRETORES

Além de novo presidente, o Banco Central do Brasil terá, em janeiro, novos diretores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou, sexta-feira, 29, o economista Nilton David, “head trader” do banco Bradesco, para assumir a diretoria de Política Monetária, na qual está hoje o também economista Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência da instituição a partir do dia primeiro do próximo mês, substituindo Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerrará no dia 31 deste dezembro.

Até o fim deste ano, serão abertas outras duas vagas na diretoria do Banco Central, para as quais Lula indicou os servidores de carreira da instituição Gilneu Vivan, para a Diretoria de Regulação, e Izabela Correia, para a Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Os dois substituirão Otávio Damasco e Carolina Barros.

Essas indicações, consideradas eminentemente técnicas, foram bem recebidas pelos operadores do mercado, que também estão otimistas em relação à gestão de Gabriel Galípolo.

Vale lembrar: a função primordial da Autoridade Monetária é defender a moeda a qualquer custo, o que quer dizer manter sob controle a inflação, que mantém viés de alta, resistindo às medidas até agora tomadas.

O presidente Lula sabe que sua reeleição dependerá de como estará a inflação em 2026. Hoje ela está bem alta. Para reduzi-la, serão necessárias medidas duras, impopulares, que durarão apenas o transcurso de 2025. Em 2026, Lula colherá a vitória, se fizer o que tem de ser feito.

O PT o permitirá? – eis a dúvida.