Mini-quadrilheira de 2 anos, cearense herda dos pais o amor por São João e se apresenta em festivais

Unidos pela tradição junina, Andressa Rocha e Alessandro Mesquita brilham Brasil afora com a pequena Isabel enquanto cultivam história de superação

Ninguém entende nem explica. Assim são os milagres. Assim também é Isabel Mesquita. Com dois anos e quatro meses de idade, desfila pela quadra com desenvoltura de veterana. Segue direitinho o compasso da quadrilha junina e ainda ousa soltar beijos para o público, fazendo-o realmente especial. Um encanto, uma pérola. De fato, um milagre.

A mini-quadrilheira tem história. Tinha poucas chances de estar assim, vivendo e brilhando. A mãe, Andressa Rocha, descobriu cedo problema no útero quando tentou engravidar. Entristeceu-se. Como realizar o sonho de gerar gente? E era sonho mesmo. Desejo de ver a família aumentando, quem sabe estender a magia de ser junina. Perpetuar o legado.

Lembra de muito cedo se entregar à tradição. Tinha seis anos quando despertou para atividades artísticas na escola. Ali, no Campo do América – comunidade localizada no bairro Aldeota, em Fortaleza – a pequena Andressa descobriu ser parte de algo maior: inscrevia, naqueles primeiros instantes de dança, uma longeva trajetória no São João do Ceará.

Primeiro integrou-se a uma quadrilha infantil; depois, já adulta, a outras agremiações. Hoje, aos 27 anos, diz com orgulho já ter sido membro da extinta Estação Junina e atualmente estar na Junina Babaçu. É muita coisa para contar. Do vestidinho de chita às mega-produções no figurino, vários foram os passos da brincante, todos contabilizados com orgulho.

“Já realizei muitos sonhos por meio das quadrilhas juninas. Um deles era dançar em um festival grande, que fosse muito bem reconhecido. A Junina Babaçu me presenteou com isso. Por vários anos, participamos do festival Rede Globo Nordeste, no Recife, com diversos grupos da região. Além disso, outro sonho foi conhecer muitos lugares e culturas”.

Desavisada, também acolheu um amor nesse processo. Alessandro chegou devagarinho e sempre naquela época colorida e festiva do ano. Começaram a dançar praticamente juntos. No mesmo Campo do América, dividiram escola e participaram do Grupo Folclórico. Evoluíram para projetos maiores também de mãos dadas.

Em 2010, decidiram assumir o romance. O mundo se abriu mais e mais. Nos palcos, foram noivos entre 2013 e 2016 com toda aquela beleza sentida no ar. As pessoas reagiam com entusiasmo: havia algo diferente naquele casal. Deve ser o aroma de festa que tudo movimenta, tudo alcança, tudo transforma. Deve ser o amor.

“Eu acho que tem um temperinho a mais entre casais que se formam pelo São João. Não sei explicar o que é, mas é diferente, sabe? É muito alegre e divertido a gente compartilhar tudo. Traz muito da quadra para o nosso relacionamento e, querendo ou não, a gente acaba levando nosso relacionamento para dentro da quadra”.

O maior exemplo disso é mesmo Isabel, filha dos dois. Feito o pai, chegou igualmente sem aviso, mas muito bem-vinda. Já na barriga de Andressa, cultivava o gosto por São João, mesmo durante o tempo em que a mãe deu pausa na dança – parou em 2017 para atuar nos bastidores. Neste ano, contudo, a genitora retorna suprema à pista e sempre agradecendo.

Emociona-se ao ver a filha tão desenvolta após o tempo em que pareceu desenganada: Isabel dificilmente vingaria no ventre. Mas vingou. E recebeu apoio e torcida de toda a Junina Babaçu para que desse certo, para que crescesse e florescesse. É o que há agora: menininha em cor, remexe os bracinhos e veste-se de estampa para tornar tudo ainda mais sublime.

“Foi tudo muito natural”, conta a mamãe”. “Com quatro meses de idade, ela já estava no arraiá. Gosta muito – sabe todas as músicas, entra para dançar, bate foto com todo mundo e, quando termina a festa, os fãs vêm para encontrá-la”. Também dá força à Andressa para ela continuar, embora diante dos empecilhos.

Houve um período em que a quadrilheira profissional torceu o tornozelo e por pouco não dançaria. A vontade de compor a festa, porém, era maior que o entrave: trouxe logo a cura. O médico mesmo disse: “Tua vontade de dançar é tão grande que a recuperação está sendo melhor do que eu imaginava”. Outra vez o amor.

Sim, porque ela precisa ser porto seguro para si e para Alessandro. Ele é totalmente junino: divertido, exultante, feliz. São características que a fazem ser grata pelo encontro entre os dois. É São João todo dia em casa. Igualmente, necessita ser porto seguro para Isabel, cuja rotina se equilibra entre o cotidiano de casa e a agenda de apresentações.

“Ela se adapta muito bem a tudo isso, graças a Deus. Fora do palco somos servidores públicos, mas ajustamos direitinho e vai dando tudo certo. É muito intenso e movimentado, mas tentamos dar conta do recado porque o amor pelo São João é maior”. 

Ninguém entende nem explica. Feito os milagres. O mais bonito deles. 


Esta é a história de amor Andressa Rocha pelo marido, Alessandro Mesquita; pela filha, Isabel Mesquita; e dos três pelo São João. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br


Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor