Um especialista em energias renováveis e um consultor em agropecuária transmitiram ontem mensagens a esta coluna a respeito da informação, aqui divulgada, segundo a qual o governo do Ceará está dando, ainda com muita discrição, importantes passos na direção de um projeto de recuperação de áreas degradadas no estado.
Ambos escreveram suas ideias de como tornar produtivas as terras que se degradaram no semiárido cearense, onde, aliás, se encontram quase 90% da geografia estadual.
A primeira fonte considera “muito fácil e rápido” devolver à produção o que hoje são terras improdutivas. Ela sugere aproveitar os solos degradados para a implementação de um empreendimento que, de modo simultâneo, pode gerar energia solar fotovoltaica e desenvolver, com tecnologia, a melhor caprinocultura.
E como isso será possível? – foi a pergunta da coluna. A resposta veio nos seguintes termos:
“Em cinco hectares, por exemplo, poderemos desenvolver um projeto piloto, instalando placas fotovoltaicas sobre um telhado a cinco metros de altura do chão. Teríamos, para começar, energia elétrica disponível para movimentar uma motobomba que puxaria água do sobsolo para irrigar, sob o telhado, uma área plantada de gramíneas que alimentariam um pequeno rebanho de cabras, cujo leite seria destinado a um microindústria de lacticínios que proporcionaria renda a uma família. Lembremos que estamos tratando de um projeto piloto. Imaginem o que poderá ser obtido em um projeto de 100, 200, 500 hectares”.
O consultor em agropecuária, por sua vez, seguiu a mesma trilha, transferindo-a, porém, para o seu setor.
Ele lembrou o que está fazendo a família do empresário José Roberto Nogueira – controlador da Brisanet, maior empresa de telecom do Nordeste – que no município de Pereiro, onde está sua sede, e no seu entorno desenvolve um projeto que une a energia solar fotovoltaica à fruticultutra.
A família Nogueira mobiliza pequenos proprietários e produtores rurais em torno de um projeto que é ao mesmo tempo simples e sofisticado, porque usa o melhor da tecnologia para a produção de frutas, as quais são, em seguida, transformadas em polpa por uma unidade industrial, cuja crescente produção é totalmente absorvida pelas grandes redes nacionais de supermercados.
O projeto da família Nogueira, que pode ser desenvolvido também em áreas degradadas, aplica a mesma ideia: sob o telhado de placas solares fotovoltaicas, três ou cinco metros de altura do solo, cultivam-se árvores frutíferas de copa baixa, como a seriguela, irrigadas com água subterrânea extraída por pequenos conjuntos de motobombas”.
Segundo as duas fontes desta informação, “o Céu é o limite” para projetos de recuperação de áreas degradadas. As carências de água poderiam ser um problema, mas a moderna tecnologia da perfuração de poços e a irrigação por gotejamento, com o uso de sensores, reduzem a quase nada o consumo de água, liberando apenas o que a planta requer.
Como o governo do Ceará tem incentivado a iniciativa privada a investir na agropecuária e como o estado tem muitas áreas degradadas, está surgindo aqui uma nova fronteira agrícola.
Mas como resolver o problema fundiário, levando-se em conta que praticamente todas as áreas degradadas são de particulares?
Isso poderá ser superado pelos próprios investidores, que locariam as terras diretamente dos seus donos, ou pelo governo estadual, que, para fins de interesse público, as desapropriaria.
Mas, na opinião de proprietários rurais, a primeira opção – a do arrendamento das áreas – deverá prevalecer.
Como se observa, a economia primária do Ceará tem à sua frente uma nova fronteira a explorar, e essa exploração, por incrível que possa parecer, já dispõe já de financiamento de organismos multilaterais, como a Organização das Unidas (ONU), pois serão projetos assim, sustentáveis do ponto de vista ambiental, que descarbonizarão o planeta.