Na China, o mesmo ideograma que significa risco, perigo e caos também quer dizer oportunidade. Hoje, os chineses são o que são porque Deng Xiao Ping, que governou o país com mão de ferro de 1978 a 1992, empreendeu um conjunto de reformas que modernizaram sua economia, abrindo-a para os investimentos estrangeiros, principalmente norte-americanos.
Seguindo seu exemplo e usando o mesmo férreo comando, o atual presidente Xi Jinping, no poder há 11 anos, já fez da China a segunda economia do mundo. Mas, agora com mais poderes a ponto de ganhar um novo mandato que poderá ser renovado enquanto for isto necessário, Xi Jinping, já considerado o mais proeminente estadista vivo, quer mais.
Paciente e silenciosamente, ele vai ampliando seu grande projeto estratégico de alcance mundial – a rota da seda, que já chegou à América Latina – no qual o governo chinês investe em várias frentes da infraestrutura, como a da energia e a dos transportes nos seus modais ferroviário e rodoviário – depois de haver pousado na África e na Ásia.
Deve ser lembrado que, para o povo da China, tudo o que está sob o sol faz parte do império chinês. Principalmente a ilha de Taiwan, para onde fugiu, em 1949, o derrotado exército do generalíssimo Chiang Kai Shek, impiedosamente escorraçado pelo de Mao Tsé- Tung, que, vitorioso, impôs sua Revolução Cultural, sob a qual, porém, o país regrediu. Foi Deng Xiao Ping que enfrentou e venceu a guerra interna no PC chinês, reorientando o caminho político e econômico do partido e do país.
No continente latino-americano, o governo da China e suas estatais já atuam muito fortemente, tendo parceria estratégica com Argentina, Brasil, México e, obviamente, Venezuela. Com a Costa Rica, o Peru e o Chile, o governo chinês tem acordos de livre-comércio, e isto é fruto da geopolítica liderada por Xi Jinping.
Todo este longo nariz de cera é para alicerçar a ideia de que o Brasil e sua política externa devem privilegiar não só a relação com o Ocidente – os Estados Unidos e a União Europeia à frente – mas também com a China, para cujo mercado de 1,4 bilhão de consumidores já exportamos commodities minerais e agropecuárias, mas precisamos ampliar essa pauta exportadora incluindo nela produtos manufaturados, de maior valor agregado.
A Agrícola Famosa fez há dois anos um esforço para exportar melão e melancia para a China. A experiência deu certo, mas a logística de transporte revelou-se tão complicada que a operação – se continuasse – daria prejuízo pela falta de uma escala semanal de navio para levar a carga direto para os portos chineses, uma viagem de 30 a 35 dias. Assim, em vez da China, a Agrícola Famosa reorientou seu esforço para o Oriente Médio e para novos mercados da Europa, além dos EUA e Canadá.
A indústria brasileira, que reclama dos importados, já deveria estar produzindo placas solares fotovoltaicas para atender à crescente demanda de energia renovável. Como ela só reclama e não produz, os projetos tupiniquins de geração de energia solar têm de usar placas solares importadas da China. O Ceará tem matéria-prima que pode abastecer uma futura indústria de placas solares. Falta quem, com ousadia e capital, se disponha a investir nesse negócio de rápido e garantido retorno.
Brasil e China são governos que, ideologicamente, têm algo em comum, o que os torna, naturalmente, parceiros em projetos da economia. Os chineses têm expertise em áreas nas quais os brasileiros ainda patinamos, como o das modernas e rápidas ferrovias.
A China tem cerca de 50 mil quilômetros de ferrovias de alta velocidade – o trem mais rápido do mundo é chinês, ele corre a 600 km por hora. A velocidade média dos trens-bala chineses é de 350 Km.
Por quê, então, o Brasil não traz a China para construir (em menos de dois anos) a sonhada ferrovia ligando a cidade de São Paulo à do Rio de Janeiro? Os chineses projetariam, construiriam (sem a interferência de políticos) e operariam a ferrovia.
Em tempo: uma viagem de trem carregado de combustível desde o Porto do Pecém até o Porto de São Luís do Maranhão dura 48 horas. Acreditem, que é vero.