Por que caíram as exportações da fruticultura cearense, que perdeu espaço para a do Rio Grande do Norte? Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), dá resposta à pergunta.
Na sua opinião, “faltaram planejamento e foco, pois é uma questão que vem de alguns anos atrás para cá”, citando como exemplo a Agrícola Famosa, cuja fazenda de produção começa em Icapuí, no Ceará, e se estende até Mossoró, no Rio Grande do Norte. “Ela exporta US$ 100 milhões em melão pelo Porto do Pecém, mas a nota fiscal é emitida pela Sefaz potiguar”.
Amílcar Silveira diz que a Famosa “avançou muito lá, onde há também outras 8 ou 10 empresas de grande porte que produzem melão, e produzem com água que vem do subsolo, a 400, 500, 600 metros de profundidade, e neste particular o lado riograndense da Chapada do Apodi, do ponto de vista hídrico, é bem mais favorecido do que o lado cearense”.
Um consultor em mercado exterior confirma o que diz o presidente da Faec, acrescentando que as frutas produzidas no Polo Fruticultor de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) também são embarcadas no porto cearense de Pecém, mas a nota fiscal tem a logomarca daqueles estados.
“Os embarques no Pecém contam, pois, a favor de Pernambuco, que, aliás, passou a liderar as exportações brasileiras de frutas, vindo a Bahia em segundo lugar” – informa o consultor.
O que esta coluna apurou junto à mesma fonte é que a Agrícola Famosa tem investido no aumento de sua produção de melão no Rio Grande do Norte por causa da boa oferta de água, e só por isto.
“Não tem nada a ver com apoio ou falta de apoio deste ou daquele governo, pois a questão é simples: havendo água, há e haverá produção”, assegura a fonte, acrescentando que a produção e a exportação de melão no Rio Grande do Norte são maiores porque a oferta de água lá é maior do que a do Ceará”, diz o consultor. Na sua opinião, “tudo estará resolvido quando, e se, o Projeto São Francisco garantir a oferta hídrica para o seu Canal Norte, que traz as águas do Velho Chico para o Ceará”.
A mesma fonte revela que, em frutas, o Ceará produz e exporta não só melão, mas também banana e manga. Se houvesse maior disponibilidade de água, a fruticultura cearense voltaria a ser, certamente, a grande protagonista nacional, como já foi quando a Itaueira Agropecuária, às margens do Canal do Trabalhador, produzia e exportava melão para a Europa, os EUA e o Canadá.
Para Amílcar Silveira, o Ceará precisa de um planejamento estratégico para a sua agricultura, por meio do qual os perímetros irrigados, administrados pelo Dnocs, poderiam ser mais bem utilizados. O presidente da Faec entende que o Ceará “está numa situação de segurança hídrica razoável”, mas precisa com urgência de agregar valor aos produtos dos perímetros irrigados do Dnocs.
“Para que se compreenda melhor essa falta de planejamento, eu explico: o Baixo Acaraú, que é o perímetro irrigado de melhor performance no Ceará, concentra 80% de sua área na produção de coco, o que não é o ideal, pois o correto é cultivar produtos de alto valor agregado. Esses perímetros são ricos, têm água, como é o caso do Baixo Acaraú, mas precisam de um plano estratégico, e é o que estamos tentando fazer na Faec, mas precisamos do apoio efetivo do governo do estado, pois temos de superar a burocracia do Dnocs, que, incrivelmente, se mostra contrário à ideia de modernização dos seus perímetros irrigados”, argumenta o presidente da Faec.
Segundo ele, um dos perímetros irrigados do Dnocs, o de Varjota, por exemplo, se sua gestão fosse transferida para a Faec, seria destinado à produção de frutas de alto valor agregado exclusivamente para a exportação, gerando emprego e renda para os produtores e divisas para o Ceará”.
Mas ele se alegra com “a boa notícia que vem do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional”, que acaba de criar o Polo de Irrigação da Ibiapaba e criará o Polo de Irrigação do Cariri, “com total apoio do setor produtivo rural cearense”.
Ele se refere, também, à cajucultura, uma atividade que já liderou a pauta de exportações do Ceará e que hoje emite fortes sinais de exaustão “pela falta de um plano estratégico”.
A castanha de caju já liderou a nossa pauta de exportação, “e se hoje ainda exportamos, é porque importamos matéria prima da África por meio do ‘drawback’ (importação, livre de tributo, de mercadoria que, beneficiada, é exportada com valor agregado pelo beneficiamento).