Gigante mundial da mineração, a australiana Fortescue descobriu o Ceará há três anos, quando o Governo do Estado, a Federação das Indústrias (Fiec) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) deram-se as mãos para desenvolver o projeto de implantação de um Hub do Hidrogênio Verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
Desde a Oceania, do outro lado do mundo, os executivos da Fortescue ouviram falar da possibilidade de produzir Hidrogênio usando energias renováveis – solar e eólica – que existem em abundância aqui.
E rapidamente atravessaram o Pacífico, vieram a Fortaleza, reuniram-se com quem tocava a boa ideia do Hidrogênio Verde, conheceram o Pecém e todo o seu potencial...e criaram a Fortescue Future Industries.
Ontem, no Centro de Eventos do Ceará, esta coluna conversou com Sebastián Delgui, cujo cartão de visita o denomina Regional Manager Government Affairs Latam, ou seja, é ele quem dirige os negócios da empresa na América Latina e o faz desde seu escritório na rua Ortiz de Ocampo, 2º piso, CP1425, em Buenos Aires, Argentina.
Sebastián Delgui é um homem alto, simpático, de fácil convivência, e tanto é verdade que praticamente todos os empresários cearenses presentes ontem à cerimônia de abertura do Fiec Summit 2023 Hidrogênio Verde o cumprimentaram pelo nome e com palmadinha nas suas costas, bem de acordo com a cultura local.
Falando português com sotaque portenho, Delgui não escondeu o seu entusiasmo com o estágio em que se encontra o projeto de construção da unidade cearense da Fortescue no Complexo do Pecém. Mais do que isto: ele, em claro e bom som, disse o seguinte:
“Seremos a primeira empresa do mundo a implantar e a operar uma grande indústria de produção de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém.”
E, com a mesma simpatia com que saudou os que se aproximaram dele no Centro de Eventos do Ceará, adiantou à coluna alguns detalhes a respeito desse empreendimento.
Para começar, revelou que o projeto consumirá investimentos entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Sua unidade industrial de H2V será instalada na área da Zona de Processamento para Exportação, a ZPE-Ceará, em terreno de 130 hectares, cujo contrato de compra já foi assinado com a CIPP S/A, empresa que administra o Complexo do Pecém e da qual faz parte a ZPE.
Mais: só na produção do Hidrogênio Verde, a Fortescue prevê o consumo de 1,3 GW (gigawatts) de energias renováveis, mas suas necessidades totais alcançarão 3 GW, que serão fornecidos por cinco grandes empresas já escolhidas, “todas top do setor de energia”, como ele fez questão de dizer.
Pressionado pela coluna, Sebastián Délgui revelou que uma dessas cinco empresas – selecionadas de um grupo de 15 – será a Casa dos Ventos, controlada pelo cearense Mário Araripe.
Em que estágio se encontra o projeto da Fortescue?, a coluna quis saber. E Délgui respondeu, com outras palavras, o que se segue:
“Estamos prontos, aguardando o Licenciamento Ambiental, que é demorado. Mas seremos a primeira empresa a produzir H2V no Pecém!”.
Quem fala assim não tropeça nas palavras. O que anunciou Sebastián Délgui serve para incentivar outros players nacionais e estrangeiros que, tendo celebrado Memorando de Entendimento com o Governo do Ceará, ainda não ultrapassaram o umbral das boas intenções, isto é, não saíram da teoria para a prática.
Mas não é só a Fortescue Future Industries que está pronta para começar a construir uma indústria de H2V. A Casa dos Ventos, brasileira, e a Qair Brasil, de capital francês, também aguardam o licenciamento do Ibama para implantar, fisicamente, os seus projetos.
Ambas, a exemplo da Fortescue, já têm a energia renovável de que precisarão para separar as moléculas da água e produzir o Hidrogênio Verde. O futuro chegou!