Para efeito de relações públicas internacionais, o governo brasileiro mantém o discurso pelo desenvolvimento sustentável, ou seja, de defesa e proteção do meio ambiente, pelo intransigente resguardo da floresta amazônica, onde prosseguem as queimadas e onde, pelos rios e igarapés da região, circulam livre e fortemente armadas as facções do narcotráfico, exportando a cocaína fabricada nos países vizinhos.
Mas o discurso oficial – que privilegia a transição energética pelo uso de fontes de geração renováveis e limpas, como a eólica e a solar fotovoltaica – contradiz o Plano Estratégico da maior empresa estatal do país, a Petrobras, que, contra o parecer do Ibama, renova a ideia de investir na extração do petróleo da Margem Equatorial, que se estende desde o Amapá até o Rio Grande do Norte.
No site da Petrobras está escrito o seguinte:
“Os nossos projetos para a área aproveitam toda a experiência bem-sucedida em diversas bacias sedimentares do Brasil, como as de Campos e Sergipe-Alagoas, bem como o pré-sal. A Petrobras já perfurou mais de 700 poços na Margem Equatorial e tem como valor garantir uma atuação segura e responsável. Seguimos os mais rigorosos padrões operacionais, técnicos e de segurança buscando suprir a demanda energética da sociedade brasileira.”
E diz mais:
“Pelas características do óleo e pela estimativa dos volumes existentes, a Margem Equatorial desperta interesse não só da indústria brasileira, como também do mercado internacional de petróleo e gás, que identifica oportunidades promissoras na região que precisam ser desenvolvidas.”
Na sexta-feira, 22, em entrevista à imprensa, Magda Chambriard, presidente da Petrobras, anunciou que a empresa investirá US$ 111 bilhões no período 2025-2029, o que gerará 315 mil novos empregos diretos e indiretos. E assegurou que “o plano é extremamente factível, realista e relativamente fácil de entregar” e ainda adiantou que o total a ser investido terá, como resultado fiscal, a geração de UDS$ 254 bilhões em impostos.
De olho na ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que, com o Ibama, já se manifestou contra o projeto de exploração da Margem Equatorial, a presidente da Petrobras disse:
“É possível conciliar produção de óleo e gás com transição energética justa? Dizemos que sim, nossa produção de petróleo tem metade da pegada da média mundial, temos combustíveis cada vez mais limpos, cada vez emitindo menos, cada vez mais verde”.
Chambriard, porém, reafirmou que toda a atenção da Petrobras se mantém voltada para a exploração e produção de petróleo e gás. Outros negócios, que ela chamou de paralelos, como os ligados à geração de energias renováveis, deverão ser aprovados, mas “de forma responsável e zelando pela rentabilidade” (o lucro).
Pode parecer que não, mas a Petrobras integra a chamada indústria do petróleo, que – liderada pela Arábia Saudita e seus vizinhos do Golfo Pérsico e tendo ainda como alinhados outros produtores como Rússia, Venezuela e os EUA – quer protelar ao máximo o fim dos combustíveis fósseis e seu câmbio pelas fontes renováveis e limpas de geração de energia, como o hidrogênio verde. O petróleo reinará por mais tempo, ainda.
Os veículos elétricos são a boa colaboração que a indústria automobilística mundial empresta à transição energética, mas essa boa e ambientalmente sustentável novidade tecnológica já sofre a ação do lobby da indústria do petróleo & gás. Com a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA, há uma expectativa sobre que prioridade que terá a descarbonização do planeta no seu governo – do qual fará parte Erlon Musk, dono da Tesla, a gigante dos carros elétrico e autônomos. Trump tem fortíssimas ligações com a indústria norte-americana do Petróleo. Como se trata de um homem de cujo comportamento quase todos desconfiam, é complicado prognosticar o que o futuro governo dos EUA implementará nas suas relações com o mundo da economia, da geopolítica, da tecnologia, da inovação e das relações entre as nações. À moda Lula, Trump promete acabar em pouco tempo as guerras na Ucrânia, que já dura mais de dois anos, e no Oriente Médio, que perdura há mais de um ano.