Eloi, o pai, e Gianni Bruneta, o filho, sob as graças do Espírito Santo, chegaram ao Cariri cearense em 2022. Visitaram as melhores terras da região, que ficam na bela Chapada do Araripe, 900 metros acima do nível do mar, e – após examinarem o solo e passarem em revista os dados sobre o clima e a pluviometria caririenses – tomaram as seguintes decisões:
1) comprar logo 3 mil hectares de bons terrenos na área, o que foi feito há três meses sem problemas cartoriais: 2) pedir o auxílio da Embrapa para orienta-los sobre em que culturas investir; 3) aliar-se ao Projeto Algodão do Ceará, lançado ontem, liderado pelo Governo do Estado, pela Federação da Agricultura (Faec) e pela Federação das Indústrias (Fiec) e cujo objetivo é o de devolver a este estado o protagonismo que teve no século passado, quando foi, até os anos 80, o segundo maior produtor de algodão do Brasil.
Esta colunista conversou ontem com os Brunetta, que há 40 anos produzem soja e outras culturas no estado de Mato Grosso. Sob aplausos de 150 empresários que compareceram ao café da manhã de apresentação do Projeto Algodão do Ceará no Centro de Eventos, eles confirmaram sua decisão de investir no agro do Ceará.
“Vamos começar com o cultivo da mandioca, que é uma cultura da região caririense e já desenvolvida nas terras que adquirimos, e com a soja, sobre a qual temos uma larga experiência. Daqui a dois anos, iniciaremos o projeto do algodão”, disse Gianni Brunetta, acrescentando:
“Antes de fecharmos a compra do terreno, empreendemos nele um experimento: plantamos cinco hectares de soja, cinco de milho e cinco de algodão, e o resultado foi bom, e isto nos fez adquirir a área, cujo solo é muito semelhante ao do Cerrado do Centro Oeste, que conhecemos muito bem”.
Ele informou que o resultado do experimento “foi bom”, mas exigiu a natural correção do solo, o que será replicado em toda a área a ser cultivada.
Gianni Brunetta adiantou à coluna que já negociou com a Embrapa Algodão – que tem sede na paraibana Campina Grande e unidade instalada em Barbalha, no Sul cearense – a implantação de um campo experimental que ocupará 20 hectares de suas terras. Nessa área, será feito o cultivo do algodão e de outras culturas.
Os Brunetta estão otimistas com o seu futuro na Chapada do Apodi, mas disseram à coluna que, até alcançarem o sucesso, muito investimento terá de ser feito e muito trabalho terá de ser executado.
Na Chapada do Apodi , disse Gianni Brunetta, não há qualquer estrutura para o armazenamento da produção. Tudo isso, então, terá de ser feito com recursos próprios de sua família. Mas a Faec, pela voz do seu presidente Amílcar Silveira, já manifestou o seu apoio aos Brunetta, assegurando-lhes que os técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-CE) transmitirão conhecimento e treinamento ao pessoal que trabalhará na na sua área de produção em Araripe.
Amílcar Silveira disse à coluna que, além da família Brunetta, outros produtores de algodão do Mato Grosso, do Maranhão e do Piauí também já demonstraram interesse em investir na cotonicultura cearense, atraídos pelo Projeto Algodão do Ceará. Silveira informou que há, na região do Cariri, boas terras à venda com bons solos e boa pluviometria para o cultivo em sequeiro. Cerca de 80% do algodão produzido no Centro Oeste são cultivados dessa maneira, em sequeiro (só com água da chuva).
No Ceará, na Chapada do Apodi, no Leste do estado, a Fazenda Nova Agro, do agroindustrial Raimundo Delfino, produz algodão com irrigação e em sequeiro, obtendo uma produtividade igual à dos cotonicultores de Mato Grosso e da Bahia.
No Sertão Central do Ceará, porém, a cultura algodoeira sempre foi feita em sequeiro. No Cariri, no Sul cearense, aonde chegou a família Brunetta, a expectativa é de que o algodão seja produzido por irrigação e em regime de sequeiro (na região, há um oceano de água doce que poderá abastecer a área de Eloi e Gianni Brunetta).