Um grupo de empresários da indústria e da agropecuária, reunido ontem na hora do almoço, debateu sobre a questão da oferta de água em Fortaleza, tratando especificamente do alto volume de perdas, por vazamentos e outros motivos, registrado na rede de distribuição da Cagece.
Desse debate participaram alguns integrantes da recente Missão Empresarial do Ceará a Israel, de cuja programação constou uma reunião com a empresa responsável pelo controle da quantidade e da qualidade da água que abastece as cidades israelenses, inclusive sua capital, Jerusalém.
Foi dito e repetido que as perdas da Cagece chegam a ser superiores a 40%, o que, na opinião dos especialistas de Israel, inviabiliza qualquer investimento na dessalinização da água do mar.
Um empresário, que lida diariamente com questões de recursos hídricos, disse que, recentemente, uma empresa israelense veio a Fortaleza e apresentou à Cagece um sistema de controle de perdas que, bem executado, reduz para menos de 10% essas perdas (este é o percentual de perdas em Israel). E sugeriu que a Cagece indicasse uma área onde havia perdas de água para um teste do sistema.
A intenção dos israelenses deu em nada, de acordo com esse empresário, que ouviu a informação durante uma reunião na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.
Outro empresário, este do setor da tecnologia voltada para a agricultura, sugeriu que a futura unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) a ser instalada em Fortaleza tenha um curso voltado para a área de recursos hídricos, “para o que poderá contar com a expertise de alguns dos maiores especialistas brasileiros, que são cearenses, residem aqui e são constantemente chamados para solucionar problemas em outros estados”.
O mesmo empresário surpreendeu o auditório ao revelar que boa parte das perdas de água na rede da Cagece não se dá por culpa da empresa distribuidora, mas pela ação do crime organizado. Nas favelas e nos grandes bairros da periferia da capital cearense e da sede dos municípios de sua Região Metropolitana as facções do tráfico não permitem a entrada dos serviços públicos. “Nesses locais, os medidores estão sucateados e não podem ser substituídos porque os funcionários que realizam esse serviço têm medo de entrar na área”, narrou o empresário.
Mas o que pode ser feito, com a urgência que o caso requer, para a superação desses crescentes problemas? Um jovem empresário aconselhou a realização de um seminário técnico, de um dia de duração, para a discussão da questão, com a presença da iniciativa privada e de todos os organismos públicos estaduais e federais diretamente ligados aos recursos hídricos no Ceará.
Esta coluna pode antecipar que, na próxima semana, dois especialistas de uma grande empresa israelense de recursos hídricos estarão em Fortaleza para um encontro com industriais e agropecuaristas interessados em que se resolvam as questões ligadas às perdas de água da rede de distribuição da Cagece.
Esta coluna procurou a Cagece, que, em mensagem a esta coluna, se posicionou sobre o assunto, por meio do seguinte comunicado:
“A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que as ações de combate às perdas no Ceará contam com investimento da ordem de R$ 326,4 milhões na execução de obras e serviços. Desse total, R$ 149 milhões são investidos somente em Fortaleza. Atualmente, o índice total de perdas de água no Ceará está dentro da média nacional.
"Vale destacar que, do percentual de 44% de perdas de água do Ceará, 17% correspondem às fraudes, as quais estão relacionadas ao uso social irregular (ligações clandestinas).
“A companhia reforça ainda que tanto o projeto da Dessal do Ceará (projeto da usina de dessalinização da água do mar, a ser implantado na Praia do Futuro), voltado para a diversificação da matriz hídrica, quanto as ações de combate às perdas – para uma melhor eficiência na prestação dos serviços de abastecimento – são necessários para a segurança hídrica do estado, em virtude da convivência permanente com a seca.”